É muito
comum as pessoas enxergarem a dependência química como uma doença isolada e que
causa muitos danos e prejuízos tanto ao paciente quanto à família, mas o que
muitas vezes as pessoas não sabem é que em uma grande parcela dos casos de
dependência química na realidade se trata de um sintoma de uma doença muito
mais complexa e muitas vezes sub-diagnosticada que é o transtorno bipolar do
humor.
"A
apresentação clássica de transtorno bipolar com fases de euforia intercaladas
com fases de depressão é rara e representa a menor parcela dos verdadeiros
bipolares, apenas 1% dos casos.", diz o psiquiatra e pesquisador do
Programa de Transtornos afetivos (GRUDA) do Hospital das Clínicas da USP Dr
Diego Tavares. O médico ainda reitera: "a maior parcela dos portadores
de transtorno bipolar apresenta uma doença com uma apresentação tão grave
quanto à eufórica, mas com uma apresentação que muitas vezes é confundida com
outras doenças, porque justamente vêm com sintomas exuberantes de outros
quadros e esta parcela chega a uma frequência de 6% em alguns estudos". As
outras formas de transtorno bipolar podem cursar de várias maneiras mas muitas
delas não cursam com depressão mas com períodos de aumento de energia e
impulsividade com humor elevado (grandioso, prepotente, arrogante) mas não
eufórico, de forma que o paciente apresenta comportamentos de aumento de
impulsos e exageros que escondem o transtorno bipolar como: uso abusivo de
drogas (álcool, cocaína, maconha, etc), sexo compulsivo, roubar compulsivo, uso
abusivo de tecnologias eletrônicas como celulares e tabletes; e o jogar
compulsivo.
"A
apresentação é a mesma, o aumento de energia e a fixação mental em algum
assunto, que varia de paciente a paciente, mas no fundo representa a mesma maneira
do cérebro se alterar, que é a aceleração mental e a obstinação e o aumento de
atividade dirigida que é observável em todos os subtipos de transtorno bipolar,
variando conforme o grau e o subtipo". O grande problema destas
apresentações mais variadas da doença bipolar é que muitas vezes se observa
apenas o comportamento sem se observar a forma de apresentação, de maneira que
o tratamento pode ser profundamente modificado quando o diagnostico passa de
uma dependência química pura, em que muitas vezes as abordagens de psicoterapia
são o tratamento mais recomendado, para um diagnostico de uso de drogas
secundário ao transtorno bipolar em que a estabilização farmacológica do quadro
possui um impacto diferente no prognóstico. "Diante de qualquer quadro de
transtorno por uso de substâncias é sempre recomendado uma avaliação do quadro
psiquiátrico de maneira global buscando indícios de um transtorno do humor
subjacente. Muitas vezes os usuários de drogas apresentam alterações de humor
para agressividade e violência que são claramente associados a distúrbios do
humor mas que são negligenciados na avaliação porque o uso de drogas toma a
frente na expressão clínica".
FONTE: Psychiatry
Res. 2017
Apr 8.Substance
abuse in patients with bipolar
disorder: A systematic review and meta-analysis. Messer
T, Lammers
G, Müller-Siecheneder
F, Schmidt
RF, Latifi
S.
FONTE: Dr. Diego Tavares - Graduado em medicina pela Faculdade
de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de
Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e
Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos
do ABC (PRTOAB).
Nenhum comentário:
Postar um comentário