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quinta-feira, 25 de maio de 2017

Adolescentes e depressão pós Baleia Azul



  • Psiquiatra, especialista em suicídio, alerta para a necessidade de enriquecer diálogo e manter atenção sobre comportamento dos filhos
  • ABRATA registra aumento pela procura por grupos de apoio
  • Associação tem novo endereço

O assunto do jogo Baleia Azul e da série da Netflix, Os 13 Passos, vai deixando de ter a repercussão que ganhou nas mídias em geral. Nada mais costumeiro que a perecibilidade da notícia. 

Entretanto, a discussão em torno da depressão na adolescência e a vulnerabilidade que os estados depressivos impõem aos jovens é de suma importância e não deve ser desconsiderada. “Em 2014, a taxa de suicídio entre os adolescentes aumentou 30%, segundo a Organização Mundial da Saúde. É alarmante. Devemos aumentar a percepção sobre o comportamento desses jovens”, alerta a médica psiquiatra Alexandrina Meleiro, membro da Comissão de Estudo e Prevenção de Suicídio da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e do Conselho Científico da ABRATA – Associação Brasileiras de Apoio aos Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos.

Na visão dela, o jogo Baleia Azul e a série Os 13 Passos são, de fato, extremamente preocupantes: no primeiro, o adolescente é induzido a praticar atos de periculosidade crescente e que podem culminar no suicídio do jogador e o segundo, a série, romantiza o suicídio. “O Baleia Azul, por exemplo, pode sim deflagrar uma crise que vem se engendrando silenciosamente no interior desses adolescentes”, diz.

Entretanto, ela lembra que o aumento significativo da depressão e da taxa de suicídio entre adolescentes está diretamente associado a um cenário que vem se formando ao longo do tempo: “os núcleos familiares mudaram muito, com pais separados, sobrecarregados pelas obrigações laborais, o que impacta a qualidade da atenção dada aos filhos. Vemos também um processo de terceirização da educação, dando à escola a incumbência de educar. Além disso, a tecnologia disponibiliza qualquer informação a qualquer público, precipitando, muitas vezes, o contato com realidades que os adolescentes não têm ainda estrutura emocional para lidar”, avalia Alexandrina.

É neste cenário de intensa pressão emocional externa associada à particularidade do adolescência – um momento de transformações de toda ordem – que o adolescente mais frágil pode sucumbir à angústia. “Esses jovens estão extremamente vulneráveis a qualquer chamado, seja ele positivo ou não. Quando são negativos podem deflagrar crises e, eventualmente, terminar em suicídio. A questão do jogo Baleia Azul é pontual. Os jovens já se suicidavam antes disso. Por isso, é preciso estar atento a mudanças importantes no comportamento desses jovens. Isolamento, reclusão, mudança na maneira que se vestem, pensamentos negativos, depreciação, alterações no ciclo do sono, são questões para estar alerta”, explica.

Grupos de Apoio– A psiquiatra sugere aos pais procurar ajuda profissional sempre que necessário. “A participação de um profissional – um psicólogo ou um psiquiatra – com experiência com adolescentes pode ajudar muito os jovens e também os seus pais, definindo um diagnóstico e um eventual tratamento”, diz.




A ABRATA – Associação Brasileiras de Apoio aos Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos, organiza desde 2015 grupos de apoio específicos para adolescentes portadores de transtornos de humor (depressão e transtorno bipolar). “Tradicionalmente os grupos de apoio que organizamos estão orientados a adultos, mas identificamos um aumento significativo de consultas feitas por adolescentes muito angustiados em busca de ajuda e apoio”, diz a presidente da ABRATA, Neila Campos.
Atualmente o Grupo de Apoio Mútuo para Adolescentes - o GAMA acontece às quintas- feiras, das 19 às 20:30 horas, quinzenalmente na unidade da ABRATA em São Paulo. “É importante deixar claro que não se trata de terapia de grupo, mas um espaço terapêutico onde se pode falar sobre a doença e todo o universo relacionado à ela”, explica a neuropsicóloga Lucy Sposito, uma das facilitadoras que participa dos grupos. “Para participar é necessário fazer inscrição por telefone, e em geral quem faz isso são os pais, que frequentam o Grupo de Apoio Mútuo de Família”.
Segundo Lucy, expor-se não é tarefa fácil para os jovens. “Hoje sabemos que a depressão atinge um número significativo de jovens e essa moçada prefere expor suas experiências e seus sentimentos nas redes sociais. No caso do suicídio, o assunto é falado de maneira franca, pelos jovens que vêm ao grupo, e que de acordo com a frequência, vão estabelecendo uma relação de confiança”, avalia.
Nova sede - Este mês a ABRATA mudou de endereço. A nova sede da associação fica na Rua Dr. Diogo de Faria, 102, na Vila Clementino. Associação civil, sem fins lucrativos, com 17 anos de existência, a ABRATA está voltada à necessidade de atender pessoas com depressão e o transtorno bipolar, assim como seus familiares e amigos. A associação possui um conselho científico composto por 10 profissionais, que norteia toda a sua atuação. “Nossa missão é levar esperança, acolhimento, apoio e educação para a melhoria da qualidade de vida às pessoas com transtornos de humor e seus familiares”, explica Neila.
No ano passado, a ABRATA alcançou 3 milhões de pessoas com as atividades promovidas e informações distribuídas. “Temos hoje cerca de 6 mil associados entre familiares e pessoas que apresentam depressão e transtorno bipolar. Nossa gestão é feita por familiares e portadores no modelo de voluntariado”, explica Neila. Além dos grupos de apoio às pessoas com o diagnóstico de depressão e transtorno bipolar e a familiares, a associação tem uma intensa agenda de atividades psicoeducacionais, palestras e encontros.



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