Segundo
especialista, número de testes necessários para rastrear o vírus da AIDS na
população é muito superior à capacidade laboratorial instalada
Para dar
conta de rastrear toda a população suscetível à infecção por HIV, o Brasil
teria que realizar um total de 144,9 milhões de testes anualmente. O montante,
correspondente aos estimados 70% da população que é sexualmente ativa, é muito
maior do que a capacidade laboratorial existente no País, tornando a expansão
do acesso ao diagnóstico um desafio para a saúde pública. É o que aponta Miriam
Franchini, especialista em laboratórios de Infecções Sexualmente
Transmissíveis, AIDS e Hepatites Virais.
“Em um âmbito
global, seriam precisos 5,3 bilhões de testes todos os anos para garantir essa
cobertura da população sexualmente ativa, um cenário que torna a garantia de
acesso ao diagnóstico um desafio para a saúde pública”, conta.
De acordo
com os dados mais recentes para o Brasil, lançados pelo Ministério da Saúde no
Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2016, estima-se que 827 mil pessoas vivam com
HIV/AIDS no País. Mais do que isso, o boletim aponta que a epidemia tem se
concentrado principalmente entre populações vulneráveis e nos mais jovens, com
uma mudança importante na razão entre os sexos, de 1,0 caso em mulher para cada
1,2 casos em homem em 2006 para 1 caso em mulher para cada 3 casos em homens em
2015. Entre os jovens do sexo masculino, a infecção cresce em todas as faixas
etárias. Na população de 20 a 24 anos, por exemplo, a taxa de detecção subiu de
16,2 casos por 100 mil habitantes, em 2005, para 33,1 casos em 2015.
“No
contexto em que vivemos os testes Point of Care, também conhecidos como testes
laboratoriais remotos, aparecem como aliados para alcançar espectros maiores da
população. Eles utilizam amostras diferentes, como plasma, sangue, fluidos
orais e urina e são apontados pela ONU como alternativa de alta qualidade,
fácil utilização e de baixo custo. Esses testes podem ser feitos fora dos
laboratórios, produzindo resultados em menos de 30 minutos e sem a necessidade
de equipamentos”, pontua Miriam.
Informação
rápida
Segundo a
especialista, esse tipo de teste é descartável e de uso individual, permitindo
que sejam utilizados em locais que não têm infraestrutura laboratorial, locais
de difícil acesso, em programas de saúde pública, como os serviços de
pré-natal, e em grupos chave tais como homens que fazem sexo com homens,
usuários de drogas ilícitas e profissionais do sexo. Além disso, os testes POC
podem ser armazenados em temperatura ambiente e por períodos considerados
longos.
“Os
resultados acessados rapidamente também permitem intervenções rápidas, uma vez
que tiram a possibilidade de evasão antes do resultado e contribuem para
melhorar a resolutividade do atendimento nos serviços de saúde. No Brasil, os
testes rápidos para HIV são distribuídos desde 2005 pelo Ministério da Saúde e
são regulados por diretrizes ministeriais que estabelecem a sensibilidade e a
especificidade aceitáveis, assim como outros parâmetros”, explica Miriam.
A expansão
do acesso ao diagnóstico via Point of Care é um dos desafios da saúde
brasileira e a ideia é que esses testes possam ser realizados por profissionais
treinados principalmente fora do ambiente laboratorial. Levar a possibilidade
de testagem para uma fatia cada vez maior da população é importante em uma
realidade como a do Brasil, em que 112 mil dos 827 pacientes com HIV/AIDS não
sabem que carregam o vírus, de acordo com o boletim do Ministério da Saúde.
"Para
tanto é necessário o trabalho em três frentes: desmistificação do diagnóstico,
garantia de testagem de populações-chave para controle da pandemia e atuação
para levar esses testes às pessoas que não têm acesso aos serviços de saúde.
Mais do que isso, tanto órgãos reguladores, quanto produtores destes testes
precisam investir em programas de controle de qualidade perenes visando a
manutenção e aprimoramento dos produtos, a constância da qualidade de
cada lote produzido e entregue nos serviços e também do desempenho dos
profissionais que realizam os testes, tudo para garantir a qualidade do
diagnóstico da infecção”, finaliza.
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