Em todo país, são mais de 8 milhões
de condutores acima de 60 anos
Eles correspondem a cerca de 8% do total da população
brasileira. Em 2060, porém, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) projeta que passem a representar 26,7%, o
que significa dizer que um em cada quatro brasileiros terá mais de 65 anos.
Para se ter ideia da magnitude das estatísticas, dados nacionais do Ministério
das Cidades de setembro de 2016 revelam 8.661.195 condutores habilitados, entre
61 e 90 anos, em todas as categorias. O rápido envelhecimento da população
brasileira – que segue uma tendência global - lança luz sobre novos desafios e
configurações socioeconômicas. Um dos cenários que deve se adaptar a esta
realidade é justamente o trânsito, que levou 6.491 idosos ao óbito apenas em
2013, equivalente a 15% do total de vítimas fatais daquele ano. Deste total,
39% eram pedestres, enquanto 22% eram ocupantes de automóveis.
Os números de óbitos e acidentes, porém, não extinguiram a
paixão de motoristas como Adamor David por dirigir. Aos 72 anos, ele é um
entusiasta convicto das quatro rodas e esteve, ao longo de mais de cinco
décadas, atrás do volante de ônibus, viaturas e caminhões. Hoje dirige uma van,
que transporta diariamente alunos de Matinhos, no litoral do Paraná, para
Curitiba. O percurso costuma ser de 220 Km mas, aos fins de semana chega a 700
Km e supera nove horas de viagem, quando Adamor leva grupos para retiros
religiosos ou excursões turísticas a Foz do Iguaçu.
Se a convivência intensa com a estrada nunca foi motivo de
insatisfação, o passar dos anos tampouco. “Acho que nasci dentro do carro,
porque meu único vício é dirigir. Antes não ficava tão cansado na estrada como
agora, mas ainda assim faço pausas e já me sinto renovado para seguir”, conta.
A experiência adquirida com a prática é, para ele, uma garantia a mais para não
se envolver em acidentes. “Quando você confia na sua direção, o risco vem mais
dos outros. Por isso sou cauteloso. Evito conversar com os passageiros e
confiro se todos estão sempre com cinto de segurança”, destaca.
Espaços públicos não garantem segurança necessária aos idosos
no trânsito
Os
idosos pedestres, cuja mobilidade é considerada reduzida, responderam
por 30% dos casos de atropelamentos do Brasil em 2010, conforme revela o Ministério da Saúde. Números
como esse reforçam a necessidade de os espaços públicos se prepararem para
garantir o deslocamento e acessibilidade desses e dos demais usuários. “Quando
o pedestre é idoso, acessos precários com calçadas esburacadas e falta de
iluminação exigem cuidado redobrado para evitar quedas. No transporte coletivo,
a altura elevada do piso é uma barreira a ser transposta, assim como os ruídos,
que dificultam a audição, e o excesso de velocidade ou frenagem brusca, que
geram insegurança”, esclarece a especialista em trânsito da Perkons, Idaura
Lobo Dias. Para favorecer a caminhada, a especialista indica iniciativas como a
criação de calçadões (ruas só para pedestres) e a redução das distâncias de
travessias (ilhas de segurança). Já o uso de dispositivos redutores de
velocidade (traffic calming e fiscalização eletrônica) é, para Idaura,
decisivo tanto para idosos pedestres, quanto para os motoristas.
A
especialista lembra ainda que a legislação de trânsito não prevê uma idade para
a retirada da concessão da habilitação, mas apenas a idade mínima para começar
a dirigir (18 anos). “A única referência a quem tem mais de 65 anos é que seja
feita avaliação médica a cada três anos. Mas, é importante lembrar que os
organismos são diferentes. Por isso, o médico da família saberá orientar quando
houver riscos, bem como o médico que habilita e renova a Carteira Nacional de
Habilitação”, orienta.
Para o geriatra do Hospital Samaritano de São Paulo, Danilo
Bernardinello, diminuir o intervalo dos exames médicos é uma maneira de antever
quando déficits inerentes ao envelhecimento se tornam um risco iminente de
acidente. “Além da visão, é importante avaliar o grau de audição; de
independência, pois idosos extremamente dependentes tendem a apresentar
reflexos mais lentos; e o estado cognitivo do idoso, pelo qual avaliamos a
orientação no tempo e no espaço e déficits de memória”, elucida. O surgimento
de doenças que alteram a função cognitiva – caso do Alzheimer – também tende a
apresentar-se, em alguns casos, como uma situação de risco. “São muito
importantes a participação e o entendimento da família para apoiar a orientação
médica. Se a opção for pelo idoso continuar dirigindo, a melhor prevenção é
evitar horários noturnos ou de rush, vias com velocidade muito elevada,
alto fluxo de carros e aquelas onde circulam muitos ônibus e caminhões”,
orienta.
Cuidados como esses já estão incorporados à rotina de Orestes
De Bortoli, que aos 85 anos se orgulha por nunca ter se envolvido em acidentes
de trânsito nos mais de 40 anos em que é habilitado. Indagado sobre já ter
vivenciado episódios de preconceito por conta da idade, ele é categórico:
desrespeito não se destina a uma faixa etária específica. “As pessoas nem
prestam atenção se quem está dirigindo é um idoso ou não, e já saem xingando”,
completa. Para ele, somados à quantidade de carros circulando, o descaso e a
falta de atenção dos motoristas tornam o trânsito mais violento. “Na maioria
das vezes, acidentes acontecem por falta de cuidado. Por isso, dificilmente
ouço falar de idosos que causaram um acidente, pois temos mais experiência e
responsabilidade”, opina.
Arquivo Pessoal
Há 43 anos habilitado,
Orestes De Bortoli procura sempre dirigir em baixa velocidade
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