A CMV permanece como uma causa
importante de morbidade ocular e um dos principais agentes causadores de
cegueira em pacientes com AIDS
As políticas
públicas e ações na luta contra a AIDS no Brasil, estabelecidas desde a criação
do Programa Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde, conquistaram o
respeito e o reconhecimento da UNAIDS, Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV/AIDS, como referência no combate à epidemia.
No Brasil
destaca-se a universalização do tratamento, através da Lei N° 9.313 de 1996,
que estabelece a distribuição gratuita dos medicamentos necessários aos
portadores do vírus HIV.
Apesar dos avanços,
desde 1980 até junho de 2014, foram registrados 757 mil casos de AIDS no Brasil
e, somente até 2013, mais de 278 mil óbitos em decorrência de doenças
associadas ao HIV. Muitas ações ainda precisam ser feitas para prevenção,
diagnóstico e acesso ao tratamento.
“Como o HIV provoca um colapso do sistema
imunológico, todos os órgãos ficam suscetíveis à infecção, incluindo os olhos.
Pessoas com HIV que conseguem manter sua imunidade alta são menos propensas a
desenvolver problemas oculares relacionados com o sistema imunológico suprimido.
No entanto, 70% dos pacientes com distúrbios avançados em decorrência da AIDS
apresentam problemas oculares”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454),
diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
De acordo com a
oftalmologista Roberta Velletri (CRM-SP 113.044), que também integra o corpo
clínico do IMO, os problemas oculares relacionados à AIDS podem
incluir:
Retinopatia
associada ao HIV
“Esta é a doença
ocular mais comum em pessoas com AIDS. Pequenas hemorragias e manchas em flocos
de algodão (manchas brancas, como resultado de uma obstrução dos vasos
sanguíneos) são vistas na retina. O vírus HIV é diretamente responsável por
essas alterações nos pequenos vasos sanguíneos na retina”, explica a médica.
Retinite por
CMV
A infecção ocular
mais grave que ocorre em cerca de 20-30% das pessoas com AIDS é a retinite por
CMV, causada por um vírus chamado citomegalovírus (CMV). “Ocorre geralmente em
pessoas que estão em estágios mais avançados da AIDS, onde a contagem de
células T é muito baixa. Os sintomas incluem edema da retina, hemorragia e
perda de visão. Se não diagnosticada e tratada, a CMV pode causar perda severa
da visão dentro de poucos meses. A retinite por CMV não pode ser curada, mas a
progressão do vírus pode ser retardada com medicação”, afirma a oftalmologista.
A CMV permanece como
uma causa importante de morbidade ocular e um dos principais agentes causadores
de cegueira em pacientes com AIDS. Os sintomas dependem da localização e do
grau de comprometimento retiniano. De maneira geral, o comprometimento ocular
inicia-se em um dos olhos; porém, sem tratamento sistêmico específico ou
reconstituição imune, pode se estender ao olho contralateral.
“As apresentações
clínicas mais comuns incluem escotomas, redução da acuidade visual e, menos
frequentemente, perda visual súbita. Ressalta-se, entretanto, que
aproximadamente 15% dos pacientes com doença ativa podem ser assintomáticos. O
diagnóstico é clínico e baseia-se no aspecto da lesão retiniana, bem como em
dados clínicos e laboratoriais de imunodepressão avançada. Recomenda-se
fundoscopia sob dilatação pupilar para a detecção de lesões periféricas”,
orienta a médica.
Descolamento
de retina
A CMV pode causar,
algumas vezes, o descolamento da retina, onde a retina se afasta, ou se separa
da parte de trás do olho. “Um descolamento de retina é um problema grave que
causa perda rápida de visão se não for tratado. A maioria dos descolamentos de
retina são tão graves que, muitas vezes, a cirurgia não consegue colocar a
retina de volta em sua posição correta”, diz Velletri.
Sarcoma de
Kaposi
Sarcoma
de Kaposi é um tipo de câncer que acomete as camadas mais internas dos vasos
sanguíneos. Além das lesões na pele, podem surgir outras semelhantes nos
gânglios, no fígado, nos pulmões e por toda a extensão da mucosa intestinal
(provocando sangramentos digestivos) e dos brônquios.
“É
comum também elas se instalarem na parte interna das bochechas, gengivas,
lábios, língua, amídalas, olhos e pálpebras. A doença é rara em pessoas com o
sistema imunológico íntegro, mas é uma complicação comum na AIDS”, diz a
oftalmologista.
O tratamento do
sarcoma de Kaposi inclui quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e drogas
para inibir a formação de novos vasos sanguíneos. Medicamentos antirretrovirais
contra o HIV diminuem o risco da doença nos portadores desse vírus e ajudam a
promover a regressão das lesões.
Carcinoma de
células escamosas da conjuntiva
“Este é um tumor da
conjuntiva, membrana fina que cobre o branco do olho. Estudos têm mostrado que
esta condição está relacionada com a infecção por HIV / AIDS,
à exposição prolongada à luz solar e à infecção com o vírus do papiloma humano (HPV). O diagnóstico precoce dessa condição é muito importante, pois existe grande pleomorfismo entre as diversas apresentações clínicas dos tumores conjuntivais”, explica a oftalmologista.
à exposição prolongada à luz solar e à infecção com o vírus do papiloma humano (HPV). O diagnóstico precoce dessa condição é muito importante, pois existe grande pleomorfismo entre as diversas apresentações clínicas dos tumores conjuntivais”, explica a oftalmologista.
Aumento do
risco de várias infecções oculares
Um grande número de
infecções oculares, algumas associadas a doenças sexualmente transmissíveis e
outras não podem ser mais comuns em pacientes com HIV. “Algumas destas
infecções podem incluir os vírus do herpes, a gonorreia, a clamídia, a
toxoplasmose, a Candida, o Pneumocystis, a Microsporidia, dentre outros.
Estas infecções podem ameaçar a visão e necessitam de tratamento por um
oftalmologista”, diz Roberta Velletri.
Como as
doenças oculares relacionadas ao HIV são tratadas?
O tratamento das
doenças oculares relacionadas com o HIV depende de cada doença em particular.
“No entanto, os pacientes que mantêm a imunidade alta e fazem uso dos
medicamentos retrovirais estão em menor risco de desenvolver esses problemas. O
que é importante que o portador de HIV saiba é que os olhos são órgãos
sensíveis ao vírus e que o acompanhamento oftalmológico deve fazer parte do
tratamento da doença, visando detectar quaisquer problemas o mais cedo
possível”, orienta a médica.
Segundo Roberta
Velletri, quando a pessoa sabe que é portadora do HIV / AIDS, ela deve
consultar o oftalmologista imediatamente se perceber alterações na visão, tais
como:
- Manchas ou "teias de aranhas" flutuantes;
- Luzes;
- Pontos cegos ou visão turva.
IMO, Instituto de
Moléstias Oculares: http://www.imo.com.br/home.aspx - Email: imo@imo.com.br - https://www.facebook.com/imosaudeocular
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