Para patologista, grande parte das pessoas
negligencia sintomas que podem apontar enfermidades graves
A maior parte dos brasileiros desconhece as principais
doenças da boca e negligencia sintomas importantes. O alerta é da médica Eliane
Pedra Dias, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro da
Sociedade Brasileira de Patologia (SBP). A médica especialista em patologia
oral ressalta que esse desconhecimento pode chegar a ser perigoso, já que as
doenças bucais podem ter diferentes graus de complexidade e gravidade.
“A boca, como qualquer outra parte do nosso corpo, está
sujeita a diversos tipos de doenças, algumas bem perigosas. Muitos não sabem
que o câncer também pode ocorrer na boca. Essa doença é indolor no estágio
inicial e sua possibilidade de cura ou melhor controle está diretamente
associada a um diagnóstico precoce”, conta.
Deixando para
depois
Um dos principais efeitos de ignorar alterações na boca
é a demora na busca por ajuda profissional especializada. Muitas pessoas
preferem conviver com sintomas incômodos em vez de procurar um médico ou um
dentista, preferencialmente um estomatologista (profissional especializado em
doenças da boca).
“Essa mistura de evitar apoio médico e desconhecimento
também tem como efeito o autodiagnóstico e, consequentemente, a automedicação.
Muitas pessoas recorrem a tratamentos indicados por amigos e parentes, o que
pode ser um risco. Mesmo que não sejam necessariamente prejudiciais para a
saúde do paciente, essas alternativas podem retardar o diagnóstico e o início
de um tratamento adequado e com resultados eficientes”, comenta a médica da
SBP.
Risco
da negligência
A demora na busca por apoio médico e odontológico pode
trazer riscos variáveis para a saúde do paciente, dependendo da complexidade e
gravidade da doença em questão. Esse risco pode ir do mínimo, como no caso de aftas
que podem melhorar em uma semana, até elevado, caso de feridas e câncer de
boca.
“Existem ainda complicações associadas. As mesmas aftas
devem ser tratadas com atenção se forem persistentes, recorrentes ou em grandes
tamanhos. Outro exemplo é a herpes labial. As feridas cicatrizam em até 15 dias
independentemente de qualquer tratamento, mas, em pacientes com AIDS, podem
persistir como úlceras que não cicatrizam. Com tantas variáveis possíveis, o
acompanhamento de um profissional é fundamental”, explica a especialista.
Profissional
do diagnóstico
Depois da identificação de alguma anormalidade, entra
em cena o patologista oral, especialista responsável por analisar materiais
biológicos coletados por raspagem, punções ou biópsias. Depois de uma avaliação
detalhada dessa amostra, ele pode emitir o laudo que definirá qual é a doença,
ajudando inclusive a traçar a conduta terapêutica.
“Por causa desse papel fundamental do patologista, é
importante a preocupação com o número de especialistas, que precisa acompanhar
o crescimento de outras especialidades. No caso da patologia e citopatologia
oral, o número de especialistas dentistas ainda é muito pequeno, o que pode
prejudicar a realização de exames em um futuro próximo”, finaliza.
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