Personagem da novela Sete Vidas, da Rede Globo, suscita discussões
sobre o aumento do número de mulheres viciadas em trabalho e o impacto desta
realidade na vida pessoal e na saúde dessas workaholics
Irene é uma
publicitária integralmente focada em seu trabalho, o que a faz ter um
relacionamento frio e distante com seu namorado e familiares. Após receber uma
promoção no emprego, se vê ainda mais estressada, fato que acaba por
desencadear o fim de seu namoro. Esta é a história de uma personagem da nova novela
da Globo, Sete Vidas. Poderia, no entanto, ser a situação de qualquer uma das
tantas mulheres que chegam ao consultório da psicóloga Sônia Eustáquia. “A
competitividade no mercado de trabalho é grande. Se há muita exigência para os
executivos, irá existir também para as executivas. E algumas mulheres acabam
escondendo seus conflitos internos atrás do volume de trabalho. Afinal,
trabalhar é uma excelente desculpa social e financeira. Quem não admira uma
pessoa de sucesso e trabalhadora?”, pondera a psicóloga.
No caso da
personagem da novela, por exemplo, o trabalho é a “desculpa” para não ter
filhos, o que gera o conflito com o parceiro. De acordo com Sônia não é incomum
que o casamento seja o primeiro pilar a balançar na vida de uma workaholic, ou viciada em
trabalho. “Os maridos querem uma esposa que idealizaram há tempos, aquela
carinhosa, solícita e doce, que lhe pergunta como foi dia e escuta com
atenção. Mas hoje as mulheres são diferentes. Trabalham muito e se priorizam em
detrimento das atividades do lar e do marido”, avalia a psicóloga lembrando que
os desejos das mulheres atuais em conflito com ideias tão arraigadas na nossa
cultura acaba fazendo com que elas se sintam mais estressadas e pressionadas.
Não por um
acaso, ser uma pessoa workaholic
é uma situação totalmente diferente para homens e para mulheres. “Os homens já
foram aculturados e preparados socialmente para serem provedores
financeiros do lar e a consequência disso é uma aceitação tácita dele fora de
casa, trabalhando. Quando trabalha mais do que o comum, costuma até ser
mais respeitado em casa e livre de alguns afazeres domésticos. Ele tem mais
liberdade para fazer essa opção. Já a expectativa da sociedade quanto às
mulheres, passa muito mais no que elas vão corresponder pelos afazeres enquanto
provedora do lar do que pela carreira que estão construindo”. Com isso, as
mulheres acabaram optando pela multifunção: trabalham fora, cuidam da casa, dos
filhos, da vaidade e ainda precisam manter uma vida sexual ativa e saudável.
Com tamanha
sobrecarga, nem sempre é possível dar a mesma atenção a todas a áreas e uma
hora o corpo reage. “A maioria das mulheres chega ao consultório por
encaminhamento médico, após apresentar algum sintoma físico. Uma boa terapia de
apoio seguida de um período de análise é o melhor investimento que uma pessoa
pode fazer para si mesmo. O objetivo é conseguir sentir-se melhor, livrar-se
das culpas, obter autoconhecimento, e resignificar possíveis traumas ou
recalques. Enfim: libertar-se”, propõe Sônia.
A psicóloga faz ainda um alerta:
“Uma workaholic
sublima toda a sua energia para um único objeto. No caso, o trabalho. Uma
pessoa com um relacionamento saudável com o trabalho saberá distribuir bem essa
energia entre todos os outros objetos de sua vida, ou seja, trabalho, casa,
marido, filhos e etc. É importante não confundir uma pessoa viciada em trabalho
com aquela que simplesmente ama o que faz”, encerra Sônia.
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