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sábado, 18 de abril de 2015

Quando o trabalho vira vício




Personagem da novela Sete Vidas, da Rede Globo, suscita discussões sobre o aumento do número de mulheres viciadas em trabalho e o impacto desta realidade na vida pessoal e na saúde dessas workaholics

Irene é uma publicitária integralmente focada em seu trabalho, o que a faz ter um relacionamento frio e distante com seu namorado e familiares. Após receber uma promoção no emprego, se vê ainda mais estressada, fato que acaba por desencadear o fim de seu namoro. Esta é a história de uma personagem da nova novela da Globo, Sete Vidas. Poderia, no entanto, ser a situação de qualquer uma das tantas mulheres que chegam ao consultório da psicóloga Sônia Eustáquia. “A competitividade no mercado de trabalho é grande. Se há muita exigência para os executivos, irá existir também para as executivas. E algumas mulheres acabam escondendo seus conflitos internos atrás do volume de trabalho. Afinal, trabalhar é uma excelente desculpa social e financeira. Quem não admira uma pessoa de sucesso e trabalhadora?”, pondera a psicóloga. 
No caso da personagem da novela, por exemplo, o trabalho é a “desculpa” para não ter filhos, o que gera o conflito com o parceiro. De acordo com Sônia não é incomum que o casamento seja o primeiro pilar a balançar na vida de uma workaholic, ou viciada em trabalho. “Os maridos querem uma esposa que idealizaram há tempos, aquela carinhosa, solícita  e doce, que lhe pergunta como foi dia e escuta com atenção. Mas hoje as mulheres são diferentes. Trabalham muito e se priorizam em detrimento das atividades do lar e do marido”, avalia a psicóloga lembrando que os desejos das mulheres atuais em conflito com ideias tão arraigadas na nossa cultura acaba fazendo com que elas se sintam mais estressadas e pressionadas.
Não por um acaso, ser uma pessoa workaholic é uma situação totalmente diferente para homens e para mulheres. “Os homens já foram  aculturados e preparados socialmente para serem provedores financeiros do lar e a consequência disso é uma aceitação tácita dele fora de casa, trabalhando. Quando trabalha mais do que o comum, costuma até ser  mais respeitado em casa e livre de alguns afazeres domésticos. Ele tem mais liberdade para fazer essa opção. Já a expectativa da sociedade quanto às mulheres, passa muito mais no que elas vão corresponder pelos afazeres enquanto provedora do lar do que pela carreira que estão construindo”. Com isso, as mulheres acabaram optando pela multifunção: trabalham fora, cuidam da casa, dos filhos, da vaidade e ainda precisam manter uma vida sexual ativa e saudável.
Com tamanha sobrecarga, nem sempre é possível dar a mesma atenção a todas a áreas e uma hora o corpo reage. “A maioria das mulheres chega ao consultório por encaminhamento médico, após apresentar algum sintoma físico. Uma boa terapia de apoio seguida de um período de análise é o melhor investimento que uma pessoa pode fazer para si mesmo. O objetivo é conseguir sentir-se melhor, livrar-se das culpas, obter autoconhecimento, e resignificar possíveis traumas ou recalques. Enfim: libertar-se”, propõe Sônia.
A psicóloga faz ainda um alerta: “Uma workaholic sublima toda a sua energia para um único objeto. No caso, o trabalho. Uma pessoa com um relacionamento saudável com o trabalho saberá distribuir bem essa energia entre todos os outros objetos de sua vida, ou seja, trabalho, casa, marido, filhos e etc. É importante não confundir uma pessoa viciada em trabalho com aquela que simplesmente ama o que faz”, encerra Sônia.

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