terça-feira, 28 de abril de 2015

Como o HIV / AIDS afeta a visão?





A CMV permanece como uma causa importante de morbidade ocular e um dos principais agentes causadores de cegueira em pacientes com AIDS

As políticas públicas e ações na luta contra a AIDS no Brasil, estabelecidas desde a criação do Programa Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde, conquistaram o respeito e o reconhecimento da UNAIDS, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS, como referência no combate à epidemia.
No Brasil destaca-se a universalização do tratamento, através da Lei N° 9.313 de 1996, que estabelece a distribuição gratuita dos medicamentos necessários aos portadores do vírus HIV.
Apesar dos avanços, desde 1980 até junho de 2014, foram registrados 757 mil casos de AIDS no Brasil e, somente até 2013, mais de 278 mil óbitos em decorrência de doenças associadas ao HIV. Muitas ações ainda precisam ser feitas para prevenção, diagnóstico e acesso ao tratamento.
 “Como o HIV provoca um colapso do sistema imunológico, todos os órgãos ficam suscetíveis à infecção, incluindo os olhos. Pessoas com HIV que conseguem manter sua imunidade alta são menos propensas a desenvolver problemas oculares relacionados com o sistema imunológico suprimido. No entanto, 70% dos pacientes com distúrbios avançados em decorrência da AIDS apresentam problemas oculares”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
De acordo com a oftalmologista Roberta Velletri (CRM-SP 113.044), que também integra o corpo clínico do IMO, os problemas oculares relacionados à AIDS podem incluir:

Retinopatia associada ao HIV
“Esta é a doença ocular mais comum em pessoas com AIDS. Pequenas hemorragias e manchas em flocos de algodão (manchas brancas, como resultado de uma obstrução dos vasos sanguíneos) são vistas na retina. O vírus HIV é diretamente responsável por essas alterações nos pequenos vasos sanguíneos na retina”, explica a médica.

Retinite por CMV
A infecção ocular mais grave que ocorre em cerca de 20-30% das pessoas com AIDS é a retinite por CMV, causada por um vírus chamado citomegalovírus (CMV). “Ocorre geralmente em pessoas que estão em estágios mais avançados da AIDS, onde a contagem de células T é muito baixa. Os sintomas incluem edema da retina, hemorragia e perda de visão. Se não diagnosticada e tratada, a CMV pode causar perda severa da visão dentro de poucos meses. A retinite por CMV não pode ser curada, mas a progressão do vírus pode ser retardada com medicação”, afirma a oftalmologista.
A CMV permanece como uma causa importante de morbidade ocular e um dos principais agentes causadores de cegueira em pacientes com AIDS. Os sintomas dependem da localização e do grau de comprometimento retiniano. De maneira geral, o comprometimento ocular inicia-se em um dos olhos; porém, sem tratamento sistêmico específico ou reconstituição imune, pode se estender ao olho contralateral.
“As apresentações clínicas mais comuns incluem escotomas, redução da acuidade visual e, menos frequentemente, perda visual súbita. Ressalta-se, entretanto, que aproximadamente 15% dos pacientes com doença ativa podem ser assintomáticos. O diagnóstico é clínico e baseia-se no aspecto da lesão retiniana, bem como em dados clínicos e laboratoriais de imunodepressão avançada. Recomenda-se fundoscopia sob dilatação pupilar para a detecção de lesões periféricas”, orienta a médica.

Descolamento de retina
A CMV pode causar, algumas vezes, o descolamento da retina, onde a retina se afasta, ou se separa da parte de trás do olho. “Um descolamento de retina é um problema grave que causa perda rápida de visão se não for tratado. A maioria dos descolamentos de retina são tão graves que, muitas vezes, a cirurgia não consegue colocar a retina de volta em sua posição correta”, diz Velletri.


Sarcoma de Kaposi
Sarcoma de Kaposi é um tipo de câncer que acomete as camadas mais internas dos vasos sanguíneos. Além das lesões na pele, podem surgir outras semelhantes nos gânglios, no fígado, nos pulmões e por toda a extensão da mucosa intestinal (provocando sangramentos digestivos) e dos brônquios.
“É comum também elas se instalarem na parte interna das bochechas, gengivas, lábios, língua, amídalas, olhos e pálpebras. A doença é rara em pessoas com o sistema imunológico íntegro, mas é uma complicação comum na AIDS”, diz a oftalmologista.
O tratamento do sarcoma de Kaposi inclui quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e drogas para inibir a formação de novos vasos sanguíneos. Medicamentos antirretrovirais contra o HIV diminuem o risco da doença nos portadores desse vírus e ajudam a promover a regressão das lesões.

Carcinoma de células escamosas da conjuntiva
“Este é um tumor da conjuntiva, membrana fina que cobre o branco do olho. Estudos têm mostrado que esta condição está relacionada com a infecção por HIV / AIDS,
à exposição prolongada à luz solar e à infecção com o vírus do papiloma humano (HPV). O diagnóstico precoce dessa condição é muito importante, pois existe grande pleomorfismo entre as diversas apresentações clínicas dos tumores conjuntivais”, explica a oftalmologista.

Aumento do risco de várias infecções oculares
Um grande número de infecções oculares, algumas associadas a doenças sexualmente transmissíveis e outras não podem ser mais comuns em pacientes com HIV. “Algumas destas infecções podem incluir os vírus do herpes, a gonorreia, a clamídia, a toxoplasmose, a Candida, o Pneumocystis, a Microsporidia, dentre outros. Estas infecções podem ameaçar a visão e necessitam de tratamento por um oftalmologista”, diz Roberta Velletri.

Como as doenças oculares relacionadas ao HIV são tratadas?
O tratamento das doenças oculares relacionadas com o HIV depende de cada doença em particular. “No entanto, os pacientes que mantêm a imunidade alta e fazem uso dos medicamentos retrovirais estão em menor risco de desenvolver esses problemas. O que é importante que o portador de HIV saiba é que os olhos são órgãos sensíveis ao vírus e que o acompanhamento oftalmológico deve fazer parte do tratamento da doença, visando detectar quaisquer problemas o mais cedo possível”, orienta a médica.
Segundo Roberta Velletri, quando a pessoa sabe que é portadora do HIV / AIDS, ela deve consultar o oftalmologista imediatamente se perceber alterações na visão, tais como:

  • Manchas ou "teias de aranhas" flutuantes;
  • Luzes;
  • Pontos cegos ou visão turva.


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