O aleitamento materno em
público é bom para a mãe e a criança, enquanto “os mamaços” (como forma de
protesto) na frente das lojas e das empresas podem não ser assim tão bons para
os negócios
Amamentar em público tem sido tema de um debate
global sobre os direitos das mães e bebês x “o bom comportamento público”, ao
longo de décadas. Recentemente,
no dia 14 de abril, o prefeito de São Paulo, sancionou uma lei que assegura o
aleitamento materno em qualquer estabelecimento de São Paulo.
“Todo
estabelecimento localizado no Município de São Paulo deve permitir o aleitamento
materno em seu interior, independentemente da existência de áreas segregadas
para tal fim. Para fins desta lei, estabelecimento é um local, que
pode ser fechado ou aberto, destinado à atividade de comércio, cultural,
recreativa ou prestação de serviço público ou privado”, de acordo com o
texto. Segundo os vereadores, autores da lei, a motivação para a norma veio de
um episódio ocorrido no SESC Belenzinho, na Zona Leste, em 2013, quando uma mãe
foi constrangida por amamentar nas dependências do SESC.
“A
cidade de São Paulo deve se orgulhar da sanção dessa lei. Pouco a pouco, mães que tiveram sua dignidade ofendida
por amamentar em público têm aprendido a reagir. Elas encontraram nas redes
sociais canais apropriados para extravasarem suas emoções e compartilharem suas
vitórias e conquistas. Acompanho há algum tempo as discussões de grupos
virtuais e a discriminação
por amamentar em público é um tema recorrente entre as participantes. Eu mesmo
participei do evento de desagravo no SESC Belenzinho, no ano passado, que deu origem à lei. No entanto, precisamos ter em mente outros três aspectos
fundamentais dessa discussão: o cumprimento/fiscalização dessa lei na cidade
de São Paulo, a falta de legislação específica em outros municípios e estados e
o preconceito em relação à amamentação em público”, afirma o pediatra e
homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
É
proibido mamar?
Em mais
de três décadas de prática médica, o médico conta que a censura em relação à
amamentação em público é recorrente. “Por isso, fiz deste um tema de relevância
no meu blog
#euapoioleitematerno. As mães relatam diariamente,
pessoalmente e virtualmente, diversas formas de intimidação em relação ao ato
de amamentar em público: olhar com cara estranha, sugerir para a mãe que se
cubra ao amamentar, indicar ‘locais apropriados’ para a amamentação, olhares de
repúdio das pessoas por verem uma mãe amamentando um filho em público...”,
conta Moises Chencinski.
O
médico há três anos destaca o tema no seu blog
#euapoioleitematerno, mencionando histórias
ocorridas no Brasil e no mundo. “Quando mães e
bebês são intimidados, humilhados e constrangidos, procuramos abordar o fato, exatamente
para destacar o absurdo da situação. Por exemplo, o simples fato de uma empresa
solicitar que uma mãe amamente de uma maneira X ou Y, para se adequar às
necessidades da instituição, está errado, é bullying. As
empresas precisam investir na capacitação de seus funcionários em relação às
suas próprias políticas de aleitamento materno e às leis vigentes”, diz.
Confira
alguns textos já publicados no blog
#euapoioleitematerno:
1. Fotógrafa comemora o aleitamento materno, apesar dos inimigos virtuais…;
2. Amamentar em público ainda gera polêmica;
3. Canção para todas as mulheres que já amamentaram em público…;
4. Londres tem café especializado em amamentação, você sabia?;
5. Papa Francisco defende (outra vez) o aleitamento materno em público;
6. Fotos que mostram como realmente é bonito amamentar;
7. Um bebê com fome não pode esperar: compreender isso pode até impulsionar os negócios;
8. Locais que fazem mais que apoiar o aleitamento materno;
9. Quando você proíbe uma mãe de amamentar em público…;
10. Mulheres realizam mamaço no MIS após mãe ser proibida de amamentar;
11. Segredo da amamentação: Victoria’s Secret não aprecia seios à mostra;
12. É proibido mamar…;
13. Se você não apoia a amamentação em público, você não apoia o aleitamento materno;
14. Mães realizam “mamaço” em protesto;
15. Você tem vergonha de amamentar seu filho em público? .
Fiscalização/cumprimento da lei paulistana
“Ao ler com atenção a lei sancionada pelo prefeito de São Paulo, o cidadão percebe que cabe ao ‘Poder Executivo regulamentar no que couber a presente lei no prazo de 90 (noventa) dias, a contar da data de sua publicação’. Ou seja, ainda esperamos a regulamentação da lei, que definirá a fiscalização, o cumprimento e a aplicação da multa. É preciso cobrar esta atitude do prefeito Fernando Haddad, visando a proteção dos direitos de mães e dos bebês”, defende o médico, autor do blog #euapoioleitematerno.
Falta de legislação nos demais municípios
“Como amamentar é um direito, não devíamos nos contentar com a aprovação dessa lei apenas na cidade de São Paulo. E nos demais municípios paulistas? E nos demais estados brasileiros? Devemos e precisamos pensar grande nesse sentido”, diz o pediatra.
Muitas organizações encaram a conveniência de uma mãe alimentar
uma criança em um local público como um incômodo ou uma perturbação da ordem do
dia. Mas amamentar em público é uma prática legal, não é um crime ou uma
contravenção.
A visão de uma mulher amamentando seu filho em público pode ser
ofensiva para alguns. Nos Emirados Árabes, é lei que
as mães amamentem seus filhos durante dois anos, mas elas não podem fazer isso em
público. A amamentação em público é protegida no Reino Unido através da Lei de Igualdade de 2010.
Nos Estados Unidos, quase todos os 50 estados aprovaram legislação que protege
as mulheres de serem processadas por amamentar em público, menos Idaho e Dakota do Sul,
onde ainda há leis que proíbem a prática.
Sobre amamentação em público,
veja também: https://youtu.be/OgOmrhcNzQM
Combate ao preconceito
Na linha do combate ao preconceito à amamentação em público, mães, “não mães”, celebridades, “não celebridades”, profissionais de saúde e até mesmo o Papa Francisco já vieram a público saudar e defender o aleitamento materno.
“No entanto, muitas vezes, este importante tema de saúde pública é
retratado apenas como um problema social das mulheres. O que é menos conhecido
é a biologia que impulsiona o aleitamento materno. A mãe que está amamentando
vai produzir leite em intervalos regulares como uma consequência direta dos
hormônios controlados pela alimentação infantil. Assim como um bebê com fome
precisa ser alimentado, uma mulher que amamenta precisa dar de mamar. As duas
necessidades juntas devem ser vistas como uma necessidade biológica simbiótica,
como algo que não é realmente uma escolha. E também não é voluntário”, explica
Moises Chencinski.
O médico destaca que atrasar a alimentação do bebê com fome
acarreta nas consequências óbvias de fome e mau humor para a criança, mas também
pode representar riscos de saúde para a mãe, como ingurgitamento mamário, dutos
obstruídos e uma infecção chamada mastite. “A oferta de leite materno também
pode diminuir, levando ao desmame precoce. Esses resultados têm custos mais
elevados”, alerta o pediatra.
Se as crianças dos Estados Unidos fossem amamentadas
exclusivamente por seis meses, cerca de 13 bilhões de dólares em cuidados de
saúde seriam poupados anualmente, de acordo com os dados do the U.S. Surgeon General.
De acordo com a UNICEF, o aumento da prática da amamentação,
em muitos países, resultou em 39% de todas as crianças do mundo em aleitamento
materno exclusivo até os seis meses de idade. A amamentação tem o maior impacto
sobre a sobrevivência de uma criança e pode evitar mais de 800.000 mortes de
crianças por ano no mundo em desenvolvimento.
No entanto, o tempo que uma mãe amamenta continua a ser pequeno.
Menos de 16% das novas mães que começam a amamentar seus recém-nascidos
consegue manter o aleitamento até que a criança atinja seis meses de idade.
Amamentação em público x imagem das empresas
“A amamentação não é apenas importante para a saúde, mas também
para a economia. Lojas, empresas e negócios precisam reconhecer a necessidade
do aleitamento materno. As mulheres controlam 20 trilhões de dólares dos gastos
dos consumidores em todo o mundo e representam 80% dos gastos dos EUA e 65% da
despesa global, de acordo com o Banco Mundial. Milhões de mulheres nesse
imenso contingente podem estar amamentando”, afirma o médico.
Além dos benefícios para a saúde e da necessidade fisiológica de
alimentar uma criança com fome, acomodar as mães que amamentam, em vez de
expulsá-las, pode impulsionar as vendas, bem como conquistar a fidelidade do
consumidor. “Enquanto muitos vão argumentar que o aleitamento materno em
público é bom para a mãe e a criança, particularmente, considero que os mamaços
(como forma de protesto) na frente das lojas e das empresas podem não ser assim
tão bons para os negócios”, defende Chencinski.
Donate for poor in india
ResponderExcluir