Em muitos casos, é
preciso reaprender a ouvir através de tratamento multidisciplinar
Quem tem deficiência auditiva poderá se deparar em
algum momento com a indicação médica pelo implante coclear. A cirurgia não é
simples, mas um dos aspectos mais importantes aos pacientes que passam pelo
processo é realizar um rigoroso acompanhamento médico após a cirurgia,
juntamente com a terapia fonoaudiológica, que permitirão sua eficaz
reabilitação.
De acordo com o otorrinolaringologista José Ricardo
Gurgel Testa, do Hospital Paulista, a cirurgia consiste em uma pequena incisão
atrás da orelha e uma mastoidectomia (remoção de tecido no ouvido), por onde é
inserido o dispositivo eletrônico. O paciente que recebe o implante coclear
costuma ficar apenas um dia internado, sendo que os maiores cuidados e
limitações do pós-operatório geralmente duram de 10 a 15 dias.
“Não há limitação de idade para realizar a cirurgia
do implante coclear, embora a recomendação para crianças seja operar a partir
dos seis meses de vida. Dentre as possíveis indicações médicas para o uso do
aparelho, a principal está relacionada a casos de perda auditiva bilateral (nos
dois ouvidos) profunda ou severa”, explica o médico.
O cenário descrito pelo otorrinolaringologista ocorre
quando o paciente registra perda auditiva pior do que 60 decibéis, associada a
uma taxa de discriminação menor do que 50%. “A taxa de discriminação é medida a
partir do exame de audiometria, quando o paciente deve ouvir e repetir um
determinado número de palavras”, explica o médico, que aponta ainda uma segunda
indicação para o procedimento.
“O implante coclear também pode ser indicado em
casos de perda auditiva unilateral (em um ouvido) na qual o paciente tem um
zumbido incapacitante na orelha surda”, completa. Em ambos os casos, o paciente
apresenta uma incapacidade auditiva tão severa que os tradicionais aparelhos
auditivos não são suficientes para restaurar ou melhorar sua condição.
Diferentemente dos aparelhos auditivos
tradicionais, o implante coclear não somente amplia o volume dos sons que o
paciente escuta, mas melhora também a taxa de compreensão. O aparelho tem o
objetivo de substituir as funções das células do ouvido interno, de modo a
estimular o nervo auditivo e recriar as sensações sonoras.
Terapia com fonoaudiólogo
De acordo com a fonoaudióloga Sabrina Figueiredo,
do Hospital Paulista, o acompanhamento multidisciplinar já é recomendado antes
da cirurgia. No entanto, após a inserção do implante coclear é essencial que o
paciente passe pela reabilitação junto a um fonoaudiólogo.
“Essa reabilitação precisa ter início logo após a
ativação do processador de fala, geralmente uma ou duas vezes por semana. A
estratégia utilizada para a reabilitação irá variar de acordo com a idade do
paciente”, explica Sabrina. Em crianças, a habilitação (ou reabilitação) é
feita com foco no desenvolvimento das habilidades auditivas (detecção,
identificação e reconhecimento dos sons ambientais e de fala) de forma lúdica,
com incentivo para que os pais e familiares também estimulem o paciente a
explorar a linguagem no dia a dia.
“No caso do adulto, os métodos são definidos de
acordo com a evolução do paciente. Verificamos inicialmente o desempenho em
relação às habilidades auditivas, que poderão ser resgatadas com o uso efetivo
do implante coclear. O paciente também deverá voltar a detectar e identificar
os sons, evoluindo até que esteja apto a reconhecer a fala. Assim, terá sua
comunicação oral reabilitada, além da melhora na articulação e pronúncia da
fala”, afirma a fonoaudióloga.
Conforme explica Sabrina, a reabilitação é um
trabalho muito importante, complexo e deve ser um compromisso firmado pelo
paciente e por seus familiares para que o implante coclear, de fato, gere o
efeito esperado.
“Mesmo no caso do adulto que já sabia falar, será
necessário reaprender a ouvir a partir do estímulo elétrico gerado pelo
dispositivo. O implante transforma os sons acústicos (que ouvimos normalmente)
em pulsos elétricos e possibilita que estes estímulos sejam levados até o
cérebro, onde são interpretados como sons pelo córtex auditivo. Não é um
estímulo natural e é por isso que o paciente precisa de terapia, treinamento e
reabilitação auditiva e de linguagem”, conclui Sabrina.
Hospital Paulista de Otorrinolaringologia
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