A Revolução Francesa de 1789 provocou uma das maiores transformações da História. A modernidade não nasceu naquele ano, mas 1789 acertou o coração de uma tradição. Expandia-se, naquele acontecimento, diversos conceitos talhados a posteriori. Iluminismo, Modernidade, Revolução, Contemporaneidade, entre outros. Ao final daquele processo, uma expansão napoleônica varreu o mundo europeu e americano. O conceito de América Latina, os nacionalismos mundo afora e o Estado Nação foram desenhados por meio do expansionismo revolucionário napoleônico. Nascia ali o espírito dialético hegeliano e a própria dimensão de um novo espaço/tempo.
Com a queda de Napoleão Bonaparte, a Restauração conservadora na Europa
estabeleceu uma Santa Aliança. Restaurar para conservar. Restaurar para
preservar. Restaurar para também avançar. Embora as forças liberais,
socialistas e anarquistas impuseram diversas pressões aos reestabelecidos
Impérios Absolutistas, foi o nacionalismo quem empreendeu a queda decisiva do
Antigo Regime, com o tiro fatal da Primeira Guerra Mundial. Tal movimento
dialético da modernidade viria se constituir ao longo dos séculos vindouros. Maio
de 1968, impulsor de diversas correntes libertárias, das religiões às pautas
indentitárias, contribuiu como aporte cultural ao neoliberalismo dos anos
1970-1980. Não é contraditório, portanto, que é na ideia de mercado, e não em
países socialistas, que as pautas identitárias vem ganhando relevo e estatura.
Após a Crise de 2008, desiludidos foram aqueles que, como Marx na França, em
1848, aguardavam uma nova redenção a partir das ruas brasileiras (Vem pra rua,
em 2013), chilenas (Movimento Estudantil de 2011), estadunidenses (Occupy),
tunisianas, egípcias e sírias (Primavera Árabe), honconguesas (Revolução dos
Guarda-chuvas), espanholas (Movimento 15M) e francesas (Coletes-Amarelos).
Apesar do espírito libertador desses movimentos, a redenção não adveio com a
revolução. Os redentores, novamente, vieram da Restauração. Make America Great
Again, Xi Jinping e o comunismo defensor do livre mercado, o neoczarismo russo
de Putin, a autonomia inglesa perante a Europa no Brexit, o Brasil acima de
tudo com Deus acima de todos, a manutenção das forças tradicionais nos países
árabes.
O caldo revolucionário, novamente, foi temperado, cozido e servido pelos
conservadores. Isso não quer dizer que os ecos revolucionários desapareceram.
As lutas pelas igualdades, liberdades e fraternidades permanecem em constante
movimento. Mas que fique claro mais uma vez: após toda explosão caótica do
espírito revolucionário, um sistema, um reordenamento social impôs-se sob a
forma de restauração e conservação. O nome para tal processo não é reação, mas
sim, reforma.
Victor Augusto Ramos Missiato
- doutor em História, professor de História do Instituto Presbiteriano
Mackenzie, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais sobre o
desenvolvimento humano (Mackenzie/Brasília) e Intelectuais e Política nas
Américas (Unesp/Franca).
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