Em um estudo publicado na
revista Frontiers in Pediatrics, cientistas chineses relatam que a transmissão
de coronavírus não deve ocorrer de mãe para filho (a). Com base nos casos de
mães que foram infectadas na China, os pesquisadores descobriram que o vírus não
foi transmitido para os recém-nascidos durante a gravidez. Claro que há uma
série de cuidados que a gestante deve adotar, mas não significa impedimento nos
planos de engravidar.
No entanto, em meio ao cenário
de incertezas por conta do coronavírus, é inevitável a sensação de fragilidade
e impotência. Para mulheres que estão tentando engravidar, a ansiedade do
momento atual é um grande obstáculo para comemorar o teste positivo. Segundo a
Dra. Karina Tafner, ginecologista e obstetra, especialista em endocrinologia
ginecológica e reprodução humana pela Santa Casa, e especialista em reprodução
assistida pela FEBRASGO; a relação entre patologias somáticas e psíquicas vem
sendo estudadas há décadas e estão cada vez mais atreladas.
“Em relação à fertilidade,
inúmeros são os fatores que podem alterá-la. No entanto, 5% dos diagnósticos de
infertilidade são denominados ‘infertilidade sem causa aparente’ (ISCA), em que
não encontramos uma causa orgânica associada. No universo da psicologia, por
muito tempo, casos de infertilidade sem causa aparente foram associados a
conflitos inconscientes em relação à gestação e à maternidade, principalmente,
relacionados à figura materna e ao medo de reproduzir um modelo tido como ruim.
Considerando a interação corpo-psiquismo, supõe-se que a infertilidade tem
causa combinada, onde o psíquico influencia no corpo biológico, assim como o
sofrimento do corpo influencia na mente”, explica.
Diversos estudos relatam que o
estresse e a ansiedade, como no momento atual, podem alterar certas funções
fisiológicas relacionadas à fertilidade, formando um ciclo vicioso que se
retroalimenta, pois a infertilidade e seus tratamentos podem causar graves
danos psicológicos ao casal.
Segundo Karina Tafner, o
núcleo arqueado, localizado no hipotálamo, é o principal local de produção do
hormônio GnRH, essencial no funcionamento do eixo hipotálamo-hipofise- ovário,
que induz a ovulação e, assim, o ciclo menstrual. O núcleo arqueado recebe
vários circuitos neuronais do sistema límbico, responsável pelas emoções, que
podem modificar a intensidade e a frequência dos pulsos de GnRH.
“A alteração desses pulsos
leva a inibição do eixo hormonal que estimula o ovário, explicando as várias
formas de alterações menstruais observadas em mulheres submetidas a fortes
impactos emocionais. Na dependência da intensidade e duração desses estímulos,
as mulheres podem, inclusive, desenvolver amenorreia hipotalâmica funcional ou
anovulação crônica hipotalâmica”.
Diversos estudos observaram
que estressores físicos ou emocionais atuam sobre o hipotálamo, alterando a
secreção de fatores liberadores ou inibidores de hormônios hipofisários. Em
estudo realizado em 2011, com mulheres que estavam começando a tentar
engravidar, utilizou-se os biomarcadores cortisol e alfa-amilase salivar como
medida de estresse dessas mulheres, que foram acompanhadas por um período de 12
meses. “O resultado revelou que mulheres que apresentaram níveis de estresse
mais elevados (evidenciados através do exame de alfa-amilase salivar) acabaram
reduzindo sua fecundidade em 29%, comparado ao grupo de mulheres com menor
nível de estresse, além de apresentarem 2 vezes mais riscos de infertilidade”,
revela Karina.
Segundo a ginecologista, nos
homens, foram encontrados prejuízos na fertilidade em função da ansiedade, uma
vez que níveis mais altos de ansiedade e estresse podem mudar a função
testicular por alteração na produção de testosterona e pelo menor volume
seminal e contagem, concentração e motilidade dos espermatozoides. Outro efeito
nocivo do estresse é a queda no desejo sexual (libido) e alterações na ereção,
diminuindo o número de relações sexuais do casal.
Em relação à Fertilização in
vitro (FIV), que é um dos principais tratamentos para a infertilidade, a
literatura revela que a ansiedade, e também a depressão, não estão relacionadas
a resultados negativos no tratamento de FIV. No entanto, observou-se que as
falhas de tratamento podem ocasionar ansiedade e depressão.
Karina Tafner conta que
diversos pesquisadores da área utilizaram anteriormente o "Inventário de
Ansiedade Traço-Estado IDATE " para avaliar como a ansiedade poderia
influenciar o eixo hipotálamo-hipófise-ovário. As avaliações apontam que quanto
maior o grau de ansiedade, avaliado por esse método subjetivo, menor a chance
de gravidez em mulheres submetidas à inseminação artificial.
“O trabalho psicológico deve sempre ser orientado, buscando ajudar os pacientes a enfrentarem todo esse processo. Entretanto, a influência dos estados psicológicos sobre a função reprodutiva apresenta um perfil multifatorial, sendo difícil determinar relações lineares de causa e efeito. Além disso, as alterações hormonais ao estresse dependem do grau de ansiedade do indivíduo, sendo observadas respostas hormonais mais intensas quando há maior grau de ansiedade. Saber que há diversos tratamentos para infertilidade pode diminuir a ansiedade, melhorando as perspectivas em relação à concepção”, finaliza.
“O trabalho psicológico deve sempre ser orientado, buscando ajudar os pacientes a enfrentarem todo esse processo. Entretanto, a influência dos estados psicológicos sobre a função reprodutiva apresenta um perfil multifatorial, sendo difícil determinar relações lineares de causa e efeito. Além disso, as alterações hormonais ao estresse dependem do grau de ansiedade do indivíduo, sendo observadas respostas hormonais mais intensas quando há maior grau de ansiedade. Saber que há diversos tratamentos para infertilidade pode diminuir a ansiedade, melhorando as perspectivas em relação à concepção”, finaliza.
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