Ao todo, 50
pacientes infectados, em fase intermediária da doença, participam da pesquisa
Um estudo iniciado semana passada, realizado por
acadêmicos de diferentes centros de pesquisa, busca esclarecer dados de
eficácia e segurança da substância nitazoxanida, no tratamento de pacientes
acometidos por COVID-19, por meio de análises.
Evidências in vitro, publicadas
internacionalmente, revelam um amplo espectro antiviral da droga, que é
empregada no Brasil há aproximadamente 15 anos, sob a marca de referência Annitaâ,
utilizada no tratamento de doenças parasitárias e virais intestinais.
Estudos em humanos já confirmaram sua ação contra o vírus Influenza,
tipicamente respiratório, publicados em conceituada revista médica
internacional, em regimes de tratamento diferentes dos atualmente preconizados
em suas indicações habituais.
O fármaco apresenta bom perfil de segurança em
diferentes doses e regimes de tratamento, e pode ser utilizado por adultos,
idosos e crianças. De acordo com os pesquisadores, a substância não apresenta
toxicidade relevante e, por isso, os riscos para pacientes portadores de
diferentes doenças são baixos, mas devem sempre ser considerados pelo médico
prescritor. O efeito colateral, apresentado em pacientes que utilizaram a
nitazoxanida em tratamentos, é a coloração amarelo-esverdeada em secreções, principalmente
a urina.
A ideia da pesquisa na sua primeira fase (como
prova de conceito, que visa determinar o impacto sobre a carga viral, melhora
clínica e segurança) é realizar um teste randomizado, duplo cego, ou seja,
médico e paciente não têm ciência se a ministração é da droga ou o placebo. No
total, 50 pacientes de cinco hospitais no estado de São Paulo receberão os
comprimidos com a nova formulação e novo regime de tomada, já estipulados
previamente pelos pesquisadores.
Pesquisas anteriores com outras substâncias, como a
hidroxicloroquina, ainda carecem de melhores dados em pacientes em fase aguda
da doença, principalmente por questões de segurança. Por isso, a pesquisa será
focada em quadros moderados da infecção, ou seja, que apresentam os sintomas como
febre, tosse, dores no corpo, dor de cabeça, sempre associados à insuficiência
respiratória e que não necessitam de ventilação mecânica ou internação em UTI.
Entre os critérios da pesquisa, o participante deve ter resultado positivo para
o exame RT-PCR, ao qual identifica a presença do vírus SARS-Cov2 no organismo.
Apesar de estudos in vitro
reportarem eficácia na inibição do vírus, os pesquisadores não podem afirmar
que haverá os mesmos resultados nos testes in vivo, até que a pesquisa seja
concluída, incluindo as fases posteriores do estudo citado acima. “Temos grande
esperança de encontrar respostas eficientes para a COVID-19, mas somente o
resultado de estudos bem desenhados e conduzidos dentro das normas éticas e
regulatórias poderão nos dar essa tranquilidade. O fato de podermos contar com
a possibilidade de reduzir as complicações e bloquear a disseminação do vírus
já configuraria uma vitória no combate à COVID-19 para nosso país”, afirma o
gerente Executivo de Assuntos Médicos e Pesquisa Clínica da FQM, Dr. Vinicius
Blum.
Após a aprovação da pesquisa, pela Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), os medicamentos comercializados atualmente com a molécula
no país entraram, por determinação da Anvisa, para a lista de drogas
controladas e, toda prescrição médica da substância para a sua finalidade
original deve ser realizada em receita especial de duas vias.
Não há uma data exata para a apresentação de
resultados concretos da pesquisa. Entretanto, estima-se que leve ao menos três
semanas até que as primeiras evidências sejam claras. A pesquisa atual é uma
prova de conceito, conhecido no meio acadêmico como estudo de fase II, e se os
resultados clínicos forem efetivos, será realizada uma nova análise para um
número maior de pacientes, conhecido como estudos de fase III, será conduzido
para que a sua eficácia e segurança sejam totalmente definidas.
A FQM Farmoquímica, empresa detentora do registro
do medicamento referência no país, sob a marca Annitaâ, está
apoiando o estudo e, de acordo com sua diretoria, está muito otimista em
relação ao estudo. Ao mesmo tempo, a empresa reitera que o uso de
qualquer outro medicamento, fora de suas indicações de bula, definidas pelos
registros na Anvisa, está frontalmente em desacordo com sua posição de ética
dentro do mercado farmacêutico.
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