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quinta-feira, 30 de abril de 2020

O Coringa em sala de aula


O fator emocional observado no comportamento das crianças está relacionado diretamente às experiências afetivas vivenciadas em ambiente social: família, escola, sociedade. De acordo com a psicóloga e socióloga Judy Singer, estamos lidando com um fenômeno neurológico diferente e atípico no século XXI. O universo de discussão da neurodiversidade busca analisar fenômenos diversos conhecidos por Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), ou seja, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). 

Quando sofrem algum trauma de infância, além terem o desenvolvimento da aprendizagem comprometido, é possível que as crianças apresentem o TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade). Esse transtorno manifesta dissociação psicológica, bem como pode afetar a memória, o comportamento, o sentimento e a própria identidade da criança. Ou seja, ela pode criar uma outra personalidade – ou até mais –, como forma de proteção e fuga, desencadeando, assim, várias dificuldades inconscientes ou divergentes no processo de aprendizagem.

Para quem assistiu ao filme Coringa (Joker), agora poderá entender melhor psicologicamente por que o personagem se tornou o Coringa (não há spoiler). Os traumas são oriundos desde os estímulos primários da infância até o isolamento e fracasso social. Eis aí o pano de fundo de uma catarse (descarga emocional) para o TDI do personagem. Porém, se fosse identificado em sala de aula, o transtorno poderia ser tratado logo na infância - evitando possivelmente que evoluísse para a fase adulta. É no ambiente escolar que consolidamos muitos aprendizados que vão além da educação formal. Observar aspectos comportamentais que estão presentes no processo de desenvolvimento das crianças é uma ferramenta importante para otimizar os processos de ensino–aprendizagem, como também auxiliar pais e responsáveis na busca de uma ajuda profissional que vai além dos muros escolares.

O desenvolvimento da moral nos anos pré-escolares é um dos objetivos mais importantes do processo de socialização nessa fase: é uma etapa importante no qual as crianças aprendem o que é considerado correto em seu meio e o que se julga incorreto; ou seja, os valores morais vão sendo inseridos de forma com que as crianças se familiarizem com eles e os coloque em prática no seu dia a dia. Piaget, em seus estudos, afirma que a criança, a partir dos seis anos, já consegue entender o que é uma transgressão. À medida que a criança cresce, ela vai adquirindo consciência sobre o valor moral dos seus atos. Sendo assim, nessa fase percebe-se uma construção dos processos comportamentais do respeito, da empatia e de como os atos têm consequências positivas e negativas.

Um olhar mais atento do professor aos comportamentos inadequados de algumas crianças pode ajudar a identificar processos futuros de transtornos ou doenças mentais num contexto que muitas vezes se apresenta no ambiente escolar. Comportamentos como birra, desorganização, falta de interesse no outro, dificuldade de se colocar no lugar do colega, entre outros tantos, não são por si só diagnósticos, mas são pistas importantes para o educador orientar as famílias a respeito de que algo dentro do desenvolvimento típico daquela criança pode estar faltando. E, assim, quem sabe possamos evitar a eclosão de um Coringa em sala de aula.





Deise Hofmeister - pedagoga, é mestre em Administração, coordenadora de curso de Graduação e Pós-graduação na área de Educação e Gestão de Pessoas da Universidade Positivo. 


Gustavo Gava - doutor em Filosofia da Mente com ênfase em Ciência Cognitiva. Professor do curso de Pedagogia na Universidade Positivo. 


Silvia Maria Fernandes Rodrigues - pedagoga e especialista em Neuropsicologia Educacional. 


Priscila Chupil - mestre em Educação. Coordenadora do curso de Pós-Graduação em Neuropsicologia Educacional da Universidade Positivo.


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