O fator emocional observado no comportamento das
crianças está relacionado diretamente às experiências afetivas vivenciadas em
ambiente social: família, escola, sociedade. De acordo com a psicóloga e
socióloga Judy Singer, estamos lidando com um fenômeno neurológico diferente e
atípico no século XXI. O universo de discussão da neurodiversidade busca
analisar fenômenos diversos conhecidos por Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Transtorno
Dissociativo de Identidade (TDI), ou seja, Transtornos Globais do
Desenvolvimento (TGD).
Quando sofrem algum trauma de infância, além terem
o desenvolvimento da aprendizagem comprometido, é possível que as crianças
apresentem o TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade). Esse transtorno
manifesta dissociação psicológica, bem como pode afetar a memória, o
comportamento, o sentimento e a própria identidade da criança. Ou seja, ela
pode criar uma outra personalidade – ou até mais –, como forma de proteção e
fuga, desencadeando, assim, várias dificuldades inconscientes ou divergentes no
processo de aprendizagem.
Para quem assistiu ao filme Coringa (Joker), agora
poderá entender melhor psicologicamente por que o personagem se tornou o
Coringa (não há spoiler). Os traumas são oriundos desde os estímulos primários
da infância até o isolamento e fracasso social. Eis aí o pano de fundo de uma
catarse (descarga emocional) para o TDI do personagem. Porém, se fosse
identificado em sala de aula, o transtorno poderia ser tratado logo na infância
- evitando possivelmente que evoluísse para a fase adulta. É no ambiente
escolar que consolidamos muitos aprendizados que vão além da educação formal.
Observar aspectos comportamentais que estão presentes no processo de
desenvolvimento das crianças é uma ferramenta importante para otimizar os
processos de ensino–aprendizagem, como também auxiliar pais e responsáveis na
busca de uma ajuda profissional que vai além dos muros escolares.
O desenvolvimento da moral nos anos pré-escolares é
um dos objetivos mais importantes do processo de socialização nessa fase: é uma
etapa importante no qual as crianças aprendem o que é considerado correto em
seu meio e o que se julga incorreto; ou seja, os valores morais vão sendo
inseridos de forma com que as crianças se familiarizem com eles e os coloque em
prática no seu dia a dia. Piaget, em seus estudos, afirma que a criança, a
partir dos seis anos, já consegue entender o que é uma transgressão. À medida
que a criança cresce, ela vai adquirindo consciência sobre o valor moral dos
seus atos. Sendo assim, nessa fase percebe-se uma construção dos processos
comportamentais do respeito, da empatia e de como os atos têm consequências
positivas e negativas.
Um olhar mais atento do professor aos
comportamentos inadequados de algumas crianças pode ajudar a identificar
processos futuros de transtornos ou doenças mentais num contexto que muitas
vezes se apresenta no ambiente escolar. Comportamentos como birra,
desorganização, falta de interesse no outro, dificuldade de se colocar no lugar
do colega, entre outros tantos, não são por si só diagnósticos, mas são pistas
importantes para o educador orientar as famílias a respeito de que algo dentro
do desenvolvimento típico daquela criança pode estar faltando. E, assim, quem
sabe possamos evitar a eclosão de um Coringa em sala de aula.
Deise Hofmeister - pedagoga, é
mestre em Administração, coordenadora de curso de Graduação e Pós-graduação na
área de Educação e Gestão de Pessoas da Universidade Positivo.
Gustavo Gava - doutor em
Filosofia da Mente com ênfase em Ciência Cognitiva. Professor do curso de
Pedagogia na Universidade Positivo.
Silvia Maria Fernandes
Rodrigues - pedagoga e especialista em Neuropsicologia Educacional.
Priscila Chupil - mestre em Educação. Coordenadora do curso de Pós-Graduação
em Neuropsicologia Educacional da Universidade Positivo.
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