- As três maiores economias entrarão em ciclo de
crescimento, e garantindo a emergentes a saída da recessão
Estamos
entrando em uma segunda fase da crise mundial provocada pela covid-19, com os
efeitos da quarentena social chegando de forma agressiva às economias
nacionais. O primeiro impacto, provocado pelo pânico que atingiu investidores e
instituições financeiras no mundo todo, está controlado pela ação conjunta dos
bancos centrais.
A
lição de 2008 foi aprendida e desta vez o protocolo definido após 2008 não foi
só rapidamente aplicado, como expandido por outras medidas ainda mais
heterodoxas.
Para
o enfrentamento desta segunda fase as lições do passado não foram suficientes
pela natureza diferente do choque negativo que atingiu simultaneamente a
operação de empresas e a renda dos salários de trabalhadores e arrecadação de
impostos dos governos.
Felizmente
a leitura deste choque feito por economistas e governos nacionais foi rápida e
correta ao identificar o verdadeiro apagão de renda que iria ocorrer nas
economias de mercado pelo tempo em que o afastamento social durasse. Em pouco
tempo construía-se um protocolo de natureza keynesiana para enfrentar a
recessão que se seguiria.
As
aprovações das medidas deste protocolo estão ainda em andamento na maioria das
democracias, mas será uma questão de tempo para que seja mitigado o impacto
deflacionário que vamos sofrer nos próximos meses evitando uma verdadeira
depressão econômica. Os primeiros dados já conhecidos na Europa e Estados
Unidos não deixam dúvidas sobre a intensidade da queda da atividade que vamos
viver pelo menos até o terceiro trimestre deste ano. Queda de mais de 6% do
PIB, em muitas das maiores democracias, não parece ser previsão muito
pessimista.
Mesmo
com uma visão otimista quanto ao controle da covid-19, o que ocorreu na China e
já está sendo visto nas maiores economias nos permite assim proceder, apenas na
virada do ano é que teremos sinais mais claros de uma retomada da atividade
econômica de caráter mundial. Mas ela vai ocorrer em cenário com um grande
hiato do produto e com um quadro deflacionário preocupante. A China será uma
exceção pelo sucesso obtido no controle da doença, e pela rapidez com que a
atividade econômica está se normalizando. O FMI prevê um crescimento de 1,5% em
2020 seguido de uma expansão de 9% em 2021 em função de um programa de
estímulos fiscais e monetários, que certamente virá, como ocorreu em 2010.
Nos
Estados Unidos, outro pilar da economia mundial, também chegaremos ao quarto
trimestre deste ano com uma economia em recessão, mas com um hiato elevado do
produto e um mercado de trabalho com bastante folga também. Mesmo com as
incertezas de um novo presidente, podemos afirmar que haverá no Congresso um segundo
grande esforço de estímulos fiscais para colocar a economia em uma rota mais
clara de recuperação e uma redução do desemprego. Se estiver certo, teremos na
virada do ano e durante 2021 as duas maiores economias do mundo lado a lado com
uma volta do crescimento econômico.
Mesmo
a Europa, sempre atrasada pela heterogeneidade política de seus membros, está
para finalizar a implantação de uma ajuda fiscal via o chamado “multiannual
financial framework (MFF)” com mais de US$ 1 trilhão de recursos como afirmou
recentemente Úrsula von der Leyen, presidente atual da Comissão Europeia. Estes
recursos vão certamente acelerar a recuperação econômica dos países em maior
dificuldade como Espanha, Itália, Grécia e do Leste europeu. Desta forma as
três maiores economias do mundo devem - ao longo do quarto trimestre - entrar
em um ciclo de crescimento positivo garantindo para o mundo emergente uma
condição de - embora mais lentamente - sair da armadilha da recessão ao qual
estão hoje destinados.
Neste
cenário de crescimento com políticas monetárias extremamente expansionistas e,
portanto, com juros reais muito baixos - lentamente parte dos capitais
internacionais que fugiram para os EUA ao longo dos últimos meses voltarão a se
posicionar, como sempre aconteceu no passado, no mundo emergente. Neste cenário
o Brasil deve receber um empuxo externo via as exportações de commodities e a
volta do investimento estrangeiro principalmente no setor de infraestrutura,
viabilizando novamente o ambicioso processo de privatizações atualmente em
stand by no governo Bolsonaro. Os dados da conta corrente e da entrada de
investimento estrangeiro de março último já mostram o início deste processo.
Sei
que serei chamado de otimista com este meu modelo para a evolução da economia
mundial e brasileira em 2021, mas apenas repliquei nesta coluna o que
acompanhei no passado quando acontece um alinhamento de dimensão mundial do
início de um ciclo econômico de crescimento. Mercado de trabalho sem tensões,
preços das principais commodities também em seu ciclo de baixa - o que garante
um mundo sem inflação - combinados com uma imensa liquidez ao nível mundial
serão incentivos suficientes para que os traumas e efeitos colaterais sofridos
por empresas e consumidores sejam substituídos por expectativas mais
favoráveis.
Ficará
apenas, para ser tratado mais a frente com a volta do crescimento econômico, um
aumento generalizado do endividamento dos governos centrais, a começar pelos
Estados Unidos. Neste sentido serão os países emergentes como o Brasil que vão
precisar de um programa do estilo defendido por Keynes em 1940 em seu
extraordinário texto chamado “ How to pay for the War”.
Luiz Carlos Mendonça de Barros é Presidente do Conselho de Administração da Foton. Já exerceu os cargos de presidente do BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, foi Diretor do Banco Central do Brasil e Ministro das Comunicações
Foton Caminhões
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