Estudo analisou quais são os alimentos
e bebidas ultraprocessados preferidos pelo público infantil, suas estratégias
de marketing e como influenciam os pais e responsáveis
O Idec, ONG de Defesa do Consumidor, e o UNICEF (Fundo das
Nações Unidas para a Infância), divulgaram nesta segunda-feira (04) os
resultados de uma pesquisa
inédita que que revela a influência dos
rótulos de alimentos ultraprocessados na percepção e escolhas alimentares de
crianças brasileiras. O estudo realizado em agosto investigou quais são os
alimentos e bebidas ultraprocessados preferidos pelo público infantil, de diferentes
níveis socioeconômicos, e as estratégias de marketing que os estimulam a
consumir aqueles produtos.
De acordo com as 69 crianças participantes da pesquisa, para
alimentos e bebidas ultraprocessados chamarem a atenção delas, eles devem ter o
produto em evidência (imagem de um biscoito recheado, por exemplo), cores
vibrantes e chamativas, apresentar informações sobre sabor, além de personagens
nas embalagens e brindes que eles possam, muitas vezes, colecionar.
“A indústria utiliza uma série de elementos nos rótulos e
nas propagandas para convencer que os seus produtos são saudáveis, saborosos e
divertidos, quando na verdade estão vendendo alimentos ultraprocessados que
podem trazer problemas graves à saúde dos pequenos”, afirma Laís Amaral,
pesquisadora e nutricionista do Idec.
As crianças também foram convidadas a listar os alimentos e
bebidas que gostariam de levar para consumir na escola. De acordo com os dados,
sucos (81%), refrigerantes (54%), iogurtes ultraprocessados (28%), salgadinhos
(61%), frutas (57%), bolos industrializados (55%) e bolachas (41%) são as
opções preferidas de lanches das crianças.
Apesar de as frutas ficarem em segundo lugar nas opções mais
mencionadas de alimentos, bolos industrializados e bolachas foram as preferidas
de crianças de classes sociais mais baixas, enquanto as frutas apareceram em
quarto lugar (47%).
O que os pais colocam nas lancheiras?
Pais e cuidadores responsáveis pela escolha e compra dos
alimentos também participaram do estudo e revelaram que, apesar de estarem nas
opções de lanches listadas pelas crianças, as frutas não aparecem na relação de
quem adquire esses alimentos. Dentre as opções listadas pelos pais e
responsáveis estão: biscoitos e bolachas (71%); bolos e bolinhos (58%);
salgadinhos (42%); pães e bisnaguinhas (36%); sucos industrializados (90%);
bebidas lácteas e achocolatados (57%); iogurtes ultraprocessados (28%).
“Essa exclusão das frutas pode estar atrelada a diversos
fatores, como: preços mais elevados; menor disponibilidade nos ambientes
alimentares, conveniência, paladar, percepção de que a criança gosta mais de
produtos doces, fáceis de serem consumidos, que na maior parte das vezes acabam
sendo produtos não saudáveis”, comenta Amaral.
Além disso, a maioria do grupo (83%) afirmou que as crianças
consomem diariamente alimentos e bebidas industrializados, e que a opinião das
crianças na escolha do alimento e da bebida é muito importante (51%).
Consulta pública sobre rotulagem de alimentos
Com o objetivo de promover a alimentação saudável para a
população, inclusive para o público infantil, o UNICEF está apoiando à campanha
do Idec por uma rotulagem adequada dos alimentos embalados. A proposta do
Instituto é incluir triângulos na parte frontal dos produtos para alertar
quando há excesso de nutrientes como açúcar, sódio e gorduras saturadas.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está com
uma consulta pública
aberta sobre rotulagem nutricional de alimentos no País. As contribuições podem
ser enviadas pela população até 7 de novembro.
"Frente ao cenário regulatório brasileiro, no qual a
publicidade infantil é proibida pelo CDC [Código de Defesa do Consumidor] e
pela Resolução nº 163 do Conanda [Conselho Nacional da Criança e do
Adolescente], é de extrema importância a efetivação da proibição da publicidade
enganosa e infantil e a implementação de informação nutricional clara que
auxilia os consumidores a saberem o que estão consumindo, sem cair nas
armadilhas das mensagens publicitárias e da composição nutricional inadequada”,
finaliza a nutricionista do Instituto.
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