Há em nosso país um excesso de partidos políticos.
Eles são em número muitas vezes superior às disponibilidades de um leque
ideológico e ao de minorias cobrando representação. Partidos de mais, ideias de
menos - eis aí uma das muitas idiossincrasias que embaraçam as deliberações
políticas no Brasil. Qualquer pessoa que assista a uma sessão deliberativa da
Câmara dos Deputados perceberá, por certo, o tempo consumido por 25 bancadas
diferentes, com prerrogativas regimentais, em repetitivas manifestações! Esse
número, é bom saber, pode aumentar muito porque existem outras sete legendas
sem representação parlamentar, e mais 71 coletando filiados para cumprir
formalidades e obter registro.
Não podemos esquecer, porém, da
existência dos poderosos partidos das sombras. Eles não têm sigla nem número,
não aparecem nas listas de votação, mas desenvolvem ações que servem a
interesses partidários. Sua ação política é valiosíssima para aqueles a quem
servem por vias indiretas e influencia fortemente a vida nacional.
Refiro-me, por exemplo, ao que se
poderia chamar partido do Estado. Ele
age silenciosamente no interior do imenso aparelho estatal, com foco na defesa
dos interesses corporativos. Identificam-se, por isso, com todos os partidos
estatistas; sentem-se protegidos quando eles ocupam o poder, o que os leva a
uma fidelidade exemplar. O rombo de R$ 48 bilhões aberto pelas gestões petistas
nos fundos de pensão das estatais (Petros, Previ, Funcef, Postalis), obrigando
assistidos, contribuidores e patrocinadores a aportes adicionais ao longo das
próximas décadas não foi suficiente para suscitar a mais tênue recriminação no
interior do partido do Estado!
Funciona também, poderoso, o partido das Igrejas. Um deles tem sua
atuação centralizada na CNBB e o outro nas evangélicas. Enquanto este último
assume sua condição política e adota legendas inteiras, aquela nega fazer o que
faz, embora faça à vista de todos através de suas pastorais, CEBs, documentos,
cartilhas e Teologia da Libertação. É um jogo bem ensaiado. Graças a esse
ensaio e longa tradição, você nunca ouviu a CNBB criticar o PT, nem o PT
criticar a CNBB, embora as posições do PT e partidos de esquerda sobre temas
atinentes diretamente à moral cristã devessem sugerir um aberto antagonismo.
Sempre que se trata desse assunto, é bom lembrar que a Conferência congrega os
bispos com atribuições de órgão de serviço, mas não se confunde com a
instituição Igreja Católica Apostólica Romana.
Partidos das sombras têm a ver com o
poder político real. Dispõem de permanência e vitalidade próprias. Uma ampla
visão dessa realidade foi proporcionada pelo partido da mídia logo após a posse do governo eleito em 2018. Os
primeiros dois ou três meses de 2019, enquanto os partidos de oposição,
destacadamente o PT, se aprumavam da fragorosa derrota imposta pelas urnas,
coube quase exclusivamente ao partido da mídia agir como porta-voz da oposição, sem conceder ao vencedor um único
minuto para desfrutar a vitória.
O que mais impressiona nesses e noutros
partidos das sombras é a pretensão, assumida por quase todos, de agir sem que
sejam seus movimentos identificados pela sociedade.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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