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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Dupla jornada e ainda o desafio de ser mãe: porque cada vez mais as mulheres estão adiando a maternidade



As mulheres enfrentam uma dupla jornada de trabalho, caracterizada pelas atividades domésticas e trabalho remunerado. Segundo o estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, feito pelo Ipea, elas mulheres trabalham 7,5 horas a mais que os homens.

Mesmo que a população feminina venha conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho, as mulheres ainda sofrem com a cobrança da maternidade, fruto de uma visão social que ainda define a geração de filhos como o papel da mulher.

Cynthia Wood, psicóloga e psicopedagoga clínica, explica que as mulheres podem ser atingidas de várias maneiras. Aquelas que não desejam ter filhos são tratadas como coitadas perante a sociedade; as que querem, e por algum motivo adiaram o projeto de ser mãe, sofrem, além da pressão social, uma cobrança de si mesmas.

"A cobrança é enorme para consigo mesma, e é acompanhada por sentimentos como frustração, vergonha e tristeza", afirma.

Apesar disso, a mulher precisa analisar determinadas situações antes de decidir engravidar. Mesmo que ela se considere apta para a maternidade, outros fatores precisam ser considerados para que a atitude não gere arrependimento, como: a idade reprodutiva; a estabilidade da relação com o pai da criança, a estabilidade financeira e o equilíbrio emocional.

Além disso, outros empecilhos podem entrar no caminho. A dificuldade em engravidar atinge muitas mulheres, que se sentem fracassadas. Quanto a isso, a psicóloga recomenda que a mulher não se culpe e aceite o momento de crise na sua vida, já que é normal se sentir triste nessa situação.

O casal deve encontrar apoio um no outro, conclui a especialista. Ambos devem se informar sobre os problemas de fertilidade e tirar todas as dúvidas com o médico, sem medo ou vergonha. Também é necessário que se estabeleça um limite de gasto se optarem por tratamentos de fertilização.

"A duração do tratamento não é definida. Pode ser que funcione logo de cara, pode ser que seja preciso segui-lo por meses ou até anos, o que gera grande estresse emocional e muitos gastos. Muitas vezes a pessoa acaba se deparando com muitas dificuldades e se isso está sendo uma tortura é melhor pensar até onde se deve ir", completa.

Para Cynthia Wood, o psicológico também precisa de atenção nesse momento. A mulher deve se sentir livre para evitar atividades que envolvam bebês e procurar ajuda de profissionais e de pessoas com o mesmo problema.

Ainda é possível que o casal desista de ter filhos. Se essa decisão for tomada, Cynthia Wood aconselha a procurar ajuda.

"Certamente este casal precisará de apoio e suporte emocional para lidar com esta desistência e não deve ter vergonha de procurar ajuda dos amigos, parentes ou terapia para enfrentar isso com maior tranquilidade", afirma.

As mulheres precisam ver a maternidade como uma escolha, e não obrigação. E a sociedade precisa rever seus conceitos, para que seja possível que as mulheres tenham autonomia sobre suas próprias decisões e vida, sem que sejam julgadas por isso.






Cynthia Wood - psicóloga e psicopedagoga na clínica Crescendo e Acontecendo


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