Prática
ou jogo sexual, sadomasoquismo só pode ser avaliado como doença quando estiver
impondo conflito, sofrimento, dor psíquica ou infelicidade, explica
especialista
Jogos de dominação, sadomasoquismo, quarto
da dor, romance e sexualidade são alguns dos elementos contidos na famosa
trilogia “Cinquenta Tons de Cinza”. Após dois anos do lançamento do primeiro
filme, a continuação “Cinquenta Tons Mais Escuros” chega aos cinemas nacionais.
A adaptação é baseada no livro homônimo da escritora britânica E.L. James e os
fãs do romance, grande parte formado por leitoras, poderão acompanhar uma nova
etapa do relacionamento da estudante Anastasia Steele (interpretada pela atriz
Dakota Johnson) com o empresário Christian Grey (vivido pelo ator Jamie
Dornan).
Lançado nacionalmente no dia 9 de
fevereiro – aproveitando o clima do Valentine’s Day, celebrado
internacionalmente pelos namorados no dia 14 do mesmo mês –, o filme está
novamente entre os mais comentados do momento, principalmente pelas cenas de
sexo, que envolvem sadomasoquismo e submissão. Dividindo a opinião dos
leitores, o comportamento dos protagonistas pode passar de aventuras sexuais
até situações consideradas “anormais” por serem física e psicologicamente
dolorosas.
No entanto, de acordo com a psicóloga do
Hapvida Saúde, Lívia Vieira, nem sempre é possível dizer o que é “normal” em um
relacionamento. “Os comportamentos só se tornam anormais ou patológicos a
partir do momento que causam sofrimento, dor psíquica, influindo na qualidade
de vida das pessoas e em suas necessidades biofisiológicas, como, por exemplo,
causando insônia ou inanição”, explica.
De qualquer forma, segundo a especialista,
é preciso ter atenção ao começar um relacionamento, preocupando-se com limites
e respeito ao espaço do outro. Porém, as restrições variam de acordo com o
casal e os desejos de cada um. “Ninguém é dono ou propriedade de ninguém, não
vale tudo no relacionamento, mas não podemos condenar aqueles que precisam se
sentir dominados e que se saciam disso”, afirma Lívia.
Esse comportamento de dominação na
história também é refletido no relacionamento sexual das personagens, que tem
como base o sadomasoquismo – junção das palavras “sadismo”, para aquele que
sente prazer ao fazer outra pessoa sofrer, e “masoquismo”, isto é, indivíduo
que tem prazer ao sentir dor –, cujo prazer está ligado às questões de poder e
domínio. A psicóloga explica que o sadomasoquismo é considerado por alguns
pensadores um distúrbio, por outros, uma prática ou jogo sexual e, na abordagem
científica, como disfunção sexual.
De acordo com Lívia, o sadomasoquismo
possui implicações mais amplas do que o prazer sexual. “Para diagnosticar
alguém como sádico ou masoquista, primeiro se investiga as manifestações
sexuais em toda a vida sexual da pessoa. Os sádicos sentem prazer em mandar e,
muitas vezes, o que não é feito com os seus parceiros sexuais acaba sendo
levado para outros momentos da vida”, esclarece.
Segundo a psicóloga, o sadomasoquismo só
pode ser avaliado como doença quando estiver impondo conflito, sofrimento, dor
psíquica ou infelicidade. Ou seja, quando o parceiro não está aceitando esse
tipo de relação é que se constitui o conflito e, por consequência, a doença é
diagnosticada.
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