O consumismo atinge milhares de pessoas
que, muitas vezes, não conseguem reconhecer e lidar com o vício
Nessa época do ano, o apelo pelo consumo fica
ainda maior, com o comércio liquidando os estoques que não foram vendidos no
Natal. Mas, para quem é consumista compulsivo, liquidações são praticamente uma
permissão legal para exagerar nas compras. Segundo pesquisa feita pelo Serviço
de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes
Lojistas (CNDL), apenas três em cada dez consumidores podem ser, de fato, considerados
conscientes.
Para o dicionário Aurélio, consumista é quem
consome em excesso e, geralmente, bens e mercadorias desnecessárias. A escritora e publicitária Cris Guerra
assume que se enquadrava nessa definição e revela que não é fácil admitir isso.
“Para lidar com esse problema, em primeiro lugar é preciso admiti-lo, para
então procurar ajuda”, afirma.
O ponto fraco de Cris sempre foi o vestuário, já
que é consultora de moda. Ela acredita que muito mais mulheres (e homens
também) sofram desse mal, embora não reconheçam. Segundo a escritora, o mercado
capitalista trata como algo corriqueiro o consumo excessivo. Por ter passado
por isso, ela acredita que é preciso falar sobre o assunto, para ajudar outras
pessoas a ter uma relação mais equilibrada com o consumo. “Só quem já passou
por isso entende como a compulsão pode desequilibrar a nossa vida”, afirma.
Cris Guerra acredita ainda que o próprio comércio
ganharia mais se ajudasse os consumidores a ter hábitos mais saudáveis. “Melhor
um consumidor comedido por anos do que um comprador que exagera por pouco tempo
e, depois, é obrigado a sair de circulação por inadimplência. A compulsão por
compras é uma doença, como o alcoolismo e outros vícios. Não é algo de que nos
curamos, e sim um comportamento que aprendemos a controlar. O pior é que
sentimento de culpa retroalimenta o vício”, esclarece.
Normalmente essa repetição de atitudes é provocada
por carências e vazios com os quais não conseguimos lidar de forma consciente. O
caminho, então, é o autoconhecimento. E a moda pode ser, ela mesma, uma forma
de se conhecer melhor. No caso de Cris, foi fundamental também a ajuda de uma terapeuta, que a
incentivou a olhar para a moda como um prazer e um dom, e não como um pecado.
"Aos poucos fui compreendendo minhas atitudes, em lugar de me culpar por
elas, e assim caminhei para a mudança, conseguindo distinguir o que era exagero
e o que era positivo".
Para lidar com o vício, ela conta que vale fazer
uso de alguns artifícios. “Por muito tempo, não tive cartão de crédito. Se ele
tinha limites, eu não tinha”, brinca. O prazer pela novidade na sacola começou
a ser substituído pelo prazer de usar o potencial de cada peça que tinha, de
todas as formas possíveis. "Canalizei a minha obsessão para a composição
de novas produções, muito mais do que para a aquisição de novos produtos.
Passei a querer criar mais, em lugar de desejar ter mais. Continuo amando
novidades, mas tenho como prioridade descobrir novidades no que já tenho”.
Nessa época do ano, com as liquidações, se torna
ainda mais difícil se segurar frente a oportunidade de ir as compras. Segundo a
escritora e palestrante, o simples termo já como se fosse uma permissão
temporária para passar dos limites, como se o mundo fosse acabar. “É preciso
ter em mente é que podemos passar o ano todo economizando, mas basta um dia
para colocar a perder todo esse tempo de economia", aconselha. Por isso,
Cris resolveu dar algumas dicas para lidar com a temporada dos preços baixos:
1. Encare esse momento como uma caçada e saia
procurando aquelas peças que você paquerou em tempos de lançamento, mas achou
caras demais pra comprar. Se encontrar um ou dois grandes achados, já está no
lucro.
2. O preço não pode ser o principal motivo para
se comprar uma roupa. Liquidações são boas oportunidades, mas não podem ser o
motivo principal para a compra. Se você precisa economizar ou se não precisa
comprar nada, por que vai entrar na loja?
3. Nunca, nunca faça dívidas só porque o
preço baixou.
4. Foco na escolha: saia de casa sabendo
exatamente o que você precisa comprar, se não você acaba saindo para comprar um
ventilador e voltando com uma cafeteira.
5.Para as viciadas em peças de roupa, a dica
é aprender a conhecer seu estilo para evitar comprar peças que, muitas vezes,
são doadas sem sequer terem sido usadas.
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