Diante da crise econômica
atual e tentativas de retomada do crescimento, o Governo Federal propõe
mudanças nos cartões de crédito e meios de pagamentos e, como parte do pacote
de estímulo, almeja provocar a redução dos juros ao consumidor final, por meio
da redução do prazo que as administradoras de cartão de crédito têm para pagar
o lojista. Hoje em dia, o comerciante leva em torno de 30 dias para receber o
dinheiro após a aquisição do cliente.
Para o mercado brasileiro,
acredita-se que uma mudança como essa trará benefícios aos varejistas, que
terão custos menores, dada a formação de capital de giro em menor tempo e
extinção da necessidade da antecipação de recebíveis e suas taxas. Por outro
lado, os prazos dificultariam a continuidade das fintechs, dado seu
pequeno aporte de capital e a diferença entre os prazos de pagamentos e
recebimentos. O termo fintech surgiu da junção de duas
palavras em inglês: financial (finanças) e technology
(tecnologia). No Brasil, esse segmento é representado por startups, como a
conhecida Nubank.
Empresas como essas são caracteristicamente aquelas
que usam tecnologia de forma intensiva para oferecer produtos na área de
serviços financeiros de uma forma inovadora. Essas empresas crescem fortemente
no Brasil dado o amadurecimento do sistema de inovação e investimento que
ampara a chegada de startups ao sistema financeiro. Outro
motivo é a própria regulamentação do sistema de pagamento pelo Banco Central,
que teve início em 2013 e facilitou pagamentos por meio de celular e serviços
como cartões pré-pago, tudo sem a intermediação de instituições financeiras e
taxas bancárias.
Analisando economicamente, o
fator mais relevante é que nessa operação não há cobrança de anuidade e nenhuma
outra taxa, possibilidade gerada pelo modelo de negócio totalmente digital, que
permite cortar custos com agências e estruturas caras, além da papelada, dada a
menor burocracia. Fator essencial em momentos de crises econômicas. As fintechs ganham
dinheiro de duas maneiras: em cada compra que o cliente faz usando o cartão,
recebem uma pequena porcentagem do estabelecimento comercial, e, quando o
usuário opta por financiar o valor da fatura, cobram juros sobre o valor da
compra (crédito rotativo).
O atual prazo de 30 dias funciona porque os
consumidores pagam uma compra feita no cartão de crédito, em média, 26 dias
após. Em um mês, essas empresas recebem os pagamentos das faturas e repassam o
dinheiro para as máquinas de cartões, como Cielo e Rede, que, então, pagam ao
lojista. Em um mês, as firmas tecnológicas conseguem formar caixa e repassar
aos cartões. Se o governo brasileiro seguir em frente com a medida de redução
do prazo de pagamento para lojistas, as fintechs teriam que buscar recursos
para os repasses no mercado financeiro, antes de receber os pagamentos das
faturas dos usuários de seu sistema. Nota-se que todos os emissores de cartão
de crédito sofreriam algum impacto com a medida, mas os menores seriam os mais
prejudicados por não terem a capacidade de financiamento dos grandes bancos,
que aliás, trabalham com diversos outros produtos. Basta saber se essa mudança
agradaria os consumidores finais.
Françoise Iatski de Lima -
mestre em Desenvolvimento Econômico e professora de Economia da Universidade
Positivo (UP).
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