Os
recentes casos de acidentes na aviação levantam especulações sobre suas
possíveis causas. Diversas opiniões aparecem sobre fatores externos, problemas com
os pilotos e mesmo conspirações que possam ter causado o acidente. Quem vive no
ambiente da aviação, no meu caso desde 1984 como piloto, tende a buscar
explicações técnicas plausíveis, uma vez que elas normalmente se aplicam a
totalidade dos acidentes.
A
inteligência humana é capaz de desenvolver equipamentos maravilhosos e depois
operá-los, mas este envolvimento direto desde a concepção até seu uso, traz a
possibilidade de que o mesmo elemento criativo e racional seja o causador de
erros e indutor de eventos não desejados, os acidentes. Isto ocorre porque as
características individuais das pessoas envolvidas são diferentes, assim como o
são o treinamento e a capacidade de julgamento de cada uma delas.
Quem
trabalha na aviação sabe que devido a natureza extremamente técnica da
atividade e ao envolvimento direto das pessoas, que são diferentes, o fator
humano é sempre um aspecto decisivo quando se busca a explicação de eventos
aeronáuticos. O fator humano pode ser por parte do controlador de voo, quando autoriza
um voo e o controla, pode ser do especialista em manutenção, ao realizar ou
conferir um procedimento de manutenção na aeronave, ou por parte dos
tripulantes, em especial, dos pilotos.
Quanto
ao pessoal envolvido na atividade aérea, incluindo os pilotos, uma vez que se
encontrem com as condições físicas e mentais adequadas, os fatores decisisvos
são o treinamento e sua capacidade de julgamento. O treinamento é muito
importante, e com a expansão da atividade aérea muitas novas escolas de aviação
aparecem, e com elas a chance de que a formação do piloto e seu treinamento não
sejam o adequado. Neste ponto é fundamental a eficiente fiscalização por parte
da agência oficial, no caso a ANAC, que precisa ter pessoal em número e
especialização mais do que suficientes.
Em
relação à capacidade de julgamento, é importante que o treinamento obtido tenha
sido de boa qualidade, pois o conhecimento formal e as experiências na
atividade aérea são fundamentais. A boa formação, o adequado treinamento e a
repetição de boas práticas levam, com a experiência, às boas decisões. Os
exemplos da Força Aérea Brasileira e das grandes empresas regulares de aviação
atestam estas práticas e seus resultados.
Devido
a estas experiências e práticas, quando ocorre um acidente na aviação, é fácil
de entender o porque se pergunta imediatamente qual era a situação
meteorológica no local do acidente. Não porque a meteorologia possa ter causado
o acidente, o que até poderia excepcionalmente ocorrer, mas porque na maior
parte das vezes a situação meteorológica adversa leva o piloto a ter que tomar
decisões, fazer opções, e nesta hora, pressões diversas, má formação ou
deficiente treinamento podem fazer com que ele ultrapasse os limites da
pilotagem segura, daquilo que foi treinado ou deveria ter sido treinado, e isto
sim leva a acidentes.
Sem
querer desprezar outras possibilidades, nós que estamos na aviação aprendemos
que na maior parte dos casos foi um deficiente planejamento do voo, uma falsa
compreensão de uma situação, ou um erro de julgamento, feito em preciosos
segundos durante um voo, que podem colocar toda uma situação a perder. Se
olharmos com atenção podemos perceber estas situações fragilizadoras da
segurança em todos os últimos acidentes aeronáuticos.
Nesta
hora é importante ressaltar a necessidade de buscarmos a excelência na
formação, no treinamento, na fiscalização, e nas práticas, para capacitarmos
nossas tripulações a tomarem a melhor decisão sempre. Deixando a investigação
de aspectos conspiratórios, caso existam, para a esfera policial.
Fábio Augusto Jacob - Oficial-Aviador da reserva da
Força Aérea Brasileira, coordenador e professor da Academia de Ciências
Aeronáuticas Positivo (ACAP) da Universidade Positivo (UP).
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