O
dia 22 de abril, dia da Terra, foi designado pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em 2009 como forma de reconhecer a responsabilidade de toda humanidade
em promover a harmonia com a natureza e o planeta Terra, com o objetivo de
alcançar um equilíbrio justo entre as necessidades econômicas, sociais e
ambientais das atuais e das futuras gerações.
Pois
foi esse dia, carregado de simbolismo, que foi destinado para a assinatura do
acordo climático alcançado em Paris durante a COP-21 com a participação de 195
países. Com comparecimento recorde de 165 países o evento de formalização das
assinaturas foi um sucesso sem precedentes demonstrando o interesse e
preocupação dos países diante do agravamento do aquecimento global.
Durante
a semana do evento, a Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA)
divulgou relatório indicando que o mês de março deste ano foi o mais quente já
registrado desde que se iniciaram as medições em 1880. Foi o 11º mês
consecutivo em que se bate este recorde, revelando uma sequência inédita e
preocupante, pois indicam que o processo de aquecimento global está se
acelerando. Acrescente-se que 2015 foi o ano mais quente já registrado,
superando o de 2014 que havia atingido esse recorde anteriormente. E, tudo
indica que 2016 superará o ano anterior.
O
impacto causado pelas mudanças climáticas continua desestabilizando diversas
formas de vida, ecossistemas e grandes regiões, como o Ártico e a Groenlândia.
A desertificação e a seca têm provocado o deslocamento massivo de pessoas em
todos continentes, causando epidemias e gerando conflitos pelo controle de
recursos. As mudanças climáticas são parte integrante da agenda de política
exterior de todos os países, pois afeta a segurança global no atual momento, e
não num futuro distante. Assim, a ação coletiva universal passa a ser
fundamental para conter a ameaça.
Nesse
sentido o Acordo climático para o qual foram colhidas assinaturas em número
recorde, constitui uma ferramenta importante nessa ação coletiva, pois é um
tratado legalmente vinculante que para ter força de lei deve ser ratificado
pelos organismos legislativos de cada país. E somente quando se conseguir a
adesão de 55 países, que representem pelo menos 55% do total das emissões de
gases do efeito estufa (GEE) é que passará a vigorar substituindo o atual
protocolo de Quioto em 2020.
O
processo de ratificação pelos legislativos nacionais pode ser lento ou rápido e
dependerá principalmente da mobilização obtida pelos diversos atores em suas
respectivas sociedades. Todos devem realizar sua parte para que se alcance a
vigência do acordo o quanto antes. Além dos atores estatais devem participar
ativamente organizações não governamentais, empresas, cidades entre outros num
esforço coletivo de implementação, que em sua fase inicial deve ter como foco a
pressão sobre os legislativos nacionais para sua ratificação.
Ato
contínuo, cada país tem a responsabilidade de desenvolver políticas de
incentivo a práticas que reduzam a emissões de GEE contribuindo decisivamente
para que se abra uma perspectiva de se alcançar um mundo sem a utilização dos
combustíveis fósseis.
O
Brasil tem um importante papel nesse processo, não só pelas suas dimensões
continentais, sua população, mas principalmente pelos recursos que possui e que
podem vir a substituir a utilização dos combustíveis fósseis num prazo
relativamente curto pois tem condições para utilização de diversas fontes de
energia: eólica, solar, bioenergia entre outras numa matriz diversificada que
não nos torna dependentes de um só recurso como ocorre atualmente em relação
aos combustíveis fósseis e a dependência em relação à energia obtida das
hidrelétricas.
Ao
mesmo tempo se deve combater as propostas que estão sendo veiculadas de
intensificação da utilização de carvão em usinas termelétricas com o argumento
de custo baixo, ou da utilização do “fracking”,
fracionamento das rochas de xisto betuminoso para obtenção de gás e petróleo
com a utilização de água e produtos químicos. Alternativas que são
incompatíveis com o Acordo Global que assinamos e certamente ratificaremos.
Reinaldo Dias - professor da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, campus Campinas. É Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Ciência
Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.
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