Maranhão, Paraíba e Piauí foram alvos do primeiro
estudo, que constatou a existência de 186.241 crianças dessa faixa etária em
situação de pobreza multidimensional nos três estados
Belo Horizonte - O ChildFund Brasil e a PUC Minas lançam, nesta
quinta-feira (12), o primeiro indicador no Brasil voltado, exclusivamente, para
avaliar a situação de pobreza multidimensional de crianças de 0 a 11 anos, em
escala municipal. Ao contrário dos indicadores tradicionais, o Índice de
Pobreza Multidimensional (IPM) extrapola o fator renda,
mensurando a pobreza a partir da privação de necessidades essenciais ao
desenvolvimento e qualidade de vida, como o acesso à educação e à saúde.
Os estados do Maranhão, Piauí e Paraíba
foram escolhidos para a realização do primeiro estudo após um levantamento
preliminar feito pelo ChildFund Brasil, mensurado a partir de outros
indicadores, que apontou que os três possuem as situações de risco social.
Foi constatado que tanto a incidência quanto a
intensidade da pobreza são maiores em domicílios com presença de crianças.
Considerando o recorte do ChildFund Brasil, foram encontradas 186.241
crianças com idade de 0 a 11 anos em situação de pobreza multidimensional,
sendo 126.760 no Maranhão, 31.708 no Piauí e 27.773 na Paraíba.
Os índices também identificaram situações de vulnerabilidade,
isto é, quando o domicílio vivencia o risco de cair na pobreza multidimensional.
Nos três estados, foi contatada a existência de 577.946 crianças em situação
de vulnerabilidade, na mesma faixa etária, sendo 353.875 no
Maranhão, 118.274 no Piauí e 105.797 na Paraíba. Somados, verificam-se
proporções de 30%, 23,4% e 18% em relação ao total de crianças,
respectivamente.
“O IPM é útil para qualquer organização, governo e
empresa que queira direcionar ações de intervenção junto a pessoas em situação
de pobreza multidimensional, possibilitando a identificação
desses indivíduos e onde elas se encontram. Garantindo assim, que as ações de
desenvolvimento serão voltadas para quem realmente precisa”, explica Gerson
Pacheco, diretor Nacional do ChildFund Brasil.
Os dados inéditos serão apresentados nesta
quinta-feira, 12 de dezembro, durante o lançamento do Núcleo de Inteligência
Social (NIS), fruto da parceria entre o ChildFund e da PUC Minas e responsável
pela execução do estudo. A cerimônia será às 17h, no Museu de Ciências Naturais
da PUC, em Belo Horizonte (MG).
Na PUC, o trabalho envolve professores dos
programas de pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Social e
Ciências Sociais, além de alunos bolsistas de graduação, mestrado e doutorado. O
NIS conta ainda com a participação de outras áreas do conhecimento: Psicologia,
Ciências Exatas e Informática e Comunicação.
“Queremos ser referência em inteligência social,
oferecendo dados qualificados a entidades do terceiro setor”,
afirma o professor Paulo Fernando Carvalho, coordenador do NIS.
Metodologia
O levantamento foi feito a partir de dados do Censo
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 e utilizou a
metodologia da Iniciativa de Pobreza e Desenvolvimento Humano da Universidade
de Oxford (OPHI). Nessa metodologia, 13 indicadores trabalhados
compõem quatro dimensões: educação, saúde, trabalho e padrão de vida. Na versão
brasileira, foi adicionada a dimensão trabalho, como parâmetro comparativo.
Os indicadores de frequência à escola e distorção
idade-série das crianças em idade escolar e de escolaridade dos membros adultos
são considerados na dimensão educação. Já o indicador de mortalidade infantil
compõe a dimensão de saúde.
No âmbito do trabalho, são utilizados os
indicadores de trabalho infantil, desocupação/desemprego e trabalho informal
dos membros adultos. Por fim, a perspectiva padrão de vida é composta por
material do domicílio, abastecimento de água, saneamento, tratamento do lixo,
densidade morador por dormitório e consumo.
Debate internacional
A escolha pelo IPM busca um
alinhamento com o debate internacional atual sobre mensuração da pobreza
multidimensional, pois segue as recomendações da ONU para o
monitoramento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Nesse primeiro projeto, o valor do IPM foi usado para ranquear os
municípios. Aqueles com os valores mais altos foram considerados como
prioritários e, em torno deles, foram definidos grupos de cidades com
quantidades mínimas de crianças pobres e que atendessem a determinados
critérios logísticos.
Futuramente, esses locais poderão ser atendidos pelos
projetos do ChildFund.