O Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião
funcional na Unicamp e no Hospital Albert Einstein, explica como reconhecer sua
dor e quais são as formas de tratamento existentes
A dor nem sempre é uma sensação simples. Além de física, ela também é um evento sensorial e emocional desagradável para o organismo humano. Em muitos casos, pode ser um alerta de extrema importância para a saúde. Em casos crônicos, por exemplo, ela pode indicar doenças. Por essa razão, é importante estar atento aos sintomas e aos pontos preocupantes. Afinal: você saberia identificar quando a intensidade da sua dor pode ser motivo de atenção?
Globalmente, estima-se que 1,5 bilhões de pessoas (uma em cada cinco) sofra de dores crônicas, com prevalência maior em pacientes com idade mais avançada. No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Estudo da Dor (SBED), ao menos 37% da população, ou seja, cerca de 60 milhões de pessoas, relatam sentir dor de forma crônica.
“Chamamos de crônica a dor persistente, que incomoda o paciente por meses ou, até mesmo, anos”, explica o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com o especialista, não é normal sentir dor por mais de três meses. “Neste caso, ela pode indicar doenças sérias e, por isso, precisa de investigação. Se não tratada, pode levar a outros problemas que antes não existiam, como: alterações no comportamento motor, redução de atividades (tendência ao sedentarismo) e fadiga, além de prejudicar a ergonomia”, alerta.
Para o médico, é preciso escutar o paciente, antes de
qualquer intervenção. “É essencial trazer conforto a essas pessoas com
agilidade, permitindo que o paciente retome suas atividades cotidianas e sempre
buscando uma resposta positiva, permanente e duradoura no tratamento. Cada
indivíduo interpreta sua dor de uma forma diferente. Como profissionais da
saúde, é nosso dever escutá-lo e acolhê-lo, pois todos merecem cuidados. Se o
incômodo persiste há muito tempo, está certamente na hora de procurar
alternativas”, afirma o Dr. Valadares.
Dor crônica e dor aguda
Enquanto algumas dores são passageiras, outras podem se perpetuar por semanas, meses ou, até mesmo, anos. O neurocirurgião esclarece que, por definição, a diferença entre dor crônica e dor aguda está no tempo. Enquanto a dor crônica deve durar mais de três meses para ter este nome, a aguda costuma ser pontual, podendo evoluir para um quadro crônico. Entretanto, as causas podem ser as mesmas.
“Quadros de dor crônica podem se perpetuar por meio
das modificações do sistema nervoso, ou seja: a dor mantida pode levar a dores
que não melhoram, mesmo que a causa seja removida”, ressalta.
Formas de tratamento
Ao tratamento, que é chamado de plano terapêutico, existem três considerações importantes pontuadas pelo especialista em dor. "Em primeiro lugar, é preciso alinhar as expectativas do paciente com a possibilidade de resultado diante do problema. Depois de investigar a causa do problema de origem, é necessário entender o mecanismo que fez surgir a dor para que seja possível intervir na sua origem. Por fim, traçamos uma análise do que já foi feito até o momento. Muitos pacientes que buscam tratamento já consultaram diversos profissionais e foram submetidos a tratamentos anteriores", reitera o médico.
Nos quadros de dor crônica, principalmente, o tratamento é multidisciplinar e pode ser longo. Envolve, além de avaliação médica adequada, outros tratamentos paliativos para reabilitação física como fisioterapia, acupuntura e pilates, por exemplo.
Muito frequentemente, segundo ele, são utilizadas
medicações. Porém, existem outras opções para casos em que os fármacos não são
mais adequados ou suficientes, como os bloqueios de nervos e infiltrações
anestésicas, cirurgias pouco invasivas por vídeo e cirurgias percutâneas, ou
seja, sem a necessidade de uso de bisturi.
Com os avanços da ciência, atualmente, é também
possível pensar em tratamentos de estimulação cerebral para a dor. “Os
procedimentos de neuromodulação (estimulação) cerebral ou medular, quando bem
indicados, podem ser um excelente tratamento para a dor crônica em casos muito
complexos e que já tentaram diversos tratamentos, com médicos diferentes. É
preciso que a dor do paciente tenha algumas características que demonstrem
acometimento de nervos ou do sistema nervoso, como as lombalgias (dores na
região lombar) após cirurgias de coluna”, pontua o neurocirurgião.
Outros tipos de dor
Além das mais conhecidas (crônica e aguda), existem
outros tipos de dores, como:
- A dor neuropática, como explica o Dr. Marcelo
Valadares, pode ser incapacitante, acometendo pacientes com diabetes
mellitus e outras doenças. “A neuropatia ocorre em áreas ou órgãos
envolvidos em lesões ou doenças neurológicas, quando o Sistema Nervoso
Central ou periférico causa sensações como formigamento, queimação,
adormecimento e choques”, complementa;
- A dor disruptiva, por sua vez, pode ser mais intensa do
que a crônica, rompendo a barreira de alívio promovida pelo analgésico;
- A nociceptiva está ligada à inflamação ativa e acontece
quando existem danos relacionados à lesão de tecidos ósseos, musculares ou
ligamentos, como uma contusão, um corte ou uma queimadura;
- A idiopática é um tipo de dor sem causa definida, na qual não
existem evidências de doença ou causa psicológica;
- A somática tem origem nos tecidos superficiais e da periferia
do corpo;
- Por fim, “dor psicossomática” é um termo raramente
utilizado, definindo casos nos quais não existe uma causa orgânica para o
quadro.
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