Cada vez mais conectados, modernos aparelhos auditivos vêm ajudando a derrubar o tabu sobre a surdez
No mês em que se comemora a luta das pessoas surdas em busca de
uma sociedade com menos preconceito e mais inclusão, por que tantos ainda têm
vergonha de usar aparelho auditivo? O que mais vemos nas ruas são indivíduos
usando óculos de grau sem nenhum constrangimento, inclusive com armações
modernas e coloridas. E o que muitos não sabem é que estilo e elegância também
já fazem parte do mercado de próteses auditivas. Os avanços tecnológicos vêm
permitindo a criação de aparelhos cada vez mais bonitos e discretos, que mal
aparecem no ouvido. No entanto, falta informação para quebrar esse tabu.
Trazer à tona a discussão sobre o tema é importante porque a
deficiência auditiva, em geral, se agrava com o avançar da idade. O Brasil
passa por um processo de envelhecimento da população e o número de idosos só
tende a crescer. Com o passar dos anos, as células ciliadas da orelha interna
começam a morrer. Porém, algumas pessoas perdem a audição mais cedo e mais
rápido do que outras. Mas a vergonha de usar aparelho auditivo ainda faz com
que a maioria demore mais de cinco anos para buscar ajuda especializada.
"Não há demérito algum em usar aparelho auditivo. Hoje em dia
já existem aparelhos minúsculos, com tecnologia digital. E, a cada ano, são
criadas soluções auditivas cada vez mais sofisticadas. É o caso do aparelho
Opn™, que permite conexão sem fios com TV, smartphone, laptop e outros
dispositivos eletrônicos inteligentes. Por que não fazer uso dessa tecnologia
para voltar a ouvir e ter mais confiança para conversar com familiares, amigos
e colegas de trabalho? O aparelho auditivo contribui para melhorar a autoestima",
afirma a fonoaudióloga Rafaella Cardoso, especialista em Audiologia na Telex
Soluções Auditivas.
Pesquisa realizada no Canadá
mostrou que a cada 10 decibéis de perda auditiva há um aumento de mais de 50%
no risco de isolamento social, principalmente no caso de pessoas que já
passaram dos 60 anos. Mas este ainda é um assunto delicado porque é envolto de
preconceito. Os próprios familiares e amigos sentem-se intimidados em
abordar a questão porque o deficiente auditivo, na maioria das vezes, não reage
bem. "Falar sobre deficiência auditiva nunca é fácil, por causa da
resistência que as pessoas têm em admitir que já não ouvem bem. Mas isso é
necessário. Familiares e amigos podem oferecer um apoio importante. O uso de
próteses auditivas, quando indicado, resulta em melhoras significativas na
qualidade de vida", pontua Cardoso.
É importante lembrar que a perda auditiva adquirida na idade
adulta, quando não tratada, pode acarretar também uma perda psicológica e
social, com insegurança, medo, dificuldades no convívio em sociedade e até
mesmo prejuízos na ascensão profissional. "Com o dia a dia agitado e cada
vez mais conectado, a quebra do preconceito em relação ao uso de aparelhos de
audição é fator primordial para que o indivíduo aceite sua limitação auditiva,
procure tratamento e, assim, possa continuar a ter uma vida ativa e
produtiva", conclui a fonoaudióloga da Telex.
Ao sentir alguma dificuldade para ouvir, o primeiro passo é
consultar um médico otorrinolaringologista, que irá avaliar a causa, o tipo e o
grau da perda auditiva. A partir do resultado de exames como o de audiometria,
que é realizado por fonoaudiólogos, será indicado o tratamento mais adequado.
Muitas vezes, o uso de aparelho auditivo é a melhor opção para devolver a
audição.
Pesquisa revela que Brasil tem 10,7 milhões de surdos
Há 500 milhões de surdos no mundo, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS). No Brasil, são 10,7 milhões de pessoas com deficiência
auditiva. Desse total, 2,3 milhões têm deficiência severa. A predominância é na
faixa de 60 anos de idade ou mais (57%). Vinte por cento dos idosos com
deficiência auditiva não conseguem sair sozinhos, só 37% estão no mercado de
trabalho e 87% não usam aparelhos auditivos. A surdez atinge 54% de homens e
46% de mulheres. Os dados constam de estudo feito em setembro de 2019 com
brasileiros surdos e ouvintes, pelo Instituto Locomotiva e a Semana da
Acessibilidade Surda.
Ainda segundo a pesquisa, 9% das pessoas com deficiência auditiva
nasceram com essa condição. Os outros 91% a adquiriram ao longo da vida, sendo
que metade teve perda auditiva antes dos 50 anos. E entre os que apresentavam
deficiência auditiva severa, 15% já nasceram surdos.
O levantamento revelou ainda que indivíduos com deficiência
auditiva severa têm três vezes mais risco de sofrer discriminação em serviços
de saúde do que pessoas ouvintes. Além disso, 40% disseram não se sentir à
vontade para falar sobre quase tudo com os amigos; e 14% sentem o mesmo em
relação à família.
Por que Setembro Azul?
O mês em homenagem às pessoas com deficiência auditiva é conhecido
como Setembro Azul porque nele se comemora o Dia Nacional de Luta da Pessoa com
Deficiência (21/9) e o Dia Nacional do Surdo (26/9). A cor remonta à Segunda
Guerra Mundial, quando os nazistas identificavam todos os deficientes com uma
faixa azul no braço.
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