Artefato cultural é um termo técnico muito utilizado por historiadores ou arqueólogos para se referir a algum objeto, instrumento, símbolo, pintura ou qualquer outra forma de registro que ajuda a explicar como eram as crenças, hábitos e as estruturas sociais de determinada cultura. No contexto das empresas, Edgar Schein descreve os artefatos culturais, ou organizacionais, como sendo as características visíveis ou experienciais da cultura, ou seja: tudo aquilo que uma pessoa escuta, vê ou sente quando se depara com uma organização.
Esta imagem do iceberg ajuda a
representar bem o papel dos artefatos na dinâmica cultural de uma organização:
ao passo que as crenças e valores são um pouco mais difíceis e demoradas de se
perceber, por estarem submersas nas percepções subjetivas dos colaboradores, os
artefatos podem ser mais facilmente identificados apenas por meio de uma
observação mais profunda.
Schein classificou os
artefatos organizacionais em 4 categorias:
1-
Estruturas Físicas e Símbolos: referem-se à
configuração do ambiente de trabalho: o refeitório, a sala de reuniões, uniforme,
crachá, troféus, etc.
2-
Rituais e Cerimônias: são os eventos
institucionais, processos seletivos, integração de novos colaboradores,
reuniões de feedback, etc.
3-
Linguagem Organizacional: são elementos da
linguagem usados no dia a dia da empresa, como as metáforas, jargões, slogans,
hashtags, etc.
4-
Histórias e Heróis: são acontecimentos
marcantes na organização ou pessoas que servem de inspiração para os demais por
seus feitos no passado.
No entanto, a maioria
dos artefatos costumam ser criados sem muita intencionalidade, o que pode ser
algo a se preocupar, pois sem se pensar em suas premissas, existe um grande
risco deste artefato reforçar comportamentos incoerentes ou indesejados em uma
cultura. Alguns exemplos ajudam a ilustrar:
- Uma cultura que busca promover a
colaboração, mas que só mede resultados individuais;
- Um layout de ambiente de trabalho sem
divisórias, mas que mistura profissionais que precisam se concentrar com
outros que passam bastante tempo em chamadas;
- Reuniões entre líderes estratégicos para
passar simples informações ou fazer alinhamentos que poderiam ser feitos
em uma mensagem ou um e-mail;
Por outro lado, quando
analisamos aqueles artefatos mais poderosos de uma organização e que
contribuem, de fato, com a construção da cultura desejada, podemos notar
algumas características em comum entre eles:
1- Criam um contexto de pertencimento -
eles unem os membros de uma organização com a história dela e com seus valores.
(ex: evento de aniversário da empresa com espaço para reconhecer colaboradores
responsáveis por grandes conquistas ou por momentos de superação);
2- Revelam necessidades organizacionais, que precisam
ser cuidadas por meio do reforço contínuo de comportamentos-chave (ex:
premiações e reconhecimento público de pessoas ou equipes que geram ótimos
resultados ou demonstraram atitudes exemplares);
3- Apontam uma direção para seguir - estão associados
a um propósito, uma meta. (ex: slogans organizacionais que ajudam a comunicar
como a organização deseja se tornar ou a forma como ela trabalha para atingir
seus resultados. Algo como "Evoluir a forma de se fazer negócios para
evoluir a sociedade".
Ou seja, não basta simplesmente fazer
com que os artefatos surjam “do nada”. É preciso entender que eles não se constroem
sozinhos, mas sim com o auxílio e colaboração mútua entre os times e lideranças
dentro das organizações. É a partir do cuidado com as pessoas e entre as
pessoas, que é possível se ter cuidado com a cultura da empresa - a preocupação
com a vida de cada um que compõe a equipe, um simples agradecimento de
informação enviada, etc - que trazem a sensação de pertencimento e criam um
legado para a toda a história.
Leonardo Marques - liderança técnica e especialista em cultura organizacional na Tribo.
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