Você sabe o que é a trombose venosa profunda (TVP)? Apesar de ser uma doença grave, você pode fazer a diferença tendo informações sobre ela. E, em muitos casos, o conhecimento pode, inclusive, ajudar a preveni-la.
Para chegar ao coração, o sangue venoso circula
contrário à força de gravidade. As válvulas venosas e os músculos das pernas
impulsionam esse sangue. Para uma circulação adequada, o sangue deve ser
líquido, não pode ficar estagnado, seus componentes devem estar em equilíbrio e
a parede das veias precisa estar íntegra. Uma forma simples de pensarmos sobre
o que leva uma pessoa a ter TVP é lembrar das situações que alterem esse
sistema com ativação da coagulação sanguínea.
Para isso, costumo recorrer à comparação com um
copo, com ou sem água. Todos nós, ao nascermos, seríamos considerados um copo,
cada um diferente do outro, e a TVP seria a situação em que esse copo fica
repleto de água, que transborda. Quem tem uma herança genética para TVP já
nasce com água dentro do copo, que pode ser pouca (baixo risco) ou muita (alto
risco). Muitos imaginam que um único fator já explicaria a ocorrência da TVP,
mas ela é uma condição multifatorial. A somatória de vários fatores pode fazer
a água transbordar. Fatores genéticos são menos frequentes e geralmente
aumentam pouco o risco de trombose.
Durante a trajetória de vida desse
“indivíduo-copo”, a exposição aos fatores de risco adquiridos é o mais
relevante para TVP. Cirurgia, hospitalização, uso de contraceptivos hormonais
(principalmente com estrogênio), gestação e pós-parto, terapia de reposição
hormonal, hormônios em altas doses para fertilização in vitro,
imobilização, viagem aérea com duração superior a 6 horas, trauma, câncer e
alguns de seus tipos de tratamento, idade superior a 50 anos, algumas doenças
renais, reumatológicas, hepáticas, hematológicas, varizes, tabagismo,
obesidade, presença de anticorpos antifosfolipídios, entre outros, são fatores
de risco para TVP.
A prevenção à TVP inclui o conhecimento dos fatores
que podem levar à doença e, se possível, preveni-los por meio de um estilo de
vida mais saudável, como controle de peso, prática de exercícios e, também, uma
conversa com seu médico para orientações quanto ao uso de meias elásticas e
anticoagulantes profiláticos em situações de risco. Afinal, apesar de ser quase
impossível evitar que alguma água vá sendo colocada no copo, ter conhecimento
de que essa água está entrando e cuidar para que não derrame, faz toda a
diferença.
Conhecer os sintomas da TVP também é importante
para que se possa procurar um serviço para o diagnóstico e tratamento corretos.
Dependendo principalmente da localização e do tamanho do trombo, os sintomas
são dor, inchaço quase sempre em uma das pernas, alteração da cor da pele para
arroxeado e rigidez da musculatura da “barriga” da perna, a panturrilha.
O tratamento da TVP é feito com anticoagulantes e deve ser instituído o mais rápido possível, evitando a embolia pulmonar e a morte. A orientação médica quanto ao tipo e dose de medicamento, tempo de tratamento e a adesão do paciente são determinantes para o sucesso. Em 13 de outubro, lembramos o Dia Mundial da Trombose, que tem como objetivo aumentar a consciência sobre esta doença entre profissionais da saúde, pacientes e entidades do governo e do terceiro setor. No entanto, devemos estar em alerta para essa afecção todos os dias. Apesar de ser uma doença grave e com risco de vida, a mobilização da sociedade, o conhecimento dos fatores de risco, a orientação médica e a sua participação podem mudar esse cenário.
Joyce M Annichino-Bizzacchi -
médica hematologista, professora e coordenadora da área clínica e laboratorial
de Doenças Tromboembólicas do Hemocentro da Faculdade de Medicina da
Universidade de Campinas (Unicamp), responsável pelo Centro de Doenças
Tromboembólicas do Hemocentro da Unicamp, apoiado pela FAPESP e em parceria com
a Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH), vice-presidente da SBTH
e uma das especialistas porta-vozes do Dia Mundial de Trombose, no Brasil.
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