O receio em relação ao envelhecimento permeia, desde sempre, mais a vida
das mulheres que a dos homens. As causas disso datam de milênios de evolução
humana, durante a qual a mulher sempre foi vista como uma máquina de reprodução
com data de validade, cuja existência tinha como principal sentido a
maternidade. Mulheres que ficavam velhas perdiam sua função na sociedade e,
quando não eram abandonadas, precisavam lidar com o parceiro, também velho, se
relacionando com jovens para perpetuar seu poder de reprodução -- mais longevo
que o feminino.
Ainda bem que não vivemos mais na antiguidade. Hoje temos, à nossa
disposição, a ciência, uma das principais razões para o aumento da longevidade
humana. No início do século XX, a menopausa, que dá início ao climatério, era o
sinal de que o fim da vida estaria chegando, pois a expectativa de vida da
mulher era de até 60 anos em média. Hoje vivemos cerca de 30 anos além desse
marco, permanecemos ativas nesse tempo e... vivemos mais que os homens. Dados
do IBGE coletados em 2020 mostram que, no Brasil, a expectativa de vida das
mulheres é de 79,9 anos - já a dos homens é de 72,8 anos. A OMS confirma essa
tendência no mundo todo, variando em quantidade de anos de uma região para
outra.
Segundo dados da Sociedade Norte-Americana de Menopausa, daqui a três
anos mais de 1 bilhão de mulheres estarão passando pelo climatério em todo o
mundo, o que representa 12% da população mundial. Contudo, ainda há muitas
dúvidas a respeito desse período da vida, inclusive se ele permanece um motivo
de vergonha ou constrangimento de qualquer tipo para a mulher.
Oras, hoje temos mulheres longevas, chefes de família, profissionais,
líderes em grandes corporações, sexualmente ativas e praticando esportes na
fase do climatério. Ou seja, se ele um dia foi motivo de marginalização da
mulher, hoje não é mais. Conseguimos mudar esse jogo. Mas um ponto de atenção é
importante aqui: socialmente falando, o climatério não ameaça mais ninguém, mas
se considerarmos a questão fisiológica, ainda há muito desconhecimento e isso,
sim, joga contra a qualidade de vida das mulheres nessa fase.
Menopausa é menopausa, climatério é climatério.
O climatério é uma transição de anos que engloba a menopausa, sendo a
fase da vida em que a mulher deixa de poder gerar filhos. Já a menopausa, em
si, é um marco mais facilmente percebido: acontece quando a mulher completa 12
meses do último ciclo menstrual. Antes disso, a entrada no climatério promove
uma diminuição gradual e irregular na produção de hormônios femininos, que pode
resultar em uma série de mudanças no corpo, notadas a curto, médio e longo
prazos.
No curto prazo, a aproximação e a chegada da menopausa podem causar
calor, alteração no humor, com possíveis episódios de irritação e até
depressão. Também são percebidas tontura, dor de cabeça e baixa libido. É uma
confusão hormonal tão intensa que há muitos casos de mulheres que acreditam
estarem grávidas nesse período. A médio prazo, além da diminuição do desejo
sexual, pode ocorrer também atrofia urogenital, que é resultado do afinamento e
ressecamento da mucosa que reveste a vagina e causa, em muitos casos, dor
durante o sexo.
Finalizada essa transição -- que dura, em média, 20 anos --, a mulher
deixa a fase reprodutiva e passa para a não reprodutiva. É a mudança de longo
prazo.
Mas nada disso deve ser motivo de dor de cabeça, pois hoje temos a
ciência ao nosso lado. Principalmente a partir dos 40 anos, as mulheres
precisam consultar seus médicos com periodicidade, atentar para a recorrência
na realização de exames preventivos e, em muitos casos, de reposição hormonal.
Não tem segredo, tem cuidado e amor-próprio, e a qualidade de vida plena é
perfeitamente possível dentro desse contexto. Além disso, uma rotina de
exercícios físicos, hábitos saudáveis, cuidados também com a saúde mental e uma
relação de parceria com o médico de confiança são fundamentais. Quem disse que
é pra ter medo da menopausa?
Maria Cândida
Bacarat - ginecologista e coordenadora do curso de Medicina da Universidade
Santo Amaro - Unisa.
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