E-commerce
registrou crescimento em meio à crise de covid-19, mas desejo de maior parte da
população é voltar aos padrões de consumo anteriores, depois do isolamento
Após seis meses de pandemia, uma pesquisa realizada pela FecomercioSP com 400
brasileiros mostra que sete em cada dez (72%) mudaram os padrões de consumo no
período. Os setores mais impactados foram de roupas e calçados (42% dos
entrevistados reduziram o consumo destes itens), viagens a turismo (30%) e
atividades físicas (27%), mas chama atenção, também, o fato de 22% das pessoas
terem cortado custos com bens essenciais, como alimentos e remédios.
A maioria (54%) daqueles que cortaram gastos aponta que o fizeram porque
tiveram diminuição na renda. De acordo com a FecomercioSP, além de variáveis
estruturais, como o crescimento da taxa de desemprego durante a crise sanitária
(13,8% no segundo trimestre, segundo o IBGE) e a alta da inflação,
especialmente sobre preços de alimentos e bebidas (acumulado de 7,3% até
setembro), o próprio isolamento social decretado pelos governos estaduais no
período explica a capilaridade do impacto no consumo: em casa, as pessoas
demandaram mais artigos domésticos e itens que lhes permitissem estabelecer
rotinas na quarentena. Da mesma forma, passaram a comprar mais pela internet.
Isso se revela, por exemplo, no fato de que sete em cada dez pessoas (72%)
estão cozinhando mais em casa do que antes da pandemia, enquanto 42% delas
disseram que, agora, praticam mais atividades físicas no ambiente doméstico.
Houve ainda um aumento de 14% nas compras de itens de construção ou decoração.
Perspectivas do e-commerce
Apontado como a principal alternativa para manter o ritmo do mercado, o
e-commerce se expandiu em meio à crise do coronavírus, mas não deve
necessariamente manter o crescimento no cenário pós-pandêmico.
Segundo o estudo, 46% dos brasileiros aumentaram, de alguma forma, o consumo
online – uma tendência que, aliás, atravessou os estratos de renda: enquanto
41% das pessoas que recebem até um salário mínimo por mês compraram um pouco
mais pela internet do que antes da crise sanitária, este número foi de 39%
entre os que ganham acima de dez salários mínimos.
No ambiente de crescimento da demanda, o setor de serviços saiu na frente: 56%
dos consumidores admitem ter pedido mais comida por aplicativos na quarentena,
enquanto 37% adquiriram algum tipo de curso a distância.
No entanto, a pesquisa também apresenta um alerta aos empresários que apostaram
nas vendas online: quando questionadas sobre como pretendem consumir na
internet depois que o isolamento social acabar, a maior parte das pessoas (47%)
responde que pretende voltar ao patamar pré-crise.
No começo do mês, outro estudo da FecomercioSP mostrou que o e-commerce
registrou um crescimento significativo no primeiro semestre do ano no Estado de
São Paulo: as vendas pela web representaram 3,7% de todo o comércio varejista
paulista no período analisado – uma alta de 0,8 ponto porcentual de janeiro a
junho de 2020, equivalente ao crescimento dos seis anos anteriores.
Para a Entidade, os números de agora sugerem que, após o isolamento, o
e-commerce será mais um suporte para lojas físicas do que propriamente um canal
de vendas autônomo.
Tendências para o varejo no pós-pandemia
Apesar disso, há possibilidades a serem exploradas nas vendas online. A
pesquisa da FecomercioSP mostra, por exemplo, que 53% dos consumidores entre 18
e 35 anos compraram mais pela internet durante a pandemia – esse número é de
40% entre os acima de 35, sugerindo maior penetração entre os mais jovens.
Como tendem a ser mais naturalizados com meios digitais, 64% dos entrevistados
entre 18 e 35 anos afirmaram que a prática de pedir comida delivery se tornou
mais frequente na pandemia (49% entre os acima de 35), enquanto 50% dos mais
jovens embarcaram em alguma formação a distância (26% na outra faixa etária) no
período.
Já levando em conta o recorte de renda, a faixa que vai de um até cinco
salários mínimos demonstra ser a mais ansiosa para voltar às compras. Há,
contudo, planos distintos para cada faixa de renda: pessoas do estrato de renda
mais baixo (até um salário mínimo) pretendem ir atrás de roupas e calçados
quando o isolamento acabar (57%), ao passo que aquelas que estão na faixa entre
um e dois salários mínimos dizem querer adquirir mais eletrodomésticos e/ou
eletrônicos (48%). Os mais abastados (acima de dez salários mínimos), por sua
vez, esperam poder voltar a viajar (45%).
Nota metodológica
A FecomercioSP ouviu 400 pessoas de diferentes idades e faixas de renda entre
os dias 10 e 28 de setembro, no marco dos seis meses do primeiro caso de
covid-19 no Brasil, no final de fevereiro. A margem de erro é de 4 pontos
percentuais.
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