Sempre ouvi, incrédulo, que nenhuma organização criminosa com o porte e a extensão adquirida pela que se apoderou do Brasil conseguiria agir sem seus tentáculos alcançarem o Poder Judiciário.
As dúvidas
que tinha caíram ante a conduta servil de alguns ministros do STF à advocacia
dos criminosos; caíram ante o manifesto
rancor que têm pela Lava Jato e seu empenho em fatiá-la; caíram ante tudo que
fazem, enfim, para anular seus efeitos enquanto vestem a impunidade com o mais
cínico manto dos bens jurídicos inalienáveis.
Nós,
cidadãos, passamos a contar votos no STF... Querem nos convencer de que cada
placar expressa uma decisão "institucional", resultado legítimo de
uma contenda "democrática". Ora, senhores! Isso é institucionalidade
e democracia de valhacouto, onde só interessa saber quem se salva. Sim, porque
- malgré tout (a chicana adora francês) - ainda há quem preserve a dignidade e pense
no país. A esses poucos, os nossos respeitos. E a tremeluzente chama da nossa
esperança.
Em sua
Oração aos Moços, Rui fala do agigantamento do poder nas mãos dos maus e deduz
que, diante dele, o homem chega a rir-se da honra e envergonhar-se da honestidade.
Rui não fazia idéia do que estava por vir. O que percebo no Brasil, o que sinto
na carne, nos ossos e na alma é um desejo de que este tempo passe, de que esses
mandatos se extingam, de que esta geração de poderosos desapareça.
O que estou aprendendo, nos
meus tantos anos já contados, é a odiar a indignidade, a desonra, e o
menosprezo a valores sem os quais nenhuma nação se sustenta. E a amar cada vez
mais os bens morais que inspiraram os fundadores da pátria e que aos poucos se
foram dispersando sob a tirania dos donos do poder.
Não, não pode ser
coincidência que tão desqualificada composição do Supremo esteja em exercício
neste tempo, nestes dias. Não, o mal não joga dados! A operação mãos sujas tem
a mesma idade da organização criminosa.
Nasceram na mesma maternidade e do
mesmo ventre - a Constituição de 1988.
Percival Puggina - membro
da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org, colunista
de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e
Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário