Hoje indispensável em nosso
cotidiano, a origem da faca remete à aurora da humanidade. Assim, uma série de
curiosidades envolve esse importante item, que acompanha de perto nossa
evolução. Conheça agora nove delas:
Facas de
pedra
Os primeiros objetos utilizados como faca pouco
lembravam o item cortante e pontiagudo que conhecemos hoje. Eles foram criados
por nossos antepassados, que aprenderam a lascar as bordas de rochas para
torná-las afiadas e propícias para cortar e raspar os alimentos. Isso no
período pré-histórico Paleolítico (não à toa popularmente conhecido como Idade
da Pedra Lascada), que teve início a aproximadamente 2,5 milhões de anos e se
estendeu até por volta de 10.000 a.C.
Além de ajudar na hora de preparar a comida,
essas lascas serviam como arma e instrumento de caça aos humanos, que ainda
viviam como nômades caçadores e precisavam encarar feras assustadoras. Mais
tarde, já na Idade dos Metais, por volta de 5.000 a.C, o homem pré-histórico
desenvolveu a técnica da fundição, criando ferramentas e armas de metal –
primeiro em cobre e depois em bronze, até chegar à metalurgia do ferro. Muito
mais adiante, no século 16, o aço passou a ser o queridinho dos fabricantes.
Tesouro
para outras vidas
Para se ter uma ideia do valor dessas
ferramentas na Antiguidade, muita gente pedia para ser enterrada com elas.
Entre eles, os escandinavos, habilidosos artesãos de facas luxuosamente
decoradas, repletas de adornos e pedras preciosas.
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A faca que
veio do espaço sideral
A adaga encontrada no túmulo do faraó veio
literalmente do espaço sideral: ela foi forjada com o ferro de um meteorito
(fragmento de um asteroide, cometa ou resto de planeta que chega à superfície
da Terra). Daí, logo especialistas desvendaram um outro mistério: as
referências encontradas em diversos textos egípcios e mesopotâmicos que
remetiam a um certo “ferro caído do céu”.
Por mais assombrosa que pareça a história, esse
material nos é razoavelmente familiar, principalmente para os gaúchos. Isso
porque os pampas (a região de vastas planícies da América do Sul) têm um
talento natural para atrair a queda de meteoritos. E adivinhe só: os gaúchos
que vivem nesses campos também os transformam em facas há bastante tempo. Eles
as apelidavam de “facas de raio guaxo”.
Fazendo as
vezes de garfo
Além de instrumento de sobrevivência, as facas
foram os primeiros talheres da humanidade, servindo tanto para cortar os
alimentos quanto para levá-los à boca (o garfo de mesa só se tornaria popular
depois do século 10). Essa importância foi registrada pelo filósofo estoico
grego Posidónio, ao narrar um festim na Galia (região da Europa que abrange a
França, Bélgica, oeste da Alemanha e norte da Itália), em 97 a.C. Como
exercício, tente imaginar a cena de um bando de gente esfomeada devorando cada
pedaço de comida com uma voracidade selvagem. Incidentes (alguns fatais)
certamente ocorriam naquelas ocasiões.
Cada faca
na sua bainha
O grau de sofisticação dos objetos servia até
mesmo como símbolo de status: os nobres possuíam peças de alto requinte,
trabalhadas com esmero. Não era de espantar que seus donos gostassem de
levá-las para o sono eterno.
Para além
do sushi
Um dos povos mais talentosos no manuseio desses
objetos são os japoneses. No século 17, os samurais andavam com uma bainha de
espada que possuía uma espécie de bolso para carregar facas pequenas.
Delicadamente elaboradas, elas eram chamadas de kozuka, e serviam para cortar
alimentos. Além de técnica para produzi-las, era necessário o domínio da
habilidade de afiá-las, tarefa dificílima e tida como arte em terras nipônicas.
Nada de
pontas na França!
Naturalmente pontiagudas, as facas passaram a
ter ponta arredondada por ordem de um cardeal francês do século 17: Cardeal de
Richelieu, primeiro-ministro de Luís XIII (o antecessor de Luís XIV, o “Rei
Sol”) e um dos principais nomes do absolutismo europeu.
Tallemant des Réaux, poeta e escritor francês
da época, conta que isso aconteceu quando o político viu seu chanceler
palitando os dentes com uma faca. Horrorizado com a prática, ele ordenou que
todos os instrumentos, a partir de então, tivessem suas pontas arredondadas.
Outra versão, de autoria do sociólogo alemão Norbert Elias, conta algo
semelhante, mas cuja origem teria sido a violência nos banquetes. Assim,
qualquer tenha sido a razão, os cuteleiros franceses tiveram de obedecer e
produzir apenas itens com ponta arredondada.
Fazer facas: uma arte?
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Inclusive, anualmente, São Paulo sedia um evento chamado Mostra Internacional de Cutelaria. Em 2018, a exposição acontece em 5 e 6 de maio, no Centro de Convenções Frei Caneca, sob organização de Roger Glasser.
A faca
mais cara da história
Mais de 2 milhões de dólares. Sim, você leu
bem. Esse foi o preço pago pela faca mais cara da história, batizada “The Gem
of the Orient”. Ela foi produzida pelo estadunidense Buster Warenski e é feita
de nada mais, nada menos que 153 esmeraldas e 9 diamantes.
O renomado cuteleiro teria levado cerca de 10
anos para concluir sua obra-prima, que foi vendida originalmente a US$ 1,2
milhões (mais tarde, o comprador, em uma jogada de mestre, vendeu-a por quase o
dobro do valor: US$ 2,1 milhões). É de se imaginar que essa lâmina nunca tenha
visto, sequer de perto, um alimento, não?
Roger Glasser- Desde
2007 no mercado de cutelaria, filiado a American Bladesmith Society, mestre
pela Corporazione Italiana Coltellinai, diretor da Escola Brasileira de
Cutelaria, consultor de cutelaria e organizador da Mostra Internacional de
Cutelaria.
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