Há um jornalismo que acabou. Fala com as
paredes. Irresignado ante a falta de eco, cospe no vento. Cisca no dicionário
adjetivos que, de tão mascados, se tornaram rejeitos de lixo orgânico, direto
ao saco preto. O vocabulário com que o "politicamente correto" se
protegia entra num debate, hoje, murcho como maracujá. Quem leva a sério o adjetivo
"reacionário!", ou "conservador!", ou
"neoliberal!" (lembram dele?), ou ainda o "fascista!", que
os próprios comunistas gastaram mundo afora contra seus adversários antes do
tiro na nuca?
Durante décadas, esses senhores foram os
regentes das redações, onde desfilavam proféticos, iluminando o mundo com
olhares que se derramavam sobre uma nova humanidade e um novo tempo. Eram os
kaisers do quarto poder, ditando as normas técnicas para a engenharia do
brilhante futuro. Perder tempo com eles, agora, é como contemplar a alvorada de
um passado que se refuga. Xô! Quebraram o Brasil, acabaram com a Educação e
atacaram, um a um, os valores que sustentariam moralmente a nação.
A sociedade compreendeu, por fim, que,
tanto quanto ela precisa conservar valores que orientem as ações humanas para o
bem (conservadorismo), a economia precisa de liberdade (liberalismo) para
evoluir. Se observarmos atentamente, veremos que isso é tudo que o velho
jornalismo militante, mãos dadas com os camaradas do mundo acadêmico, se
dedicou a destruir; e que parcela importante do clero católico se descuidou de
preservar.
Tem duas razões fundamentais para viver,
esse jornalismo. A primeira é servir de memorial adulterado dos "anos de
chumbo". Vivem na nostalgia daquele período, misturando a saudade da
própria juventude com o tempo em que conseguiram articular um discurso cuja
consequência, em tese, rimava com a causa. A segunda é combater liberais e
conservadores, qualificando-os como fascistas. Mas, sem direito a tiro na nuca,
tudo fica menos produtivo. Fazer o quê? Mudar-se para Cuba ou para a Coreia do
Norte?
Não recordo, ao menos em passado recente,
de esforços retóricos tão velhacos, tão fraudulentos, quanto os empregados nas
últimas semanas por esse jornalismo para tentar convencer a sociedade de que:
· os
conservadores seriam hipócritas bradando contra nudez e erotismo na arte;
· gravuras
grotescas dedicadas a sujos entreveros sexuais, se expostas em ambiente
cultural, deveriam merecer a mesma reverência de conhecidas obras-primas da
arte universal;
· sentimentos
e atitudes tão diferentes entre si como repulsa, indignação e boicote seriam
"sinônimos" de censura;
· sexo
não existiria, o que existe é gênero e toda criança deveria começar a aprender
isso no bercinho da maternidade;
· as redes sociais
seriam uma terra de ninguém tomada pela direita raivosa.
Quem faz afirmações assim não está a
mudar de assunto. Está a corromper a razão, conforme mencionei em recente vídeo. Há semanas repetem isso ao país e querem
credibilidade? Pretendem seguir influenciando a opinião pública? Subestimam a
inteligência daqueles com quem se comunicam! Foi ao servir nacionalmente esse
cardápio de falsidades que o velho jornalismo militante deu extraordinário
alento aos bons conservadores e aos bons liberais. Refiro-me aos conservadores
que estimam a liberdade e aos liberais que reconhecem a necessidade de
preservar valores morais.
A sociedade não se escandaliza com nudez
desde 22 de abril de 1500 e pouco se interessa pelo que acontece atrás das
portas, desde que seja vedado o acesso a crianças. Mas entendeu, perfeitamente
bem, ser isso que jogou o velho jornalismo militante na pornomilitância.
O silêncio que cai sobre ele vem por
overdose de si mesmo.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo
Pensar+.
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