Falta de
informação faz jovens com ceratocone, doença degenerativa na córnea, cometerem
graves erros no tratamento.
Metade dos jovens que sofrem com ceratocone, maior causa de
transplante de córnea no país, só tem o diagnóstico aos 20 anos de idade ou
mais. É o que mostra uma pesquisa inédita que acaba de ser realizada com 315
portadores da doença pelo oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio
Queiroz Neto. O ceratocone, afirma,
geralmente aparece aos 16 anos e torna a visão desfocada porque afina e
deforma a córnea, lente frontal do olho.
Para o médico, os portadores vivem uma superação a cada dia.
Têm de suportar visão embaçada, coceira, vista cansada, dor de cabeça,
fotofobia, dificuldade para enxergar à noite, trocas sucessivas de óculos e dificuldade de adaptação às
lentes de contato. No Brasil são 100 mil jovens segundo estimativa do CBO
(Conselho Brasileiro de Oftalmologia).
O diagnóstico anos depois do acometimento pode acelerar ou
inviabilizar a aplicação de crosslink e o implante de anel intracorneano, dois
procedimentos que evitam o transplante. Isso porque, explica, a progressão da
doença varia muito e a córnea deve ter a espessura mínima de 400 micras para
receber estas terapias.
Outro risco apontado pela pesquisa é o fato de um quarto dos
participantes só consultarem o oftalmologista quando sentem algum desconforto
ou alteração no grau. Queiroz Neto afirma que o ceratocone é uma doença
degenerativa que não dói. Por isso, o acompanhamento médico periódico a cada 6
meses ou 1 ano conforme a gravidade da doença é essencial para manter a saúde
ocular.
Mau uso de lente de contato
A pesquisa também mostra que 61% usam lente de contato para
corrigir a visão. A rígida é o tipo mais usado, mas para 41% é desconfortável.
O especialista diz que para resolver o problema
só existem duas alternativas: o implante de anel intracorneano e a adaptação de lente escleral. Em córneas
muito deformadas, só o implante pode melhorar o conforto, mas precisam ter
condições fisiológicas para receber o dispositivo.
Outro problema entre jovens com ceratocone é o fato de só 3
em cada 10 ter um par de óculos para descansar os olhos da lente em casos de
alergia ou outra doença na superfície
ocular. "Mesmo que os óculos não ofereçam boa correção visual, toda pessoa
que usa lente de contato precisa ter um par de óculos para algumas situações de
emergência", afirma. Insistir no uso da lente pode ferir a córnea e
provocar outras complicações.
As falhas mais comuns no uso de lentes são:
ü 18% as vezes dormem com lente prejudicando
a oxigenação da córnea.
ü 12% contaminam a lente por não
lavarem as mãos antes de manipular.
ü 36% desconhecem que as mãos devem ser
lavadas com água e sabão.
ü 80% não trocam o estojo a cada 4
meses.
ü 54%
guardam a lente no banheiro e expõem a córnea a contaminação.
ü 68% antecipam a validade da lente
instilando colírio sobre ela.
As principais recomendações do médico para evitar
complicações com lentes são:
Lavar cuidadosamente as mãos com água e sabão antes de
manipular as lentes.
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Utilizar soluções tanto na limpeza quanto no enxágüe das
lentes e estojo.
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Friccionar as lentes para eliminar completamente os
depósitos
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Não usar soro fisiológico ou água na higienização
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Retirar as lentes antes de remover a maquiagem e quando
usar spray no cabelo
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Colocar as lentes sempre antes da maquiagem
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Guardar o estojo fora do banheiro em ambiente seco e limpo
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Trocar o estojo a cada quatro meses
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Respeitar o prazo de validade das lentes
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Jamais dormir com lentes, mesmo as liberadas para uso
noturno.
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Interromper o uso a qualquer desconforto ocular e procurar
o oftalmologista
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Retirar as lentes durante viagens aéreas por mais de três
horas
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Não entrar no mar ou piscina usando lentes.
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Crosslink é desconhecido por 47%
Dos participantes desta pesquisa, 47% afirmam desconhecer o
crosslink. Queiroz Neto explica que a terapia interrompe a progressão do
ceratocone, aumentando a resistência da córnea em até 3 vezes, através da
aplicação de vitamina B2 (riboflavina), associada à radiação
ultravioleta. O levantamento mostra que 88% dos pacientes conquistaram a
estabilização da doença e 45% tiveram melhora da visão. Segundo o
oftalmologista quanto antes o crosslink for aplicado maiores são as chances de
obter bons resultados. "Temos vários casos de pacientes no início da adolescência
que conquistaram regressão do grau", afirma.
Outros procedimentos
O médico conta que o levantamento
também comprova que a visão melhorou
para 74% dos que implantaram anel intracorneano, além de melhorar a adaptação
às lentes de contato. Já dos que passaram por transplante 82% tiveram melhora
da visão, sendo que metade tiveram um grande ganho visual. Mas para o
especialista que já realizou milhares de
transplantes o ideal é manter a integridade dos olhos.
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