Opinião
A inflação pode ser definida como o aumento generalizado de preços na economia. Dos muitos traumas que este país enfrenta, essa é uma das mazelas que mais assombra os brasileiros, seja por nossa história recente de hiperinflação, seja pelo terror de uma maioria pobre ver os rendimentos do seu trabalho corroídos e comprando cada vez menos. A inflação é daqueles muitos problemas brasileiros que pioram quando combinados com a desigualdade: a classe mais baixa não só é a menos preparada para a alta inflação como também a parcela da sociedade que mais sofre com ela.
Dados de setembro do Instituto Brasileiro de
Economia e Estatística (IBGE) mostraram um recuo da taxa de inflação no Brasil,
mais conhecido como o fenômeno da deflação. O Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) apresentou uma queda de 0,29%, a terceira queda mensal
consecutiva. No acumulado de 12 meses, a inflação brasileira já figura na casa
dos 7,1%, em queda, principalmente, por conta da redução nos preços dos
combustíveis e da energia elétrica, além do efeito das entressafras de alguns
alimentos.
O presente cenário de deflação coloca em questão se
finalmente a inflação dará uma trégua aos brasileiros e é neste ponto que as
análises precisam ser cautelosas. Primeiro, porque parte desse cenário pode ser
considerado artificial, dados os incentivos de ano eleitoral como a desoneração
de alguns setores como combustíveis e energia elétrica. Conforme apresentado no
Relatório Focus de 7 de outubro de 2022, o mercado já espera para 2022 uma
inflação de 5,7%, reduzindo a expectativa para o ano de 2023 para 5% e 3,4% em
2024. Essa expectativa corrobora a última decisão do Banco Central em encerrar
o ciclo de alta das taxas de juros, com expectativa de redução para o próximo
ano.
Otimismos exacerbados à parte, resta saber quanto
dessa redução de preços é orgânica e condizente com a retomada econômica e
quanto poderá ser neutralizada com os desdobramentos geopolíticos e a incerteza
no cenário nacional e internacional. Anos eleitorais distorcem índices,
cenários e percepções e, portanto, fica difícil qualquer análise baseada em
expectativas. A combinação da política monetária brasileira junto às
desonerações e efeitos externos dos preços dos combustíveis resultaram em uma
deflação que dificilmente se sustentará por muito tempo. Aliás, nossa
preocupação não deve ser se a deflação irá continuar, mas se conseguiremos
manter a estabilidade dos preços.
Qualquer que seja o resultado das eleições, lidar
com as más decisões orçamentárias deste ano será um grande desafio que não virá
com respostas fáceis. Não só a estabilidade de preços, mas também a manutenção
do emprego e o aumento da renda, ainda que não estejam no centro do debate
agora, terão de ser enfrentados. Uma das lições básicas dos livros de economia
é que uma certa dose de otimismo faz bem, já que a expectativa de crise pode
ser capaz de gerar uma crise. Mas, como o Brasil já sabe, só otimismo não será
suficiente para nos colocar de volta em uma rota de crescimento.
Walcir
Soares Junior (Dabliu) - doutor em Desenvolvimento, é professor do curso de
Ciências Econômicas na Business School da Universidade Positivo.
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