Assédio,
machismo, falta de oportunidades, salários menores, síndrome da
impostora, esses são apenas alguns dos obstáculos que as mulheres vêm
enfrentando no mercado da comunicação e marketing; especialistas listam os principais
desafios das mulheres nesse meio
No dia 19 de novembro, comemoramos o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. Essa foi uma data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2014, que busca destacar e valorizar o papel das mulheres no mundo do empreendedorismo. As mulheres passam por diversos desafios tanto na vida pessoal, quanto profissional.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mulheres superou em 4,8 milhões o de homens no Brasil. A população estimada em 2021 é de 212,7 milhões de pessoas. Desse total, 108,7 milhões (51,1%) são mulheres. Mesmo sendo maioria ainda não desfrutam da justa representatividade do seu desempenho dentro das empresas, principalmente entre os cargos de liderança.
Outro dado também
importante é do relatório “Women in the Workplace 2021”,
da consultoria McKinsey, que revela que quanto mais alto for o cargo, menor a
presença feminina - enquanto há 62% de homens brancos na alta liderança
(C-Suite), há apenas 20% de mulheres brancas. De homens de cor, há 13%, e o
percentual de mulheres é ainda mais baixo, atingindo apenas 4%.
Abaixo, as especialistas listam 15 Desafios das mulheres para 2023. Confira:
1 - Equidade Salarial: “A diferença entre o salário recebido por homens e mulheres é antigo tópico de discussão e luta, em várias áreas. Apesar disso, progride a passos lentos pois ainda é comum notar a mesma vaga com salários e benefícios completamente diferentes e menores para as mulheres, principalmente em posições criativas ou de liderança, mesmo que isso se revele na abertura que determinada empresa tem na negociação na hora da contratação", revela Fernanda Ramos, especialista em comunicação e diretora de marketing com mais de 18 anos de experiência.
Para se ter uma ideia, são frequentes os casos em que o masculino recebe 20% a mais do que o feminino. Os números mostram a discrepância salarial entre homens e mulheres: em 2019, o rendimento médio mensal deles no Brasil foi 28,7% maior. Segundo o IBGE, enquanto os profissionais do sexo masculino receberam R$ 2.555 – acima da média nacional de R$ 2.308 -, as mulheres ganharam R$ 1.985.
2.
Autoconhecimento: “Quando falamos de
mulheres no mundo corporativo, seja em posição de liderança ou não, uma das
principais lições que devemos ter é sobre autoconhecimento. Dentro de um
negócio, as mulheres entendem e aprendem sobre seus próprios pontos fortes e
também ganham a oportunidade de utilizá-los a seu favor. Por outro lado, o
autoconhecimento também é importante na hora de conhecer suas próprias
limitações e pontos fracos, e utilizar disso para ter a chance de modificá-los.
Dessa forma, o crescimento segue sendo crescente - tanto pessoal quanto
profissionalmente falando”, explica Dani Verdugo, CEO do Grupo THE.
3 -
Machismo: O machismo predomina nos arredores
políticos que são marcados pela baixa representatividade feminina. A sobrecarga
de atividades atribuídas às mulheres pela sociedade, os empecilhos do sistema
político-partidário, o preconceito e a desvalorização das mulheres muitas vezes
as mantém longe da candidatura.
“É fato que não se
pode negar a realidade do preconceito e machismo contra mulheres e mães tanto
na política como no mercado de trabalho atual. Não deveria ser assim, mas é a
realidade, para se destacar a mulher tem que ser tecnicamente muito melhor
qualificada do que qualquer homem que exerça a sua mesma função e ainda ter
garra para dar conta, com mestria das suas duplas e, às vezes, triplas jornadas
de trabalho. Mas na minha visão, o principal é ser uma candidata focada em
resultados. Se o resultado final do seu trabalho é acima da média, isso vai ser
o seu cartão de visitas”, diz Larissa DeLucca, que é CEO da Negócios Acelerados
e Diretora da Fundação Mulheres Aceleradas.
4. O apoio
entre as mulheres: “O que todos
precisamos entender é que nenhuma caminhada se faz sozinha. Quando as mulheres
acreditam uma na outra, se apoiam e lutam todos os dias para ocupar espaços de
destaque dentro das empresas, isso serve para abrir portas para outras mulheres
também. O percurso nunca é fácil, por conta disso, quando uma mulher
conquista um espaço de destaque e liderança dentro de uma organização, ela
tende a puxar outras mulheres com ela para que façam parte desse
crescimento”, indica Dani Verdugo é CEO do Grupo THE,
grupo de empresas dedicado à alta performance através de pessoas constituído
por: Executive Search, na THE Consulting; a THE Projects em Talent Development
e a THE Tech, uma Edtech.
5 - Assédio no ambiente de trabalho: “A desigualdade de gênero ainda cria outros obstáculos no ambiente de trabalho, causando conflitos e gerando impactos psicológicos negativos para as mulheres. Nesse cenário, é muito comum citarmos o assédio sexual como um dos principais problemas mas existem outros tipos de assedios e despespeitos muito cometidos contra mulheres. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Aberje aponta que 72% das mulheres ja’ sofreram algum tipo de assédio no trabalho. Em meio a essa realidade, sempre acredito que informação e conhecimento são nossos melhores aliados, como sociedade e como times diversos que precisam conviver, colaborar e evoluir. No ambiente corporativo, é preciso que mulheres e homens se unam com o mesmo objetivo, com amplo apoio da liderança, a fim de implementar canais cada vez mais seguros de comunicação, aconselhamento, denúncia e gestão de consequências", orienta Fernanda Ramos, especialista em comunicação e diretora de marketing com mais de 18 anos de experiência.
6 - Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional: Pesquisas da ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil) mostram que é grande o número de pessoas que negligenciam a vida pessoal ao se dedicar mais à profissional por medo de demissão ou de ficar para trás em promoções.
“Apesar dessa
pauta estar sendo discutida há décadas, ela nunca foi tão atual como agora. Na
realidade pós-Covid, onde a delimitação de espaços entre casa-escritório segue
ainda em processo de redesenho, as organizações estão ficando para trás e
demorando para se adaptar às novas demandas e necessidades de suas equipes e de
suas famílias. Muitos profissionais estão exercendo seu poder de decisão e
tomando para si o protagonismo nessa discussão, equilibrando a balança de poder
entre empregado e empregador. É um movimento que precisa acontecer tanto entre
mulheres quanto entre homens, também baseado em dados que comprovam a melhora
da produtividade, da entrega das equipes e também da saúde física e emocional
do colaborador. Para funcionar, o propósito deve estar alinhado com o propósito
da empresa”, esclarece Fernanda Ramos, especialista em comunicação e diretora de marketing com
mais de 18 anos de experiência.
7 -
Falta de oportunidade de promoção: Uma
pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio
Vargas (FGV-IBRE) apontou que, desde 2012, a taxa de desemprego das mulheres é
superior à dos homens. De acordo com o levantamento, o índice de desempregadas
era de 16,45% em 2021, o equivalente a mais de 7,5 milhões de mulheres. No
total, o índice médio anual de desemprego na economia foi de 13,20% em 2021, de
acordo com o levantamento. O estudo foi feito com base em análise de dados da
PNAD de 2021, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). “Esse é mais um efeito da mesma causa. Para além de respeitar e
legitimar as mulheres em qualquer posição que seja, é necessário compreender
que existe um déficit histórico e que a aceleração da solução passa por pensar
ativamente na geração de oportunidades, desenvolver estruturas e abrir vagas
pensadas e direcionadas para a equidade de gênero”, complementa Fernanda.
8.
Reconhecimento de valores: “Quando
encontramos mulheres em posições de liderança dentro de uma empresa, sabemos
que o papel dela será fundamental para criar ambientes mais criativos e
acolhedores. Além disso, as líderes femininas também costumam ter um olhar mais
empático e sensível com os colaboradores, algo que ajuda no reconhecimento de
valores - tanto no reconhecimento de valor de um colaborador, quanto no impacto
direto nos valores da organização”, conta Dani Verdugo.
9.
Faça a sua voz ser ouvida: No
mercado de trabalho, não é raro que mulheres sejam silenciadas por suas
opiniões, muitas vezes não são ouvidas apenas pelo gênero. “É importante saber
que a argumentação não servirá somente no aspecto profissional, mas no pessoal
também. No mundo dos negócios vendemos nossas ideias e projetos todos os dias
para parceiros, fornecedores e líderes. Damos e recebemos feedback. Isso diz
muito sobre a importância de sabermos veicular nossas ideias e ideais de uma
forma clara e convincente, mas não somente no ambiente profissional, mas
principalmente pessoal”, mostra Maytê Carvalho, professora,
comunicóloga e autora do livro “Ouse Argumentar: Comunicação assertiva para sua voz
ser ouvida”.
10.
Não se deixe ser silenciada: “Em
alguns momentos, é comum que os debates terminem em ofensas e tons de vozes
elevados. Nesses casos, é importante pedir um tempo e continuar a discussão em
outro momento. Não podemos confundir tempo-limite com tratamento de silêncio. O
primeiro é empático, o segundo é perverso. São utilizados por narcisistas como
forma de punir e constranger o outro. Além disso, é necessário ficar atento a
como as pessoas podem utilizar da argumentação a seu favor. Muitos manipulam o
interlocutor com falácias e ultimatos como, por exemplo, a falácia do ataque
pessoal ou do apelo à misericórdia. É preciso estar atento e vigiar como nós
falamos com os outros e como os outros falam conosco. Toda fala revela
dinâmicas invisíveis de poder e de influência”, conclui Maytê.
11
- Violência no relacionamento: a grande parte das mulheres só percebe que está em um
relacionamento patriarcal quando começa a sofrer violência, seja ela qual for o
tipo. “O que acontece é que o casal pode identificar se está nesse tipo de
relação ou com requisitos patriarcais sem chegar ao nível da violência. A
principal dica é sempre conversar, perceber se estão operando em atitudes
estereotipadas e conversar sobre as exigências que um tem em relação ao outro.
Infelizmente, isso exige um nível de autoconhecimento no nível de consciência
sobre as formas de opressão, algo que a maior parte dos brasileiros não tem.
Então, a identificação de um relacionamento patriarcal e abusivo, acaba
acontecendo somente quando a mulher começa a sofrer violência”, explica Mayra Cardozo, advogada especialista em Direitos Humanos e Penal, também
é mentora de Feminismo e Inclusão e líder de empoderamento.
12 - A
baixa autoestima: nesses
casos de relacionamento, a autoestima e a autoconfiança ficam cada vez mais
minimizadas. “As mulheres começam a se diminuir, seja na relação ou em outros
ambientes que ela frequenta. Se ela costuma ter uma postura submissa em casa,
em que o homem gere o dinheiro da casa, toma as últimas decisões e ela atua de
uma maneira servil, provavelmente essas atitudes são reproduzidas no ambiente
de trabalho. Dessa forma, a mulher começa a ter uma postura, não só em relação
ao seu parceiro, mas ao longo da vida, de passar o tempo todo sem ter voz
ativa, se desempoderar de tomar o rumo da própria vida, passar a vida em um
backstage e não no palco porque o palco já está ocupado pelo homem”,
completa Mayra Cardozo.
13 -
Ajuda psicológica: o
tratamento psicológico é importante tanto para quem está em processo de
descobrir que está em um relacionamento patriarcal, quanto para quem já saiu.
“É importante fazer um tratamento e trabalhar em um processo de
autoconhecimento, em que seja capaz de perceber e questionar as crenças que ela
tem sobre os relacionamentos, sobre qual deve ser a função de uma mulher, o que
ela quer para a vida dela. Muitas vezes, sem conhecer as crenças que carregam,
mesmo após sair de um relacionamento patriarcal e abusivo, a mulher acaba se
envolvendo em um outro relacionamento assim. A melhor maneira de se curar de um
relacionamento abusivo é passar por um processo de autoconhecimento, em que a
mulher questione aquilo que foi introjetado nela, para que ela não seja mais
atraída por essas formas de relacionamento”, entende Mayra Cardozo.
14 -
Conhecimento: para entender os
sinais, sobre estar em um relacionamento patriarcal ou não, é preciso ter um
nível de consciência sobre o que é ter um relacionamento desse. “É importante
entender o que é o patriarcado, o que é uma pessoa machista e o que a mulher
entende sobre o feminismo. Infelizmente, a maior parte das pessoas não têm essa
consciência e acaba sofrendo situações abusivas e machistas sem saber que é
algo errado. Uma dica necessária é estudar sobre isso, sobre o feminismo, sociedade
patriarcal, crenças introjetadas na sociedade. Entender irá criar um arcabouço
teórico para que a mulher se sinta confiante de falar que está sofrendo um
relacionamento desse”, diz Mayra Cardozo, advogada especialista em Direitos Humanos e Penal, também
é mentora de Feminismo e Inclusão e líder de empoderamento.
15 - Novas fontes de amor: para quem consegue deixar um relacionamento patriarcal e
abusivo, é importante ter em mente a necessidade de encontrar outras fontes de
amor e se empoderar. “Não adianta nada deixar o relacionamento e acabar se
envolvendo com outras pessoas que são machistas, misóginas e vão configurar
novos relacionamentos abusivos. O ideal é que a mulher vá norteando a sua fonte
de amor, para que tenha mais confiança para sair de um relacionamento que a faz
sofrer, e consiga encontrar uma outra realidade de amor e relacionamento com
seus próximos parceiros”, conclui Mayra Cardozo, advogada especialista em Direitos Humanos e Penal, também
é mentora de Feminismo e Inclusão e líder de empoderamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário