O ato de comprar sempre esteve atrelado a busca pelo prazer ou satisfação, e sua ação é uma troca em que o dinheiro é a forma de intercâmbio. Contudo, tendo em vista o percentual de desempregados aumentando, a cada dia, ele se torna cada vez mais escasso em muitos lares. A busca por saciar as necessidades impostas por apelos promocionais, principalmente, em época de Black Friday, tornou-se um exercício muito difícil, já que na outra ponta, há a diminuição dos prazeres, por conta do confinamento social imposto.
Temos no atual momento uma situação atípica, se pensarmos que o número de horas
que passamos vinculados a internet, seja por conta do Home office, necessário
nesta situação de pandemia, ou mesmo, a vida que passou a girar entorno das
facilidades e entretenimento oferecidos em redes sócias, ou em serviços de
streaming por assinatura que permitem assistir filmes, séries etc. Podemos nos
preocupar com tudo isso, já que o sujeito acaba sendo limitado apenas a
categoria de consumidor, objetivando-o e/ou vulnerabilizando-o, diante dos
fortes apelos comerciais, os quais passamos mais tempo recebendo.
O que se percebe é que as empresas estão investindo cada vez mais nas vendas
on-line, aumento consideravelmente do e-commerce. De acordo com a Associação
Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o Brasil registrou aumento mensal
médio de 400% no número de lojas on-line abertas durante o período da
quarentena, saltando de 10 mil para 50 mil.
O consumismo torna-se a fonte de prazer e o comprador acaba perdendo o controle
na hora da compra, isso se caracteriza como compulsão, levando o sujeito ao
sofrimento por descontrole. A relação das pessoas com compras, em datas
comemorativas, ou mesmo, nesse período da Black Friday, pode tornar-se doentio,
pelo desejo de atender ao chamado tradicionalismo da troca de presentes, ou
mesmo, o impulso vinculado ao desejo de ter determinados produtos, independente
de possuir reservas financeiras ou não, isso pode representar possíveis
psicopatologias, tais como, transtorno de controle de impulso ou Oniomania.
Sabemos que a economia do país, principalmente, neste momento delicado de
Pandemia, deve ser estimulada, por isso essas datas são tão importantes para o
comércio e para as empresas. Nesse sentido, vemos várias reportagens dando
dicas de segurança para compras on-line de forma segura, devemos considerar que
são dicas valiosas, mas não vemos com a mesma frequência alertas de como
resistir a compras, se isso lhe dará o prazer momentâneo, porém enorme dor de
cabeça orçamentária em suas finanças pessoais. O frenesi desse momento e os
estímulos dados, levam muitas pessoas a cederem ao impulso. No entanto, assim
como há dicas de como comprar, o alerta posto neste artigo, pode ajudar pessoas
a pensarem um pouco mais, e descobrirem, se realmente é necessário o consumo ou
se não é pertinente resistir a certos apelos comerciais.
Marcelo Alves dos Santos - psicólogo e professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie em Campinas.
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