Sistema
milenar possibilita autoconhecimento a fim de aprimorar características
pessoais e relacionamentos; a ferramenta pode ser aplicada nos negócios, na
família e individualmente
Cada pessoa enxerga e reage de
forma diferente às situações do dia a dia. Segundo o Eneagrama, um sistema
milenar de autoconhecimento, essas diferenças de pontos de vista se dão através
de nove personalidades padrão. “É como se cada pessoa recebesse óculos para ver
o mundo. O formato da lente destaca ou isola certos aspectos e gera atitudes
diversas, mesmo diante da mesma circunstância”, explica Denise dos Ouros,
professora de Eneagrama e coach.
Para
Denise, a maior parte dos desentendimentos e conflitos é causada pelo fato de
não conhecermos e respeitarmos o ponto de vista alheio. “Por exemplo, uma
simples goteira pode dar origem a diversas reações. Como exemplo, cito o
compositor Chopin, o qual teve um relacionamento amoroso com a escritora George
Sand. Conta a lenda que durante um período de chuvas, gotejava no bangalô onde
estavam hospedados, na Espanha. Ao ouvir o barulho da água pingando, Chopin
sentou-se ao piano, reproduziu o som e compôs ‘A Gota D´água’. Ao passo que
George procurou pela caixa de ferramentas, arrastou uma mesa, subiu sobre ela e
começou a consertar o local por onde a água entrava”, compara.
Denise
comenta os perfis de Chopin e George segundo o Eneagrama. “Arriscaria dizer que
Chopin era um tipo 4 e a George Sand era um tipo 8. Eu poderia dissertar sobre
a inteligência que vem do coração, a qual capta a melodia natural de uma
goteira e transforma-a em melodia instrumental. Ou explicar mais sobre a
inteligência que vem do corpo, entra em movimento e parte para a imediata
solução do problema”, detalha a coach.
A
explicação a partir da observação de um fato demonstra como o Eneagrama pode
ser aplicado no dia a dia. “A ferramenta ajuda a superar barreiras, reforçar
pontos fortes e concretizar anseios mais profundos. Propicia o exercício da
empatia, melhorando substancialmente relacionamentos pessoais e familiares. No
campo profissional, sua aplicabilidade está ligada ao desenvolvimento de
lideranças e de equipes com alta performance, prevenção e redução de conflitos
e na melhoria na comunicação”, exemplifica a professora.
Segundo
Denise, a conscientização da pessoa quanto ao seu tipo no Eneagrama não pode
ser imposta, mas reconhecida e aceita para que o desenvolvimento pessoal
aconteça. “Descobrindo a motivação pela qual agimos podemos sair do piloto
automático, encontrando outras maneiras de resolver dilemas, criar
oportunidades e melhorar nossos relacionamentos”, explica.
Quem é quem no Eneagrama?
Tipo 1 | Perfeccionista
Enxerga o
mundo por lentes meio quadradas, procura corrigir a si e aos
outros através de normas, métodos, relógios e disciplinas. O seu crítico interior muitas vezes
não permite que ele relaxe ou se divirta.
Tipo 2 | Doador
Ao vestir esses óculos,
o doador parece ter sempre uma maçã nas mãos, pronta para oferecer ao outro, costuma estar mais preparado para
ajudar do que para lidar com as próprias necessidades.
Tipo 3 | Realizador
Fazendo, realizando,
competindo e conquistando, o realizador vive em busca de uma estrelinha. Quando
olha muito para o céu, acaba esquecendo seus próprios sentimentos.
Tipo 4 | Romântico
Sob emoções muito
profundas, em tons quase dramáticos, o romântico
através dos seus óculos, olha o mundo e observa o que está faltando. Essa falta o
remete para o passado ou para o futuro.
Tipo 5 | Observador
Com esses óculos
o mundo que é
observado parece não
ter nada a oferecer. Daí
o observador volta para sua caverna e armazena o que tem
para si.
Tipo 6 | Cético
O cético
enxerga o mundo como um lugar ameaçador, por isso busca
constantemente proteção e segurança. Tem uma percepção
desconfiada dos fatos que o leva a atacar em alguns casos e o paralisa em
outros.
Tipo 7 | Sonhador
O sonhador vê a sua frente
um mundo de múltiplas possibilidades e gosta de experimentar um pouco de cada coisa,
vivendo mais na superfície.
Ele geralmente não gosta de olhar para a
dor e o sofrimento.
Tipo 8 | Protetor
O protetor ao colocar seus
óculos se acha grande e poderoso, pronto para quebrar regras e lutar contra
injustiças. Esse exagero protege suas fraquezas e vulnerabilidades.
Tipo 9 | Mediador
O mediador se desconecta
de si mesmo e enxerga um mundo de paz e amor, sem conflitos (como aquele
sonhado nos anos 60), esquecendo-se de suas vontades próprias.
História do
Eneagrama
O estudo sobre as origens do Eneagrama aponta que seu símbolo pode
ter pelo menos 2.500 anos e que mestres, líderes espirituais e filósofos como
Pitágoras e Platão já utilizavam sua forma geométrica para representar vários
sistemas dentro das escolas de sabedoria.
A palavra Eneagrama tem origem grega: Ennea (nove) e Gramma
(pontos), sendo traduzida como “figura de nove pontas”. Esses sistemas e
ensinamentos ligados à figura do Eneagrama percorreram um longo e misterioso
caminho nas areias do tempo até chegarem ao século XX.
Outro marco da presença do Eneagrama nas antigas tradições aparece
no séc. IV d.C., quando os padres do deserto colocaram na estrela de nove
pontas as virtudes e as paixões humanas.
No início do século XX, o Eneagrama foi trazido para o Ocidente
(França e EUA) pelo filósofo greco-armênio George I. Gurdjieff, que havia
viajado aos pontos mais remotos do mundo antigo em busca da ciência que
possibilitava a transformação da psique humana.
Quem desenvolveu a tipologia psicológica do Eneagrama, descobrindo
a relação entre o símbolo e os tipos de personalidade foi o também filósofo
boliviano Oscar Ichazo, por volta de 1950.
Na década de 70 o Dr. Claudio Naranjo, chileno, psiquiatra do
Instituto Esalen, em Big Sur, California (EUA) participou de treinamentos com
Ichazo, na Escola chilena de Arica, aprendeu o método e ampliou seu uso e
aplicabilidade na psicologia moderna.
Hoje o
Eneagrama conta com validação científica e acadêmica, incluindo diversas teses
de mestrado e doutorado nos EUA e na Europa. No mundo dos negócios, o Eneagrama
está sendo aplicado por alguns cursos de MBA de instituições como Stanford e
Loyola nos EUA, FGV e USP no Brasil.
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