Mesmo com crescimento de 30% das aves
avistadas, número ainda é considerado crítico. Minas Gerais, São Paulo e
estados da região Sul estão entre as áreas verificadas.
A
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza divulgou nesta semana dados do
último censo internacional de papagaios-de-peito-roxo (Amazona vinacea), que
contabilizou 3.920 aves. O censo é realizado pela equipe do Projeto Charão, com
apoio da instituição. O número é positivo, pois indica crescimento de mais de
30% em relação à contagem realizada no ano passado. Porém, a espécie ainda é
classificada como “em perigo” pela União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN), principal autoridade para a classificação do risco de ameaça
de espécies no mundo.
A
ave pode ser encontrada em três países da América Latina: no Brasil, na
Argentina (Missiones) e no Sudeste do Paraguai. Foram realizadas contagens em
todos os estados brasileiros onde a espécie ocorre, de Minas Gerais ao Rio
Grande do Sul, bem como nos países vizinhos. Na Argentina foram registrados 252
papagaios e no Paraguai, 23. “Neste ano ampliamos a área de contagem e
catalogamos novos locais de ocorrência”, explica Jaime Martinez, pesquisador da
Universidade de Passo Fundo (RS) e coordenador do censo.
O
censo constatou que 93% da população da espécie está no território brasileiro
e, desse total, 60% encontra-se em Santa Catarina. O estado mantém quase um
terço do remanescente de Floresta com Araucárias, ecossistema da Mata Atlântica
que é o habitat preferencial do papagaio-de-peito-roxo.
Malu
Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, alerta que mesmo com o
aumento da população do papagaio-de-peito-roxo, o cenário ainda é delicado. “A
existência de uma espécie está diretamente ligada à conservação de seu habitat.
No caso do papagaio-de-peito-roxo, a espécie corre sérios riscos, já que o seu
local de maior ocorrência, que é a Floresta com Araucárias, conta hoje com
apenas 3% da cobertura original”.
Martinez
explica que o papagaio-de-peito-roxo e as araucárias (Araucaria angustifolia)
têm uma relação de dependência mútua. “A ave não só depende da Floresta com
Araucárias para viver, como também contribui para sua conservação. Ao se
alimentar, ela transporta a semente, que muitas vezes cai no chão e germina,
auxiliando na recomposição desse ecossistema”.
Ações
do Projeto Charão
O
Projeto Charão estuda atualmente o papagaio-de-peito-roxo e papagaio-charão (Amazona pretrei). “Há 25 anos
pesquisávamos apenas o papagaio-charão, mas com a migração nos últimos 10 anos
da espécie para regiões habitadas pelo papagaio-de-peito-roxo, principalmente
em busca de alimento, o projeto foi ampliado e, desde então, as duas espécies
são o foco da iniciativa”, explica Martinez, que se refere a ambas como
“papagaios-de-altitude”.
Para
auxiliar na conservação dos papagaios, são realizadas várias ações. Essas aves
utilizam ocos das árvores para a reprodução, cada vez mais raros na natureza,
pois estão normalmente associados a florestas com melhor grau de conservação.
Um dos focos do trabalho é a melhoria do habitat para a reprodução, o que
inclui a conservação de árvores velhas nas propriedades rurais, e a instalação
de caixas-ninho. Só neste ano, serão 100 nos estados de São Paulo e Minas
Gerais.” Desde 2002, o projeto já instalou 600 caixas-ninho no Rio Grande do
Sul e em Santa Catarina, sendo 400 para o papagaio-charão e 200 para o
papagaio-de-peito-roxo. Palestras em escolas e universidades também são promovidas,
buscando sensibilizar as pessoas para que não participem do comércio
clandestino de animais silvestres.
O
projeto atua com o governo de Santa Catarina para a criação de um corredor
ecológico que passa pelos municípios do Planalto Serrano catarinense, onde as
espécies são mais presentes. Também está prevista para 2017 a inauguração de
uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) no município de Urupema
(SC), a RPPN Papagaios-de-altitude.
Além
da Fundação Grupo Boticário, o Projeto Charão conta com outros parceiros: o
Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Espaço Silvestre, a Universidade de
São Paulo (USP), a Universidade de Passo Fundo (UPF), o Instituto Chico Mendes
para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Associação Amigos do Meio
Ambiente (AMA), a Sociedade de Pesquisa em Vida Silvestre e Educação Ambiental
(SPVS), a Universidade de Chapecó (Unochapecó), a Guyra Paraguay [Paraguai], a Associación Ornitológica del Plata
[Argentina] e o Proyecto
Pino Paraná [Argentina].
Sobre a Fundação Grupo Boticário: a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é
uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de
conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O
Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e
suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras
instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação
Grupo Boticário já apoiou 1.486 projetos de 492 instituições em todo o Brasil.
A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na
Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois
biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de
pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na
internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario
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