Parte
da plateia interrompeu uma peça de Chico Buarque com seus musicais, em Belo
Horizonte, ao som do refrão fantástico "não vai ter golpe".
Bem
reagiu o diretor Cláudio Botelho ao fazê-los lembrar-se (impossível, nem
nascidos eram) da interrupção de "Roda Viva", pelo Comando de Caça
aos Comunistas (CCC), a mando do Cenimar e de outros órgãos da ditadura
militar. CCC da esquerda, um dia viria com seus métodos, quem diria...
Que
"golpe"? O que se verifica é um povo inconformado com a maior
corrupção já vista no mundo, tanto que a Suíça está para repatriar R$ 800
milhões de dólares ao Brasil, quantia superior às de todos os ditadores do
mundo. Ferdinand Marcos e a Família Duvalier, com seu Papa e seu Baby Doc,
viraram fichinhas perto da Lava Jato.
Para
ocultar essa invasão e apropriação, própria do crime organizado, no Estado e
finanças públicas brasileiras, recentemente inventou-se um tal de golpe contra
o Estado de Direito Democrático, em razão de procedimentos mal avaliados por
juristas de procedimentos do Juiz Moro e da mais expressiva manifestação
das ruas de toda a história brasileira, sem o engajamento político e
organizacional que se verificou nas minoritárias manifestações favoráveis ao
governo.
Curioso
Estado de Direito Democrático, em que nem todos são iguais perante a lei, em
vista dos privilégios de foro por exercício de função, sob o eufemismo de foro
por "prerrogativa", em que ser ou não ser Ministro pode ser definido
por Medida Provisória, como ocorreu, entre outras hipóteses de ampliação do
conceito de Ministro, com o Chefe da Casa Civil da Presidência da República (MP
1498/96).
Em
países democraticamente civilizados, nem mesmo os Chefes de Estado ou de
Governo gozam de privilégio de jurisdição pela prática de crimes comuns. Devem
enfrentar juízes de primeira instância, como qualquer cidadão comum. Nossas
constituições anteriores não consagravam tal privilégio, uma autêntica
derrapagem ética da Constituição Cidadã de 1988. Destarte, acusados
criminalmente se homiziam em cargos de cúpula, como o pretenderam a Presidente
da República e seus assessores petistas, para blindar o chefe Luiz Inácio.
Blindar
não porque o STF careça de credibilidade, como demagogicamente, mais uma vez,
distorceu os fatos a Presidente da República. Simplesmente, porque os
Tribunais, destinados a julgar processos prontos, não estão aparelhados para
promover instruções processuais, ouvir testemunhas, realizar complexas perícias
etc. Não se argumente com o Mensalão, porquanto, no curso da Ação Penal 430,
muitos outros processos penais foram sacrificados e prescreveram-se as
penas. Do mesmo modo, as estatísticas demonstram que grande parte das
ações penais originárias do STF terminaram em prescrição ou absolvição por
falta de provas (nesta hipótese, vide caso Collor).
Ante
o descalabro, o que pretendiam esses jovens que gozam da possibilidade de
frequentar teatros? Que os órgãos da Justiça Brasileira nada fizessem? Que o
povo, em sua maioria, permanecesse apático, porquanto os protestos políticos
devem ser exclusivos de uma minoria intelectualizada e politicamente correta?
Não se criticou, desde o Império, a apatia política do povo brasileiro,
assistente bestializado das ocorrências políticas da Nação, nas palavras de
nossos mais insignes historiadores?
Que
"golpe"? A imagem terrível do demônio foi inoculada, especialmente
por docentes lulopetistas, nas mentes potencialmente brilhantes de nossos
jovens estudantes. Veio a esquizofrenia. Há um grupo de inimigos da democracia
querendo golpeá-la, não se sabe onde estão ocultos. Não vai haver
"golpe". Nem futuro de um país livre, constitucionalizado e ético,
sem opressão e assaltos matreiros e sempre negados, não obstante solares
evidências.
Amadeu Garrido de Paula - renomado jurista brasileiro com uma visão
bastante crítica sobre política, assunto internacionais, temas da atualidade em
geral. Além disso, tem um veio poético, é o autor do livro “Universo Invisível”.
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