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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

BRASIL PERDE 246 ESTUDOS CLÍNICOS EM SETE ANOS

 Levantamento da INTERFARMA mostra que o país deixou de receber investimentos de R$ 490 milhões no período


Pesquisadores estão deixando de realizar estudos clínicos no Brasil, privando o país de investimentos expressivos e prejudicando a qualificação dos profissionais de saúde. Além disso, os tratamentos de saúde mais modernos e inovadores só passam a ser acessíveis após o lançamento, sendo que com os estudos clínicos eles poderiam beneficiar parte da população.

Isso é o que revela um recente levantamento da INTERFARMA (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), realizado com 21 empresas. No total, as farmacêuticas deixaram de incluir o Brasil em 246 estudos clínicos entre 2012 e 2018, o que poderia beneficiar 12.844 pacientes antes do lançamento oficial dos tratamentos. Investimentos de R$ 490 milhões foram perdidos.

“Existem vários fatores que levam a essa situação, mas a morosidade para a análise dos pedidos de pesquisa clínica está entre os principais”, explica Pedro Bernardo, presidente-executivo da INTERFARMA. Durante muitos anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o sistema CEP/Conep se alternaram como os principais causadores dos atrasos. A ANVISA é responsável pela análise dos aspectos sanitários da pesquisa, enquanto o sistema CEP/Conep verifica o caráter ética dos pedidos.

A aprovação de um pedido de pesquisa clínica atingiu média de 12 meses no Brasil - o dobro da média mundial. Em alguns países, como Estados Unidos e Coreia do Sul, o tempo de análise raramente passa de três meses. “Os estudos mais importantes são multicêntricos, ou seja, realizados em diversos países ao mesmo tempo. Contudo, o Brasil não dá resposta em tempo hábil. O mundo não vai ficar esperando”, diz Pedro.

Esforços têm sido realizados na ANVISA e no sistema CEP/Conep para resolver esse problema e já são notados avanços significativos, mas os prazos ainda não são mundialmente competitivos. A consequência disso é que o Brasil não perde apenas o estudo clínico, mas também investimentos em saúde, qualificação de profissionais do setor, conhecimento cientifico e tecnológico, sistemas e processos de desenvolvimento de novas drogas, além de postergar o acesso a tratamentos inovadores.

“Pacientes precisam sair do país ou esperar muitos meses, às vezes anos, para ter acesso a esses tratamentos mais modernos. E os pesquisadores também precisam buscar instituições fora do país para se atualizar sobre os avanços da ciência”, cita Pedro, como dois graves prejuízos desse cenário. Os investimentos perdidos, que são expressivos, muitas vezes geram estruturas melhores nas instituições de saúde, que permanecem à disposição mesmo após o término da pesquisa clínica.

Veja abaixo a tabela dos estudos perdidos:


2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Total
Estudos perdidos
16
30
24
42
47
54
33
246
Pacientes que seriam atendidos
1.859
2.321
793
2.967
1.633
2.705
566
12.844
Investimento perdido (milhões de R$)
18,8
56,4
46,7
85,3
103,4
107,7
71,7
490,4


Veja tabela com o ranking mundial de pesquisas clínicas:

Rank
País
Estudos clínicos
% em comparação com os Estados Unidos
 % em comparação com o total do mundo
 ###
Mundo
390.259
###
###
United States 
113.103
###
28,98
France 
20.113
17,78
5,15
Canada 
18.726
16,56
4,80
Germany 
17.306
15,30
4,43
United Kingdom 
15.268
13,50
3,91
China 
12.234
10,82
3,13
Italy 
11.063
9,78
2,83
Spain 
10.777
9,53
2,76
Korea, Republic of 
9.254
8,18
2,37
10º
Netherlands 
8.284
7,32
2,12
11º
Belgium 
8.185
7,24
2,10
12º
Denmark 
6.878
6,08
1,76
13º
Israel 
6.708
5,93
1,72
14º
Brazil 
6.445
5,70
1,65
15º
Australia 
6.261
5,54
1,60
16º
Switzerland 
5.657
5,00
1,45
17º
Poland 
5.596
4,95
1,43
18º
Taiwan 
5.492
4,86
1,41
19º
Sweden 
5.346
4,73
1,37
20º
Japan
5.108
4,52
1,31
21º
Austria 
4.504
3,98
1,15
22º
Russian Federation 
4.120
3,64
1,06
23º
Hungary 
3.478
3,08
0,89
24º
India 
3.438
3,04
0,88
25º
Norway 
3.417
3,02
0,88
26º
Victoria 
3.249
2,87
0,83
27º
Turkey 
3.099
2,74
0,79
28º
Mexico 
3.087
2,73
0,79
29º
New South Wales 
2.866
2,53
0,73
30º
Finland 
2.744
2,43
0,70
31º
South Africa 
2.501
2,21
0,64
32º
Greece 
2.441
2,16
0,63
33º
Argentina 
2.422
2,14
0,62
34º
Egypt 
2.392
2,11
0,61
35º
Thailand 
2.350
2,08
0,60
36º
Romania 
2.219
1,96
0,57
37º
Singapore 
2.043
1,81
0,52
38º
Czech Republic 
2.015
1,78
0,52
39º
Queensland 
1.863
1,65
0,48
40º
Puerto Rico 
1.845
1,63
0,47
41º
Portugal 
1.704
1,51
0,44
42º
Ukraine 
1.701
1,50
0,44
43º
Bulgaria 
1.694
1,50
0,43
44º
Hong Kong 
1.646
1,46
0,42
45º
South Australia 
1.639
1,45
0,42
46º
New Zealand 
1.606
1,42
0,41
47º
Slovakia 
1.527
1,35
0,39
48º
Western Australia 
1.470
1,30
0,38
49º
Ireland 
1.437
1,27
0,37
50º
Chile 
1.370
1,21
0,35


Data da pesquisa: 30/07/2018.
Elaboração: INTERFARMA.

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