Reumatologista do Hospital Santa Paula explica por
que sentimos mais dor em temperaturas baixas e dá algumas dicas para amenizar o
desconforto
A cidade de São Paulo já começou a sentir a queda
de temperatura com a chegada do outono. Segundo os meteorologistas, a tarde de
04 de junho foi a mais fria do ano na capital em 2018, mas as temperaturas
devem cair ainda mais com a chegada do inverno, em 21 de junho. Especialistas
apontam que teremos uma estação mais fria do que no ano passado em decorrência
do La Niña, fenômeno de resfriamento da superfície do Oceano Pacífico.
Com a baixa nos termômetros, há um aumento no
número de pessoas com queixas de dores articulares, popularmente conhecidas
como dores nas juntas e reumatismo. Isso acontece especialmente entre a
população que vive no Sul e no Sudeste do Brasil devido ao inverno mais
rigoroso. O incômodo pode acometer principalmente indivíduos com problemas
reumáticos, mas ninguém está livre de passar por este desconforto.
O coordenador do Instituto de Reumatologia do
Hospital Santa Paula, Jayme Fogagnolo Cobra, explica que existem poucos estudos
sobre o assunto na literatura médica, mas supõe-se que isso se deve a uma
conjunção de fatores:
- O organismo, quando submetido a baixas
temperaturas, sofre constrição vascular periférica, ou seja, a circulação do
sangue fica mais concentrada nas regiões internas do corpo como coração,
pulmões, rins e cérebro e circula menos nas regiões periféricas como pele e
musculatura.
- Existem terminações nervosas na pele,
articulações, tendões e músculos que são estimuladas pelo frio e geram impulsos
que são percebidos pelo cérebro como dor.
- Para reagir ao frio, os músculos tendem a
contrair-se para produzir calor, podendo ser mais um fator causador de dor,
principalmente em algumas pessoas que já sofrem de algumas doenças
reumatológicas que envolvem inflamações das enteses, que é o ponto onde os
tendões se unem aos ossos.
- Alguns estudos demonstraram que o líquido
sinovial, aquele encontrado dentro das articulações que tem função de alimentar
e “lubrificar” as superfícies articulares, torna-se mais espesso sob baixas
temperaturas.
- Outro fator importante é que no inverno há uma
tendência que as pessoas pratiquem menos exercícios. A imobilidade pode
aumentar a sensação de dor. Nas pessoas com doenças inflamatórias como artrite
reumatoide e espondiloartrites pode haver aumento de dor e rigidez das
articulações.
Veja abaixo as dicas do reumatologista para aliviar
a dor nos meses mais frios:
1 - Procure proteger-se do frio. Agasalhe-se,
mantenha o corpo e as extremidades aquecidas, principalmente mãos e pés com
luvas e meias grossas.
2 – Sempre que possível, procure permanecer em
locais aquecidos tanto em casa como no trabalho.
3 - Dormir aquecido é fundamental. Se possível,
utilize aquecedor no ambiente.
4 - Pratique atividade física mesmo no frio.
Existem equipamentos esportivos específicos que permitem a prática segura e
confortável de exercícios ao ar livre até nos invernos mais rigorosos.
Atividades de baixo impacto, como caminhadas, também promovem aquecimento e ajudam
a manter a lubrificação adequada das articulações, reforçando os músculos.
5 - Mantenha uma rotina diária de alongamentos para
manter o tônus, a flexibilidade e a amplitude dos movimentos.
6 – Se a dor estiver muito forte, faça uso de
bolsas térmicas nas áreas doloridas. O calor descontrai os músculos, tendões e
ligamentos e aliviam a pressão sobre as articulações, favorecendo a circulação
sanguínea.
“Normalmente, para pessoas que não possuem doenças
reumatológicas essas medidas são suficientes para anular as sensações
dolorosas. Se a dor persistir, o recomendado é procurar um reumatologista. Para
quem faz tratamento de alguma doença inflamatória ou autoimune como artrite
reumatoide, espondiloartrites, psoríase, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose
sistêmica, doença mista do tecido e outras, podem ser necessárias medidas
medicamentosas para aliviar os sinais e sintomas agravados pelo frio”, explica
o especialista.
Doenças reumáticas
As doenças reumáticas representam um conjunto de diferentes patologias que acometem os ossos, as articulações, cartilagens, músculos, tendões e ligamentos. Elas também podem comprometer outras partes e funções do corpo humano, como rins, coração, pulmões, olhos, intestino e até a pele.
Existe mais de uma centena de doenças reumáticas.
As mais comuns são osteoartrite - também conhecida como artrose - fibromialgia,
osteoporose, lupus, artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias como as
espondiloartropatias soro negativas.
"A principal queixa das pessoas que chegam ao
reumatologista é dor nas articulações. Em muitos casos, nas fases iniciais das
doenças, as pessoas tentam tratar as crises de dor por conta própria, procuram
um pronto-socorro ou outras especialidades para amenizar a dor e não prosseguem
numa investigação da real causa por trás dessas crises. Quando o paciente chega
ao reumatologista, a doença já pode estar mais avançada, tornando mais difícil
e prolongado o tratamento”, afirma Jayme.
O médico reforça que é preciso aumentar a
conscientização das pessoas sobre o universo das doenças reumáticas. Com
informação, as pessoas tendem a procurar ajuda mais precocemente e diagnosticar
as doenças nas fases mais iniciais, quando ainda não há sequelas, iniciando,
portanto, o tratamento no momento certo, o que é um dos fatores determinantes
para a eficácia na maioria dos casos.
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