O Brasil vive, no ano de 2021, a maior seca em mais
de 100 anos. Tem se falado até em possibilidade de apagão, o que foi
prontamente negado tanto pelo governo federal como pelo Ministério de Minas e
Energia e pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Mas corremos mesmo esse
risco?
Para você que lê esse artigo, o apagão, nome
popular para desligamento programado, não quer dizer que falte luz em todo o
tempo. Muito menos que você ligue o ar condicionado e a luz apague. Esse
desligamento é o mesmo de quando ocorre manutenção na rede elétrica e a
companhia desliga a luz enquanto dura o serviço, com o inconveniente que isso
ocorreria em vários dias na semana. Esses desligamentos, caso aconteçam,
implicariam em cortes de luz durante o dia, e principalmente de madrugada.
Segundo o ONS, no dia 10 de outubro, o nível médio
dos reservatórios na região Sudeste estava em 16,63%, incluindo várias bacias
como a de Paraíba do Sul e Ilha Solteira, que já estão à beira do colapso.
Mas, corremos o risco ou não de termos esse
desligamento programado? É possível. Mas segundo dados históricos do ONS,
disponibilizados em seu sítio eletrônico desde janeiro de 1999, já houve
vários outros períodos de grande seca, como em novembro de 1999, de 2000 e,
mais recentemente, novembro de 2017 e 2019. Comparando o nível dos
reservatórios com o histórico, não é o menor já registrado.
Além do mais, desde a década de 90, a matriz
energética vem sendo diversificada ano após ano, reduzindo a necessidade de
energia hidrelétrica para 64% em 2018, e cada vez mais, usando geração eólica e
solar, além do acionamento das usinas termelétricas em momentos de baixo nível
dos reservatórios, como o atual. E melhor ainda, a estação seca está no fim e
já é previsto que nos próximos meses teremos uma estação chuvosa próxima da
média histórica, o que não resolve o problema, mas traz um alento.
E isso é culpa do atual governo? Não muito. Pelo
menos, em relação aos governos recentes (anos 2000), o atual deveria ser o
menos culpado. Mudanças de matriz energética são decisões tomadas com décadas
de antecedência, afinal, obras de geração de energia demoram anos para serem
planejadas, executadas e entrarem em operação. E nem o meteorologista mais
pessimista previa a maior seca em mais de 100 anos para o ano 2021. Isso quer
dizer que o governo atual não tem responsabilidade? Também não. A gestão
recente (3 anos é pouco para uma matriz energética) não exime o governo atual
de ter feito a sua parte. Afinal, as últimas grandes obras de geração de
energia foram planejadas há muito tempo (por exemplo, os estudos para a Usina
de Belo Monte se iniciaram em 1975), isto é, iniciadas na gestão Lula e
entregues na gestão Temer. É pouco. No governo atual, houve iniciativas de
geração eólica e solar, mas nenhuma do porte necessário. Para o futuro, o
Ministério de Minas e Energia tem dado incentivos às pequenas centrais
hidrelétricas (PCH), onde muitos produtores de energia geram um pouco e o total
desses pode muito bem se aproximar das grandes usinas. E com a vantagem de ser
menos sensível a evaporação e secas localizadas. Para o presente, infelizmente,
é tentar contornar o problema.
Mas, sendo prático, o que cada um de nós pode fazer
para ajudar? Esta é a parte mais importante do artigo. Em vez de dizer “se não
economizar vai faltar”, prefiro afirmar: “Se economizar, passaremos pela
dificuldade”. Mesmo com a maior seca em muitos anos, não estamos na pior
situação que já enfrentamos. Com algumas pequenas mudanças de hábitos, podemos
todos colaborar. Nosso País é grande e heterogêneo. Nos estados mais quentes, o
vilão é o ar condicionado. Caso você não abra mão do friozinho, ligue o
aparelho no frio meia hora antes de dormir e depois, pode diminuir a potência
do aparelho. Deve ser suficiente para manter seu quarto confortável. Nos
estados mais frios, o inimigo é o chuveiro elétrico. Vale a mesma recomendação
do ar condicionado só que o inverso. Se possível, prefira a opção verão e, se
seu chuveiro é eletrônico, use ligeiramente menos quente.
Pequenas atitudes como essas podem fazer uma grande
diferença na conta de luz no fim do mês. E, claro, trazer uma grande
contribuição ao País para superarmos essa seca histórica. Com a energia do
nosso povo, não faltará luz para o Brasil.
Alysson
Nunes Diógenes - engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Mecânica, é
professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo
(UP).
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