Elas rendem menos?
Mitos sobre a performance da mulher no futebol feminino
Com raça! Esse foi o tom da despedida das meninas
do Brasil na Copa do Mundo de Futebol Feminino. Depois de ser criticada pela
perda de rendimento no segundo tempo dos jogos, a Seleção Brasileira mostrou
que tem força e manteve o gás até o fim da prorrogação no jogo contra a França.
O resultado não levou as meninas a diante na competição, mas serviu para pôr
fim à conversa de que a mulherada não tem fôlego.
A mulher atleta se desgasta mais do que o homem?
A mulher possui algumas
características que podem influenciar em seu rendimento. A principal delas é o
perfil hormonal. “As diferenças fisiológicas que interferem na performance
esportiva entre homens e mulheres se baseiam diretamente na questão hormonal.
Essa diferença de hormônios traz alterações morfológicas na composição
corporal, como maior massa muscular no homem, e reproduz em melhor rendimento e
performance principalmente nos esportes que exigem maior força, potência e
velocidade, como o futebol”, explica Flávio Cruz, ortopedista do Aspetar
Hospital, localizado no Qatar e referência
mundial no tratamento de atletas.
“Em relação às lesões ortopédicas, na
fase pré-ovulatória e na fase lútea do ciclo menstrual, segundos alguns
estudos, existe uma propensão maior a lesões, já que a maior presença de
estrogênio pode tornar os ligamentos mais propensos a rupturas”, completa o
médico, que integrou por três anos o departamento médico da Seleção Brasileira
de Futebol Feminino.
Dependendo do perfil nutricional das
atletas e sua relação com a sobrecarga de treinamento, quando há um
desequilíbrio desta relação, a mulher pode desenvolver alterações que farão
cair seu rendimento drasticamente. O fenômeno é conhecido como Síndrome da
Mulher Atleta, recentemente denominada pelo Comitê Olímpico Internacional como
Síndrome RED-S (síndrome da deficiência relativa no esporte). As esportistas podem desenvolver
anorexia, amenorreia e distúrbios ósseos e até distúrbios psicológicos. Por
isso, faz-se necessário o acompanhamento periódico por uma equipe especializada
em Medicina do Esporte, nutricionista e psicólogos, em todas as fases dos
treinamentos. A
suplementação muitas vezes é indicada.
Genética facilitadora de lesões
Outro aspecto que entra na conta das
mulheres atletas é a anatomia óssea, o que pode favorecer o surgimento de
algumas lesões ortopédicas. “A mulher possui a bacia diferente do homem, sendo
mais larga e arredondada para acomodar o feto durante a gestação, favorecendo
uma maior rotação do quadril quando comparada ao homem. O joelho da mulher tem
uma tendência a ser do tipo Geno Valgo, que aumenta o risco de lesões
ligamentares no joelho”, destaca o especialista.
Preparação física faz a diferença
Apesar das particularidades do corpo
feminino, a preparação para as competições é bastante parecida. Segundo o
médico, o segredo é identificar possíveis alterações o mais precoce possível e
corrigi-las, evitando e prevenindo as lesões. “Se
as meninas deixaram o rendimento cair em alguns momentos dos jogos, vale
refletir sobre qual foi o objetivo de preparação para a Copa do Mundo que foi
realizada, se foi dado o descanso ideal visando a recuperação ideal entre os
jogos e sobre o perfil nutricional e de suplementação oferecido às atletas”.
“Uma discussão mais profunda nos leva
a avaliar se a estrutura oferecida a elas é a mesma disponibilizada aos homens,
tanto nos clubes quanto na seleção, se o investimento na base do futebol
feminino e a formação de novas atletas é suficiente, sobre oportunidades
para carreira, o preconceito ainda presente no esporte. Resumindo, motivos não
faltaram para pesar nas pernas de quem correu 120 minutos contra uma grande
seleção e favorita ao título com a esperança de um futuro melhor para o futebol
feminino no Brasil”, conclui.
Flávio Cruz - ortopedista, especialista em
Traumatologia, lesões esportivas e mestre em cirurgia do joelho. Há mais de 15
anos atuando em Medicina do Esporte, tem passagens pela Confederação Brasileira
de Futebol (CBF) nas Seleções Feminina e Masculina, Confederação Brasileira de
Desportos Aquáticos (CBDA), Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA) e
Clube de Regatas do Flamengo (CRF), entre outras instituições esportivas, Cruz
é cirurgião no Aspetar Hospital, localizado no Qatar e referência mundial no
tratamento de atletas. É membro da SBRATE, SBCJ, SBOT, SBMEE e certificado pela
FIFA em Medicina do Futebol. Já atuou em mais de 30 países como médico de
delegações esportivas em competições internacionais.
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