sexta-feira, 28 de junho de 2019

Mitos sobre a performance da mulher no futebol feminino


Elas rendem menos? Mitos sobre a performance da mulher no futebol feminino


Com raça! Esse foi o tom da despedida das meninas do Brasil na Copa do Mundo de Futebol Feminino. Depois de ser criticada pela perda de rendimento no segundo tempo dos jogos, a Seleção Brasileira mostrou que tem força e manteve o gás até o fim da prorrogação no jogo contra a França. O resultado não levou as meninas a diante na competição, mas serviu para pôr fim à conversa de que a mulherada não tem fôlego.


A mulher atleta se desgasta mais do que o homem?

A mulher possui algumas características que podem influenciar em seu rendimento. A principal delas é o perfil hormonal. “As diferenças fisiológicas que interferem na performance esportiva entre homens e mulheres se baseiam diretamente na questão hormonal. Essa diferença de hormônios traz alterações morfológicas na composição corporal, como maior massa muscular no homem, e reproduz em melhor rendimento e performance principalmente nos esportes que exigem maior força, potência e velocidade, como o futebol”, explica Flávio Cruz, ortopedista do Aspetar Hospital, localizado no Qatar e referência mundial no tratamento de atletas.

“Em relação às lesões ortopédicas, na fase pré-ovulatória e na fase lútea do ciclo menstrual, segundos alguns estudos, existe uma propensão maior a lesões, já que a maior presença de estrogênio pode tornar os ligamentos mais propensos a rupturas”, completa o médico, que integrou por três anos o departamento médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino.

Dependendo do perfil nutricional das atletas e sua relação com a sobrecarga de treinamento, quando há um desequilíbrio desta relação, a mulher pode desenvolver alterações que farão cair seu rendimento drasticamente. O fenômeno é conhecido como Síndrome da Mulher Atleta, recentemente denominada pelo Comitê Olímpico Internacional como Síndrome RED-S (síndrome da deficiência relativa no esporte). As esportistas podem desenvolver anorexia, amenorreia e distúrbios ósseos e até distúrbios psicológicos. Por isso, faz-se necessário o acompanhamento periódico por uma equipe especializada em Medicina do Esporte, nutricionista e psicólogos, em todas as fases dos treinamentos. A suplementação muitas vezes é indicada.


Genética facilitadora de lesões

Outro aspecto que entra na conta das mulheres atletas é a anatomia óssea, o que pode favorecer o surgimento de algumas lesões ortopédicas. “A mulher possui a bacia diferente do homem, sendo mais larga e arredondada para acomodar o feto durante a gestação, favorecendo uma maior rotação do quadril quando comparada ao homem. O joelho da mulher tem uma tendência a ser do tipo Geno Valgo, que aumenta o risco de lesões ligamentares no joelho”, destaca o especialista.


Preparação física faz a diferença

Apesar das particularidades do corpo feminino, a preparação para as competições é bastante parecida. Segundo o médico, o segredo é identificar possíveis alterações o mais precoce possível e corrigi-las, evitando e prevenindo as lesões. “Se as meninas deixaram o rendimento cair em alguns momentos dos jogos, vale refletir sobre qual foi o objetivo de preparação para a Copa do Mundo que foi realizada, se foi dado o descanso ideal visando a recuperação ideal entre os jogos e sobre o perfil nutricional e de suplementação oferecido às atletas”.

“Uma discussão mais profunda nos leva a avaliar se a estrutura oferecida a elas é a mesma disponibilizada aos homens, tanto nos clubes quanto na seleção, se o investimento na base do futebol feminino e a formação de novas atletas é suficiente, sobre oportunidades para carreira, o preconceito ainda presente no esporte. Resumindo, motivos não faltaram para pesar nas pernas de quem correu 120 minutos contra uma grande seleção e favorita ao título com a esperança de um futuro melhor para o futebol feminino no Brasil”, conclui.





Flávio Cruz - ortopedista, especialista em Traumatologia, lesões esportivas e mestre em cirurgia do joelho. Há mais de 15 anos atuando em Medicina do Esporte, tem passagens pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nas Seleções Feminina e Masculina, Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA) e Clube de Regatas do Flamengo (CRF), entre outras instituições esportivas, Cruz é cirurgião no Aspetar Hospital, localizado no Qatar e referência mundial no tratamento de atletas. É membro da SBRATE, SBCJ, SBOT, SBMEE e certificado pela FIFA em Medicina do Futebol. Já atuou em mais de 30 países como médico de delegações esportivas em competições internacionais.

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