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sexta-feira, 28 de junho de 2019

Pesquisadores criam gel com molécula de prostaglandina para tratar dermatite atópica

Profissionais do Instituto de Pesquisas São Leopoldo Mandic desenvolveram um gel com moléculas de prostaglandina PGJ2, com propriedade anti-inflamatória e menos efeitos colaterais do que medicamentos atualmente prescritos para tratar dermatite atópica


Corticoides e inibidores de calcineurina, como o tracolimus – um fármaco imunossupressor –, são os medicamentos mais prescritos para tratar a dermatite atópica, mas seu uso contínuo apresenta riscos indesejáveis. Para buscar um medicamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais danosos ao paciente, pesquisadores do Instituto de Pesquisas São Leopoldo Mandic, em Campinas, desenvolveram um gel (hidrogel 15d-PGJ2) composto por moléculas sintéticas de prostaglandina PGJ2, que têm propriedade anti-inflamatória, são produzidas por quase todas as células do corpo humano e podem ser fabricadas em laboratório.

Os resultados da pesquisa foram descritos no artigo The 15d-PGJ2 hydrogel ameliorates atopic dermatitis through suppression of the immnune response, publicado em abril deste ano, no periódico Molecular Medicine Reports. O estudo foi realizado com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Pruridos na pele, vermelhidão, inchaço, descamações e coceiras incontroláveis são alguns dos sintomas da dermatite atópica, uma doença crônica e autoimune que chega a afetar 10% dos adultos e 25% das crianças. Desaparece em até 75% das crianças na vida adulta, mas, naquelas em que permanece, pode causar lesões para o resto da vida, além de depressão e isolamento social por causa do desconforto e das marcas na pele.


Tratamentos para dermatite atópica

De acordo com a Academia Americana de Dermatologia, o tratamento para a dermatite atópica deve ser iniciado com corticosteróides tópicos, quando apenas hidratar a pele não é suficiente para controlar a doença. “O problema de ficar passando, com frequência, pomada de corticoide nas lesões é que as células que formam a pele, chamadas queratinócitos, acabam sendo destruídas e chega uma hora que, de tanto passar corticoide, o medicamento não faz mais efeito”, explica Dr. Marcelo Henrique Napimoga, diretor de pós-graduação, pesquisa e extensão da Faculdade São Leopoldo Mandic, e coordenador do estudo.

Quando os corticoides começam a falhar, é comum que se prescrevam os inibidores de calcineurina, como o tracolimus, para tratar a dermatite atópica. Esses inibidores também têm efeito anti-inflamatório, impedindo a ativação das células T, responsáveis pela defesa do organismo contra antígenos. Mas, a longo prazo, há estudos que indicam que o tracolimus pode causar linfoma e carcinomas cutâneos.

“Para produzir o hidrogel, usamos a prostaglandina PGJ2, que é uma molécula com ação anti-inflamatória, que é produzida endogenamente e, por isso, não tem efeitos colaterais indesejados, como os corticoides e o tracolimus. Além disso, conseguimos colocar essa molécula dentro de um polímero, formando um hidrogel que é absorvido pela pele”, ressalta Napimoga.


Testes

Vários testes físico-químicos foram feitos para provar que se conseguiu formar o gel, absorvível pela pele, e que nele ficou retida a prostaglandina PGJ2. “Os dados físico-químicos mostram que o gel que criamos funcionou, porque ele se manteve estável e incorporou a prostaglandina PGJ2 em diferentes temperaturas, por exemplo, nas temperaturas ambiente e corporal”, conta o pesquisador.  

Em seguida, os pesquisadores testaram se o hidrogel 15d-PGJ2 tem efeito benéfico em modelos de dermatite atópica. Um modelo com escaras de dermatite atópica foi tratado apenas com o gel, enquanto outro modelo foi tratado com o hidrogel 15d-PGJ2, e outro com o tracolimus, o medicamento mais usado hoje para tratar a doença.

“Visualmente, é possível verificar que o modelo tratado com o hidrogel teve diminuição da lesão de dermatite e, histologicamente, houve redução no número de mastócitos, que é uma célula que armazena potentes mediadores químicos de inflamação e, por isso, é relevante para manter a dermatite atópica. Já o tracolimus diminuiu a inflamação, mas não de maneira significativa como a PGJ2”, explica Napimoga.

O próximo passo foi dosar a imunoglobulina IgE nos modelos tratados com o hidrogel e o tracolimus. Essa imunoglobulina é produzida pelos linfócitos em resposta à dermatite atópica. Em ambos os modelos, houve redução da produção de IgE. “Isso demonstra que estamos conseguindo diminuir a resposta inflamatória onde há o agente irritante”, conclui o pesquisador.

Algumas células inflamatórias também foram avaliadas no estudo. A PGJ2 foi capaz de diminuir o número de linfócitos Th17 na lesão de dermatite atópica. O tracolimus também reduziu a quantidade dessas células, mas não apresentou diferença estatística. A pesquisa constatou ainda que a PGJ2 reduz a produção de citocinas TNF-α, que são mediadores inflamatórios que contribuem para manter a dermatite atópica. Já o tracolimus não produziu o mesmo efeito.


Produção da prostaglandina PGJ2

Ainda não existem medicamentos produzidos com a molécula de prostaglandina PGJ2 – que é experimental -, embora os resultados da pesquisa desenvolvida no Instituto de Pesquisas São Leopoldo Mandic sejam promissores e mostrem a eficácia do hidrogel 15d-PGJ2. “O grande problema é que fazer prostaglandina PGJ2 não é barato e a estabilidade dela é pequena. Do ponto de vista comercial, seria preciso uma indústria com potencial e maquinários bem específicos. O fato de a PGJ2 ser um lipídio torna mais difícil a sua formulação na quantidade certa para que se mantenha estável”, afirma Napimoga.

Ele e outros pesquisadores, do Instituto de Pesquisas SLMANDIC, fazem parte do Laboratório de Pesquisa da Interface Neuroimune da Dor, que se dedica a pesquisar a relação dos aspectos imunológicos em diferentes condições dolorosas.

“Temos uma linha de pesquisa muito grande com a prostaglandina PGJ2 para criar diferentes formas de entrega dessa molécula, com nano-carreadores e também hidrogel. Colocamos a PGJ2, por exemplo, em hidrogel ou nano-cápsula porque é preciso uma quantidade muito pequena de moléculas. Eles protegem a PGJ2, que vai sendo liberada aos poucos na articulação ou pele inflamadas. Dessa forma, é possível reduzir a quantidade de medicamento e prolongar a sua ação, reduzindo efeitos adversos”, comenta o pesquisador. 

O artigo The 15d-PGJ2 hydrogel ameliorates atopic dermatitis through suppression of the immnune response (doi: 10.3892/mmr.2019.10156) foi escrito por: Dr. Marcelo H. Napimoga, Dr.a Juliana T. Clemente‑Napimoga, Dr. Antônio José de Pinho, Dr.a Andresa B. Soares e Dr. Marcelo Sperandio (docentes da SLMANDIC); Dr.a Daniele R. de Araújo (docente da UFABC – Universidade Federal do ABC); e os alunos Nina M. Machabanski, Maria Eduarda A. Juliani, Pedro Henrique B. C. Acras, Cristina G. Macedo, Henrique B. Abdalla, e está publicado em https://www.spandidos-publications.com/10.3892/mmr.2019.10156.




Sobre o Instituto de Pesquisas São Leopoldo Mandic
O Instituto de Pesquisas São Leopoldo Mandic, em Campinas, foi constituído em janeiro de 2008, sem fins lucrativos, para realizar pesquisas científicas na área de saúde. Iniciou com pesquisas na área odontológica, expandiu para a área de saúde, além do desenvolvimento de novas tecnologias, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnico-científicos, fomento à capacitação e treinamento de pesquisadores.
Conta com laboratórios de Cultura de Células, Microbiologia, Ensaio de Materiais, Patologia e Imunohistoquímica, Biologia Molecular e Terapia Celular, todos equipados com recursos de última geração. Até dezembro de 2018, foram 981 artigos publicados em revistas científicas indexadas em diferentes bases de dados, como PubMed e Scielo. E o Laboratório de Patologia emitiu, gratuitamente, mais de 24 mil laudos de biópsias provenientes de tecidos da região da cabeça e pescoço, sendo 1.542 de carcinomas e 125 de neoplasias malignas. 
Os recursos financeiros do Instituto de Pesquisas São Leopoldo Mandic são obtidos por meio de parcerias e convênios, financiamentos de órgãos públicos, contribuição de associados e terceiros e recebimento de patentes. Dentre os principais parceiros, destacam-se CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

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