No próximo dia 26 de junho será celebrado mais um
Dia Nacional do Diabetes, data instituída pelo Ministério da Saúde em parceria
com a Organização Mundial da Saúde (OMS), com o intuito de conscientizar os
brasileiros sobre a doença que vem crescendo em números alarmantes no país. De
acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas
por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada em 2017 pelo Ministério da Saúde,
o número de pessoas diagnosticadas com diabetes aumentou 61,8% entre 2006 e
2016, passando de 5,5% da população para 8,9%.
Diante desse quadro, torna-se evidente que o
público em geral e diversos profissionais da área de saúde devem se debruçar
com mais afinco sobre a doença. O tratamento do diabetes não deve se resumir à
utilização de medicamentos; a mudança simples de hábitos, como prática de
atividade física e alimentação saudável, também são importantes no combate à
doença. No que se refere à alimentação, merece destaque, conforme a Associação
Brasileira LowCarb (ABLC), a prática alimentar low carb, que prioriza a
ingestão de comida de verdade (alimentos naturais) e a restrição do consumo de
açúcar e carboidratos refinados.
A low carb aparece como uma ótima solução para o
combate e tratamento do diabetes, justamente porque a doença caracteriza-se
pela elevação dos níveis de açúcar no sangue, seja diabetes tipo 1, em que o
corpo é incapaz de produzir insulina, ou seja diabetes tipo 2, em que há
resistência à insulina. O médico, diretor-presidente da ABLC, José Carlos
Souto, explica que em todas as doenças em que o organismo humano é incapaz de
metabolizar ou tolerar, total ou parcialmente, uma substância, o tratamento
consiste em remover essa substância. “Por que seria diferente com o diabetes?”,
indaga. Souto destaca a obviedade de que eliminação da glicose na dieta seja o
tratamento para uma doença cuja característica definidora é o acúmulo de
glicose no sangue.
De acordo com o médico endocrinologista e diretor
científico de Medicina da ABLC, Rodrigo Bomeny, a low carb é vista como mais
eficaz no tratamento do diabetes tipo 2, porque o consumo de carboidratos
refinados (alimentos ultraprocessados) está intimamente associado ao surgimento
dessa doença. Conforme Bomeny, é costume dizer que as pessoas com este tipo de doença
não precisam modificar a alimentação, devendo seguir apenas as orientações de
uma alimentação saudável para a população geral. “Mas não é tão simples simular
esse ajuste de insulina tão minucioso feito pelo pâncreas”, diz.
A insulina é o hormônio responsável pela redução da
glicemia, ou seja, pela diminuição da glicose no sangue. Segundo o médico
endocrinologista, vários estudos demonstram que manter um controle glicêmico
rigoroso é essencial para mitigar as complicações relacionadas ao diabetes tipo
1. No entanto, essa contenção pode ser perigosa por ocasionar excesso de
hipoglicemias - diminuição da quantidade de açúcar no sangue em níveis muito
baixos -, cujos sintomas são, entre outros, desmaio, fadiga, fome excessiva.
“As pessoas têm uma falsa ideia de que com uma
dieta com menos carboidrato terão mais hipoglicemia. Isso não é real. O que
causa hipoglicemia é o excesso de insulina e não a falta de carboidrato,”
explica Bomeny. Conforme o médico, ao se calcular a dose de insulina a ser
aplicada, invariavelmente, erra-se a quantidade necessária. “São muitos fatores
envolvidos, tais como quantidade e velocidade de absorção do carboidrato, local
de aplicação da insulina, atividade física e estresse”, cita.
Nesse sentido, de acordo com Bomeny, a melhor forma
de diminuir a ocorrência de hipoglicemia é reduzir a quantidade de insulina. E,
para que o efeito contrário não ocorra, ou seja, a hiperglicemia (aumento de
açúcar no sangue), acaba-se por restringir a quantidade de carboidratos. “Se
seu corpo não lida bem com os carboidratos, por que usá-los como base de sua
alimentação?”, questiona.
Para exemplificar como a prática low carb pode ser
benéfica no tratamento do diabetes tipo 1, o diretor-presidente da ABLC cita
estudo recém-publicado pela revista científica Pediatrics. A análise mostra que
pacientes (crianças e adultos) que seguiram essa estratégia alimentar durante
dois anos, em média, tomando medicamentos em doses menores do que as exigidas
em uma dieta normal, apresentaram glicose no sangue em níveis mais controlados.
Extrema eficácia no tratamento do diabetes tipo 2
O diabetes tipo 2 caracteriza-se pela resistência
das células à insulina. Como forma de vencer essa resistência, o organismo
produz mais hormônio, o que gera um ciclo vicioso: quanto mais insulina mais
resistente ao hormônio às células se tornam. Como efeito, o açúcar se acumula
no sangue, causando uma intolerância do indivíduo à glicose.
Nesse sentido, a solução não passa apenas pela
ingestão de insulina, embora em algumas situações ela possa ser necessária, mas
pela diminuição da ingestão da substância mal tolerada, a glicose. O
diretor-presidente da ABLC, José Carlos Souto, explica que todo carboidrato é
digerido no organismo em glicose, sendo natural a melhora no quadro de diabetes
tipo 2 com a low carb. Além disso, a prática alimentar produz redução
espontânea do apetite e perda de peso, tratando condições que vêm atreladas à
doença. “É muito comum que o diabetes ou o pré-diabetes sejam acompanhados de
obesidade, sobrepeso ou aumento da gordura visceral”, diz.
A eficácia da prática alimentar low carb no
tratamento do diabetes tipo 2 também é corroborado por diversas evidências
científicas, tais como ensaio clínico randomizado feito pela Universidade da
Califórnia, em São Francisco, e publicado em dezembro de 2017 no jornal
científico Nutrition & Diabetes. No estudo, pacientes diabéticos e
com sobrepeso foram divididos em dois grupos: um com uma dieta composta por 45%
a 50% de carboidratos e limitado a ingerir 500 calorias diárias; e outro grupo
com uma dieta cetogênica ou very low carb (VLC), podendo ingerir calorias
ilimitadas.
Como resultado, mais do que o dobro do grupo que
praticou a estratégia com baixo consumo de carboidratos reduziu o valor de
hemoglobina glicada para menos de 6,5, saindo da definição de diabetes. Souto
explica que a melhor métrica para avaliar a remissão do diabetes com medidas de
estilo de vida é a redução da hemoglobina glicada, pois é ela que fornece uma
média da glicemia nos últimos 90 dias. Assim, muitos pacientes inseridos no
grupo da prática alimentar cetogênica pararam de usar medicamentos para
diabetes, enquanto no grupo com ingestão mais alta de carboidratos nenhum
paciente conseguir largar a medicação.
Outro estudo recente comprovando a eficácia da low
carb foi realizado recentemente pela Universidade de Ohio, nos Estados e Unidos
e publicado no Journal of Clinical Investigation Insight. O objetivo era
mostrar o que acontece com pessoas obesas com síndrome metabólica, uma doença
precursora do diabetes, quando aderem à uma prática alimentar com baixo número
de carboidratos.
Foram avaliados, ao todo, 16 homens e mulheres com
síndrome metabólica. Após 4 semanas de prática alimentar low carb, mais da
metade dos participantes (cinco homens e quatro mulheres) conseguiu reverter o
quadro. Lembrando que suas dietas continham calorias para manter o peso
estável.
A grande dúvida desse estudo e de outras análises
com objetivos semelhantes é saber se a restrição de carboidratos está
diretamente ligada a melhoria no quadro do diabetes, por exemplo, ou se
trata-se apenas de um efeito colateral da perda de peso, essa assim a grande
consequência da prática alimentar low carb. O estudo feito pela Universidade de
Ohio trouxe mais evidências para mostrar que a restrição modesta de
carboidratos é suficiente para reverter a síndrome metabólica e suas
decorrências.
Os benefícios comprovados por diversos estudos
clínicos fizeram com que a Associação Americana do Diabetes, em inglês American
Diabetes Association (ADA), tida como autoridade no assunto, recomendasse, em
suas diretrizes atualizadas para 2019, a prática alimentar como alternativa
dietética válida para o tratamento do diabetes tipo 2. Entre as vantagens da
low carb, segundo a ADA, estão: perda de peso, redução da pressão arterial,
aumento do HDL, o chamado colesterol bom, e redução dos triglicerídeos.
Caso real
Um exemplo que mostra a eficácia da Low Carb no
tratamento do diabetes diz respeito à senhora Maria (nome fictício), que
contava com 43 anos na época em que adotou a estratégia e compartilhou exames
clínicos com seu médico.
Em apenas 45 dias de prática alimentar low carb,
alimentando-se basicamente de ovos, carne e bacon, Maria, que é diabética tipo
2, melhorou diversos índices clínicos, o que ainda não havia conseguido
adotando uma dieta hipocalórica de 1200 calorias.
Com estatura de 1,64m, Maria pesava 90Kg antes da
prática alimentar, conseguindo reduzir seu peso para 80 kg depois de restringir
o consumo de carboidratos. O nível de glicose no sangue baixou de 133 md/dL
para 86 md/dL e a hemoglobina glicada foi de 6% para 5,1%. As mudanças
possibilitaram à Maria reduzir as doses de seus remédios pela metade.
ABLC
Dr. José Carlos Souto - diretor presidente da ABLC
Dr. Rodrigo Bomeny de Paulo – médico
endocrinologista e diretor de Medicina na ABLC
Patrícia Gomides Ayres – nutricionista da ABLC.
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