Em
estudo, pesquisadores da Faculdade Santa Casa de SP buscam identificar
como jovens acima do peso lidam com compulsão por comidas altamente
calóricas
Caracterizada
principalmente pelo acúmulo de gordura no corpo, a obesidade é causada
pelo alto consumo de calorias em alimentos gordurosos e
pouco nutritivos. Além de diminuir a disposição física, a obesidade e
o sobrepeso aumentam o risco de desenvolvimento de diabetes,
hipertensão, colesterol alto e problemas cardíacos, o que compromete a
qualidade de vida do indivíduo.
De
acordo com números divulgados em 2013, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) apontou que 2,8 milhões de pessoas morrem por ano
em virtude de peso excessivo.
Em
busca de entender a neurobiologia da obesidade em jovens, pesquisadores
da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo estão
avaliando 120 adolescentes de 12 a 17 anos, dos quais 60
são obesos e 60 apresentam Índices de Massa Corporal (IMCs) normais.
"Procuramos adolescentes nessa faixa etária porque é quando o cérebro
ainda não sofreu alterações resultantes da obesidade. Assim, conseguimos mapear
as principais alterações que ocorrem no cérebro de adolescentes
obesos", explica o Dr. Ricardo Riyoiti Uchida, psiquiatra coordenador da
pesquisa e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
Paulo, que trabalha neste estudo com a Prof.ª Dra. Cristiane Kochi, do
Departamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo.
Em
análise preliminar de imagens de ressonância magnética cerebrais
demonstrou-se um aumento de córtex órbitofrontal em adolescentes obesos. E
este aumento é proporcional a escalas de avaliação de dependência
alimentar. Esta mesma região já foi envolvida em estudos anteriores com aumento
da valência de prazer diante de alimentos saborosos em pessoas obesas. "Vimos
essa alteração no cérebro de adolescentes obesos e, ao mesmo
tempo, notamos que outra região do cérebro havia sido afetada, que é o
córtex dorso lateral pré-frontal. Esta parte do cérebro é responsável pelo
nosso controle de impulsos. Em adolescentes obesos, identificamos uma
diminuição volumétrica nesta região. Em conjunto, estes dados sugerem maior
prazer e menos controle dos impulsos diante da comida", afirma o Dr.
Uchida.
O
pesquisador explica que alteração similar é notada também em dependentes
de drogas, álcool e jogos. Ainda segundo o Dr. Uchida, a dependência é assim
definida quando se encaixa em alguns fatores: o consumo de porções cada vez
maiores para obtenção de prazer, falta de controle nos impulsos e período de
abstinência, que é quando a pessoa não obtém a fonte de prazer e é acometida
por uma grande incômodo.
Dessa
forma, com base nos resultados prévios da pesquisa,
adolescentes obesos enfrentam esses problemas e podem
chegar à obesidade por dependência de alimentos altamente calóricos,
os chamados "trash foods".
"São comidas bastante prazerosas e que estão bastante ligadas a
fatores psicológicos", comenta o professor. "O sentimento de
recompensa atrelado ao hábito de comer faz com que a pessoa obesa perca o
controle no impulso pela comida. Então, ela se sente muito melhor quando
consome esse tipo de alimento e consome porções cada vez maiores. E é
exatamente este hábito que preocupa e traz sérios danos à
saúde", completa.
A
pesquisa, que está em análise, deve ser finalizada em aproximadamente um
ano. "Precisamos ainda de 25 adolescentes com IMCs normais para dar
andamento ao estudo, pois pretendemos estabelecer as diferenças estruturais na
morfologia cerebral como indicativo de operações funcionais em regiões que
regulam o apetite e o controle de impulso em adolescentes obesos",
finaliza Dr. Uchida.
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