Por que vocês continuam atirando em nós?
Repúdio à morte de jovens nas periferias da capital reúne coletivos da Zona Norte de São Paulo em evento, na semana em que a morte do adolescente Douglas Rodrigues completa dois anos
No próximo dia 31 de outubro, inúmeras organizações da sociedade civil participarão de um ato de repúdio à violência policial contra jovens da periferia. Marcado para acontecer no bairro Vila Medeiros, o evento vai reunir a população local em uma caminhada e, depois, na rua Bacurizinho, onde o adolescente Douglas Rodrigues morava, acontecerá a apresentação do espetáculo de teatro fórum EmQuadros: Diálogos para uma juventude viva, além de shows e outras atividades artísticas. A peça busca problematizar as relações entre a polícia e a população jovem em situação de vulnerabilidade social. A pesquisa partiu do caso de Douglas Rodrigues, morto durante uma batida policial em 2013. O Teatro Fórum propõe um diálogo cênico onde o público é incentivado a propor alternativas para transformar o conflito apresentado, como em um exercício de ensaio para a vida real. O evento privilegia o diálogo sobre direitos humanos, prevenção da violência e defende o fim do genocídio nas periferias. O ato é organizado pelo Instituto Mudança de Cena, Casa do Meio do Mundo, Centro Cultural da Juventude, Centro Cultural da Vila Guilherme, Jornalistas livres e Arrua, com a participação das secretarias municipais de Cultura e Direitos Humanos.
Caso Douglas Rodrigues Atingido no peito pelo tiro do policial Luciano Pinheiro, enquanto caminhava pela rua Bacurizinho, na Vila Medeiros (zona norte de São Paulo) num final de tarde de domingo, Douglas, ferido, disse: “Por que o senhor atirou em mim?”. Segundo a advogada Renata Porcel, responsável pelo caso, a partir do Boletim de Ocorrência realizado em 27 de outubro de 2013, foi instaurando um inquérito policial militar e, em 20 março de 2014, aconteceu uma reconstituição dos fatos. A Promotoria de Justiça Militar entendeu que a atuação do PM foi “inadequada”. Assim, considerou que era crime não militar, e o caso foi enviado para a justiça comum, em maio de 2015. Em agosto deste ano, o juiz responsável pelo caso pediu complementação do laudo pericial (com prazo de 60 dias), com perguntas sobre a cena e a arma. O policial Luciano Pinheiro foi exonerado e responde em liberdade. “Se a Justiça Militar diz que não é de sua competência esse julgamento, e envia para a justiça comum, entendemos que não é culposo, mas doloso, e deveria ir a júri popular”, diz a advogada.
A ação movida pela família contra o estado foi julgada procedente, mas o estado recorreu e o julgamento está sendo aguardado. O inquérito (processo crime) que pede a condenação do policial ainda está inconcluso. A busca por informações a respeito dos processos que envolvem a morte do filho Douglas tornou-se rotina na vida de Rossana Martins, 46 anos. “Preciso saber o que acontece, mas ninguém dá qualquer previsão e essa demora é angustiante. Não é só sentimento de mãe, porque vemos isso acontecer todos os dias, vejo essa violência se repetir”, diz.
31 de outubro de 2015
14h Cortejo: concentração: Escola Estadual Victor dos Santos Cunha, Av. João Simão de Castro, 280
16h Teatro Fórum: apresentação de EmQuadros/Mudança de Cena, Rua Bacurizinho
17h Roda de conversa: Rossana (mãe do Douglas), Eduardo Suplicy (SMDHC), Laercio Benko Lopes (advogado do caso Douglas)
18h Shows , Grafitti, Stencil
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