Ora, como assim,
você não percebeu que estamos todos numa pista dando cambalhotas, rodando no
chão, pulando alto, passinho pra frente, dois pra trás, voleios e malabarismos?
Que de passinho em passinho continuamos embalados ao ritmo de uma dancinha que
por vezes chega até a ser bem macabra, toda desconjuntada?
É assim: quando a gente acha que está indo, não vai, volta.
Escuta que a inflação está controlada e vai péquipéquipéqui (som dos passos) ao
mercado ou na feira e pula a cada produto que vai verificar o preço. Aquele da
semana passada aumentou, e sempre haverá um álibi que darão para explicar, a
safra, o tempo, o transporte e agora até o perigo do roubo de cargas,
contratação de seguranças. Tudo é a gente que paga, porque somos legais e não
queremos que ninguém mais tenha prejuízo, não é mesmo?
Aí saltitamos correndo para procurar alguma seção de ofertas que
ultimamente até que estamos tendo colher de chá com produtos quase vencidos. Os
cotovelos se movem para tirar as outras pessoas do caminho e tentar resgatar
algo para levar para casa. Senão, dançamos miudinho. Mais ainda.
Rebolamos. Rebolamos para driblar os boletos malditos que –
incrível – conseguem sempre atravessar ruas, avenidas e cidades para chegar em
dia, naquela coreografia que acompanha o som do papel entrando debaixo da
porta, ou na caixa de Correios, que pra isso funciona que é uma beleza. Já os
pagamentos, os depósitos no banco, as transferências, o atendimento às nossas
urgências, esses chegam ao ritmo de valsa, pura valsa. Rodam, rodam até a gente
ficar tonto e parar de importuná-los.
Sabemos onde o sapato aperta. Mas não conseguimos tirar as unhas
encravadas que estão doendo tanto enquanto estão no poder. Batemos palmas para
alertar aos amigos sobre os erros que incorrem em acreditar nos cantores
boquirrotos do mal, que querem repetir a tragédia desoladora que já vivemos
anos atrás. Ou melhor, que, grande maioria desinformados, pensam em entrar numa
roda de dança perigosa, como se brincadeira fosse jogar o destino nas mãos de
péssimos coreógrafos. Alguns, no momento, até com os seus passos totalmente
bloqueados ou vigiados.
Como se precisasse, ou se ainda havia os que duvidavam, agora
surgem documentos que provam para o mundo o horror que durante 21 anos acabou
com a nossa alegria e espontaneidade, levando muitos de nossos competidores,
fazendo-os desaparecem como num passe de mágica errado, que mata o coelho e a
pombinha branca. Nada, no entanto, que ainda impeça uma besta fera que tira a e
veste farda a seu bel-prazer de dizer que isso tudo foi apenas um “tapa no
bumbum”. E o outro de verdinho que diz que foi tudo mentira. Eles têm de dançar
um dia, e para fora de nossos salões.
Precisamos afinar nossas violas e aprender com os repentes a
elaborar improvisos cantados nas violas que nos motivem a dançar mais juntos.
Com os pés no chão. Conscientes que nossa criatividade pode ser um grande
sucesso e que o tempo urge que nos apressemos nos acordes dessa ciranda.
Na nossa dancinha misturaremos os ritmos, para evitar marchas
que até agora só mancharam nossa história.
Será hora de combatermos certo nacionalismo bobo que tenta se
infiltrar, espalhando a nossa bandeira como se ela fosse enfeite em avenidas,
pontes, viadutos. E agora usada numa versão oficial de propaganda de governo
que é de doer profundamente: Ordem
é Progresso. É o quê? Que ordem? Quem é que ordena e quem é
que ordenará nossos passos? A que custo? O que é essa ordem? Como se
fôssemos carneirinhos alinhados lado a lado, quando tudo o que queremos é saltar nos sonhos de
todos.
Marli Gonçalves, jornalista – Acostumada
a dançar conforme a música. Implorando que ela seja boa de ouvir e seguir.
marli@brickmann.com.br; marligo@uol.com.br
Brasil, 2018